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Dividendos: Como fazer para ter esse dinheiro pingando sempre na sua conta

Mulher comemora chuva de dinheiro - Getty Images/iStockphoto
Mulher comemora chuva de dinheiro Imagem: Getty Images/iStockphoto

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/08/2022 11h00

Quando a Petrobras (PETR4 e PETR3) anunciou no final de julho que ia pagar R$ 87,8 bilhões em dividendos, sendo R$ 6,73 por ação, houve uma corrida pelos ativos da empresa, que disparam 7% em um mesmo dia. Hoje, ela é a empresa que mais paga dividendos no mundo.

Mas como é que funciona a distribuição de dividendos? Eles são diferentes, por exemplo, de uma participação nos lucros e resultados que o funcionário de uma empresa recebe. Eles não são apenas um bônus que o acionista ganha.

Para entender como são feitos a distribuição e o pagamento de dividendos, consultamos dois especialistas no assunto: Orleans Martins, chefe do TC LABs, da consultoria TC Economatica, e Daniel Alves, economista da Nid Consultoria. Tire suas dúvidas.

O que são dividendos? Quando uma empresa de capital aberto tem lucro, ela pode distribuir parte desse ganho com seus acionistas: são os dividendos. A média brasileira é de distribuir 25% dos lucros líquidos, diz Alves.

E por que as empresas decidem dividir o lucro? A companhia ganha ao distribuir dividendos de pelo menos de duas formas: atraindo mais acionistas e enxugando sua gestão.

"Com menos dinheiro em caixa, os gestores precisam tomar decisões mais bem pensadas", explica Martins, que faz um paralelo com o orçamento doméstico: se na casa está sobrando dinheiro, a família gasta mais. Mas se a grana está curta, ela pensa melhor na hora de fazer suas contas para não jogar dinheiro fora.

Quem pode receber? Quem tem as ações da empresa. Geralmente, a companhia estabelece uma data limite para a posse - chamada "data com". No caso da Petrobras, recebeu dividendo da estatal o acionista que tinha o ativo da petroleira até 11 de agosto. Esse pagamento pode ser feito em uma única parcela ou em mais vezes.

Quanto o acionista recebe? Ele recebe um valor por ação - quanto mais ações o acionista tem, mais ele recebe.

Mas há um ponto de atenção: o dividendo é descontado do valor das ações da empresa. Se uma empresa tem ações que valem, por exemplo, R$ 10, e ela anuncia que vai pagar R$ 1 de dividendo por ação até a data limite, hipoteticamente daqui 15 dias, depois desse período o dividendo é descontado do preço dos papéis.

Se em 15 dias eles tiverem valorizado para R$ 10,80, vão passar a valer R$ 9,80 (o valor da ação menos o dividendo). Caso tenham caído para R$ 8, passarão a valer R$ 7.

Então o investidor sai perdendo? Não. Tenham as ações se valorizado ou não, o investidor vai ficar, no fim das contas, com a ação que já tinha, mais o dividendo em dinheiro, depositado na conta de sua corretora sem desconto de impostos.

No caso da Petrobras, a estatal anunciou o pagamento de dividendos no dia 28 de julho após o fechamento do mercado. Sua data limite era o dia 11 de agosto. No dia 28, PETR4 fechou o pregão valendo R$ 32,29.

Desse dia até a data, a ação subiu 12% e passou a custar R$ 36,25. No dia dia 12 de agosto, foram descontados os dividendos (R$ 6,73) da cotação do dia anterior, o que fez a ação valer R$ 29,52 no início do pregão. Mas logo a ação recuperou parte do seu valor e, nesse mesmo dia, o papel fechou a R$ 31,71.

Por que a ação perde valor? Porque o caixa da empresa diminuiu. "As ações, simplificadamente, são lastreadas no caixa da empresa", diz Alves. Se, usando novamente o exemplo da Petrobras, a empresa está pagando R$ 87,8 bilhões em dividendos, esse valor está sendo tirado de seu caixa. Por isso é subtraído de cada ação o valor do dividendo.

Então, qual é vantagem de receber dividendos? Acrescentando de um lado e tirando de outro, parece que o acionista não ganha nada, não é? Mas há uma vantagem. O valor correspondente ao dividendo cai na conta do acionista. É como se ele tivesse vendido parte de seu investimento e recebido o dinheiro, mas ele continua com a totalidade das ações que tinha em sua carteira. E, diferentemente do que aconteceria na venda da ação, ele não paga impostos sobre o valor ganho.

"É uma mudança de 'status' do seu investimento. Parte dele deixa de ser algo de risco, como é uma ação, e se materializa em dinheiro, sem desconto de imposto de renda", diz Martins.

Vamos a um outro exemplo: você tem mil ações de uma empresa que valem R$ 10 mil ao todo (R$ 10 cada). Essa empresa anuncia hoje pagamento de dividendos de R$ 1 por ação daqui a duas semanas. Você vai receber R$ 1.000 em dinheiro na sua conta e continuará com as mesmas mil ações, só que valendo R$ 1 real a menos cada uma. No fim das contas, você terá R$ 1 mil no bolso e as mesmas mil ações, no valor de R$ 9 mil, que poderão continuar rendendo.

"Eu gosto de comparar com uma galinha", diz Martins. As ações são a galinha. Pela manhã, você pesa a galinha e ela tem 1 quilo. À tarde ela bota 3 ovos e você a pesa novamente: a galinha está pesando agora 900 gramas. Você ainda tem a galinha, mas agora tem três ovos também.

A real vantagem está na eliminação do risco - que é inerente às ações - e no não pagamento de impostos, explica Martins.

Veja o que aconteceu com o investidor que tinha ações da empresa de resseguros IRB Brasil (IRBR3) antes de 2020, por exemplo. Os papéis, que no final de 2019 valiam cerca de R$ 100, caíram para R$ 2 agora, por conta de indícios de má gestão. "Quem recebeu dividendos da empresa quando ela dava lucro recuperou parte do investimento e não sofreu toda essa perda", diz Martins.

Como é feito o pagamento? Algumas empresas pagam os dividendos de uma vez só outras dividem em algumas parcelas. O dinheiro é depositado em sua conta na corretora em que você negocia suas ações. Para usar esse dinheiro, você precisa entrar na plataforma de seu banco ou corretora e dar o comando de transferência para sua conta corrente.

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