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Crise das Americanas pode afetar ações de bancos: o que fazer?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/02/2023 15h30

A crise das Americanas (AMER3) pegou os bancos de jeito, e o Bradesco (BBDC4 e BBDC3) atestou isso ontem.

No relatório de resultados, divulgado na quinta-feira (9) após o fechamento do mercado, o banco fez uma provisão extra de 4,9 bilhões de reais para cobrir um possível calote de um cliente do Atacado. O banco não menciona nomes, mas analistas acreditam se tratar das Americanas, em recuperação judicial com dívidas que passam de R$ 40 bilhões.

Itaú, Bradesco e Santander, que também já divulgaram resultados, emprestaram, juntos R$ 11,4 bilhões à varejista e, por isso, guardaram R$ 7,2 bilhões para lidar com um possível não-pagamento.

Como as Americanas afetaram o Bradesco?

As provisões do Bradesco deram um salto para R$ 14,88 bilhões no trimestre, mais de quatro vezes o total do quarto trimestre de 2021. Esse é um dinheiro que bancos separaram como uma espécie de poupança para se preparar no caso de não receber o que era devido, seja de clientes pessoas física, seja de grandes empresas.

Essa provisão levou o Bradesco a registrar uma queda do lucro no período. O segundo maior banco privado do país anunciou nesta quinta-feira que seu lucro de outubro a dezembro de 2022 somou R$ 1,6 bilhão, queda de 75,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

O provisionamento dessa dívida é fator de grande contribuição para os resultados fracos dos bancos esse trimestre.
Régis Chinchila da equipe de análise da Terra Investimentos

Isso gera um efeito negativo sobre o lucro das empresas de modo geral. Ele reduz a lucratividade e a rentabilidade dos bancos.
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos

No entanto, BTG analisou que o problema do Bradesco não vem só dos empréstimos que fez para a Americanas. "Não é só a Americanas. O poder de gerar lucro se deteriorou muito", publicou o BTG. "O baixo desempenho vai muito além desse caso específico", declarou o banco.

Outro problema do Bradesco é a inadimplência. Mesmo desconsiderando o caso da varejista, os empréstimos com atraso superior a 90 dias do Bradesco subiram 1,5 ponto porcentual em 2022, passando de 2,8% da carteira total ao final de 2021 para 4,3%.

Com isso, os papéis do Bradesco estavam em queda hoje, 10. Ao meio dia, as ações BBDC4 caíam 7,39% para R$ 12,78 e as BBDC3 tinham queda de 6,08%, para R$ 11,59.

Que outros bancos podem ser afetados?

Outros bancos já vinham tendo problemas com dívidas não pagas no ano passado. Então, a crise da varejista aumenta mais um rombo que já existia.

As Americanas eram consideradas com boa classificação de crédito, pois apresentavam uma dívida razoável (já que escondiam no balanço o valor real de seus débitos com fornecedores).

As Americanas divulgaram uma lista de bancos credores, entre eles: Itaú (ITUB3), Bradesco, Santander (SAMB11), BTG Pactual (BPAC11) e Daycoval (DAYC4). Muitos já fizeram suas provisões para pagamentos duvidosos.

O Itaú, no entanto, é um banco menos impactado pelas Americanas. O Itaú apresentou bons resultados de lucro, aumento da margem de lucro e qualidade de crédito sob controle, apesar do impacto negativo das provisões para as Americanas, diz o Safra. O lucro anual de R$ 30,786 bilhões do Itaú fez o banco ter o melhor desempenho do setor.

O Banco do Brasil (BBAS4) divulga seus resultados nesta sexta-feira 10, depois do fechamento do mercado.

O que acontecerá com as ações dos bancos?

Como essa provisão maior para dívidas já era esperado pelo mercado, as ações de bancos foram se desvalorizando nas últimas semanas.

Nos últimos 30 dias, por exemplo, a ação do Itaú já caiu 1,52%, para R$ 22,03.

Com o Bradesco foi pior. O papel BBDC4 já desvalorizou 15% e BBDC3 caiu 11,60% no mesmo intervalo.

Por isso, alguns analistas acham que o estrago já foi feito e que o caso das Americanas já cobrou seu preço dos bancos.

E o que fazer com as ações?

Para o BTG, no caso específico do Bradesco, a recomendação é neutra: não comprar, nem vender.

Em relação ao Itaú, o maior banco do país, o Safra ainda põe a mão no fogo e recomenda a compra. O preço alvo é de R$ 36 - hoje a ação custa R$ 25,52.

A Genial acha melhor o investidor vender as ações do Santander.

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