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Hamon e Valls: duas visões econômicas opostas nas primárias socialistas francesas

24/01/2017 18h20

Paris, 24 Jan 2017 (AFP) - Os finalistas das primárias socialistas na França encarnam duas visões antagônicas da economia: o social-liberal Manuel Valls versus Benoît Hamon, um "rebelde" ansioso por romper com a política de François Hollande.

Desde a noite do primeiro turno das primárias, Manuel Valls marcou o tom, afirmando que os eleitores terão que decidir entre as "promessas irrealizáveis" e impossíveis de financiar, segundo ele, de seu rival, e "uma esquerda confiável", ou seja, a sua.

Mas Benoît Hamon, um 'outsider' que ficou na liderança no primeiro turno da votação, negou que seu programa seja utópico.

O ex-premiê e seu efêmero ministro da Educação (com menos de cinco meses no cargo) se opõem em tudo ou quase todo no que diz respeito à economia, da proposta de renda básica universal de Hamon à tributação de empresas, a redução do déficit público ou as jornadas de trabalho.

"Nas primárias de direita, tínhamos duas matizes do liberalismo entre François Fillon e Alain Juppé, enquanto aqui temos uma oposição muito mais clara", resumiu Emmanuel Jessua, do Instituto Coe-Rexecode, entrevistado pela AFP.

Segundo o economista, "Manuel Valls preserva a orientação política do quinquênio" de Hollande, enquanto "Benoît Hamon se centra em uma crítica desta política governamental".

Benoît Hamon quer elevar em 10% o salário mínimo e promover uma redução suplementar da jornada de trabalho, abolir a reforma trabalhista impulsionada por Hollande e que o código do trabalho seja privilegiado sobre acordos coletivos ou empresariais.

Outra medida prioritária de Hollande questionada por Hamon são as vantagens fiscais acordadas com empresas. O candidato propõe atribuir os créditos de impostos a empresas que respeitarem os objetivos em termos de emprego, meio ambiente e redução da jornada de trabalho.

Além disso, o novo favorito das primárias pretende se liberar das regras orçamentárias europeias que limitam o déficit público para 3% do Produto Interno Bruto, um objetivo que considera inatingível "desde o momento em que tenha que fazer investimentos importantes".

Utópico?Uma série de medidas completamente opostas às de Manuel Valls, que quer "manter o déficit justo abaixo da barreira dos 3%" sem "buscar reduzi-lo mais". Além disso, defende um corte de gastos para as empresas e considera que a lei do trabalho é "um avanço" para os trabalhadores.

O principal ponto de discórdia entre os candidatos consiste na renda básica universal, a principal proposta de Hamon.

Valls considera que a medida terá um enorme custo e promete um mínimo decente de uns 800 euros por mês, que só seriam pagos àqueles cuja renda não alcance esta quantia.

Segundo cálculos do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), a renda básica universal custaria cerca de 500 bilhões de euros por ano, ou seja, 22 pontos do PIB.

"Provavelmente, não tenhamos margem para aumentar as retenções fiscais" nesta proporção, avalia Emmanuel Jessua, da Coe-Rexecode.

Atrás desta proposta "está a ideia de que jogamos a toalha diante do desemprego em massa", avalia. A opinião é compartilhada por Alain Trannoy, da Escola de Estudos Superiores de Ciências Sociais (EHESS) de Paris, para quem "Benoît Hamon se situa na lógica de compartilhar o trabalho" e não de "criar empregos".

"O projeto que defendo é um projeto de longo prazo", reage Hamon, que pensa financiar parte de suas medidas com a criação de um imposto sobre os robôs que substituem os trabalhadores.

"O que é interessante em Hamon é que, por fim, faz perguntas que incomodam: o que faríamos se o crescimento não voltar? Podemos ter emprego e bons empregos com menos crescimento?", julga a socióloga Dominque Méda.

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