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Bagdá corta conexões aéreas do Curdistão iraquiano com o exterior

29/09/2017 18h06

Erbil, Iraque, 29 Set 2017 (AFP) - O tráfego aéreo partindo ou chegando ao Curdistão Iraquiano foi encerrado nesta sexta-feira, por ordem de Bagdá para forçar a região autônoma a anular o referendo sobre sua independência.

Os Estados Unidos reagiram nesta sexta-feira anunciando que não vão reconhecer o referendo e pediram diálogo às partes.

"A votação e os resultados carecem de legitimidade e nós continuaremos apoiando um Iraque unido, federal, democrático e próspero", disse o secretário de Estado, Rex Tillerson.

Na parte da manhã, muitos estrangeiros correram para os aeroportos de Erbil e de Suleimaniyeh, poucas horas antes da interrupção dos voos internacionais, que aconteceu às 18h00 (12h00 de Brasília), uma hora antes do limite estabelecido por Bagdá.

As últimas aeronaves rumo ao exterior decolaram à tarde destes aeroportos, onde alguns passageiros pagaram preço de ouro por um dos últimos bilhetes.

Uma aeronave da Turkish Airlines foi a última a decolar de Erbil, rumo a Istambul, e um avião da Iraqi Airways partiu de Suleimaniyeh, em direção a Dubai.

A suspensão do tráfego internacional não vai afetar os voos humanitários, militares e diplomáticos, segundo afirmou a diretora do aeroporto internacional de Erbil, Talar Faiq Saleh.

"A suspensão dos voos entrou em vigor oficialmente", declarou à AFP o ministro dos Transportes da região autônoma, Mawloud Bawa Murad, presente no aeroporto de Erbil.

"Haverá um impacto negativo em (o setor de) os negócios internacionais no Curdistão, assim como nos civis de todas as nações".

"Faremos o máximo possível para encontrar uma alternativa viável ou para restabelecer os voos internacionais", acrescentou.

"A Aviação Civil suspendeu os voos internacionais em Erbil e Suleimaniyeh para impor a autoridade federal nesses aeroportos", indicou o ministério iraquiano dos Transportes.

"Os voos domésticos continuam para servir aos interesses dos cidadãos desta região", acrescentou.

Um voo da Iraqi Airways, com destino a Bagdá, saiu de Erbil às 19h00 (13h00 de Brasília), constatou um jornalista da AFP.

- "Nenhuma negociação" -A proibição foi imposta pelo primeiro-ministro iraquiano, Haider al Abadi, como reação à votação maciça a favor do sim no referendo de independência celebrado na segunda-feira, iniciado pelo presidente da região autônoma do Curdistão, Masud Barzani.

Abadi assegurou que não se tratava de "um castigo, mas de uma medida legal aprovada pelo Conselho de ministros"..

"O controle do governo dos postos fronteiriços terrestres e dos aeroportos do Curdistão não têm como objetivo deixar o povo faminto, mas lutar contra a corrupção", prosseguiu.

"Os voos internacionais serão retomados na região [do Curdistão] se a autoridade dos transportes for transferida" ao poder central, como prevê a Constituição, segundo o premiê.

As autoridades curdas tentaram acalmar o ambiente, alegando que não vão proclamar de forma sistemática a independência, mas Bagdá exclui qualquer diálogo.

"Não há nenhuma negociação, nem oficial, nem secreta, com as autoridades curdas. E não haverá até que não declarem os resultados do referendo caducos e entreguem às autoridades de Bagdá seus postos fronteiriços, seus aeroportos e suas regiões disputadas", disse um alto funcionário iraquiano.

- Volta ao Brasil adiada -No aeroporto de Suleimaniyeh, "há uma multidão há dois dias. Os que partem são estrangeiros, árabes e curdos de outra nacionalidade", afirmou à AFP Dana Mohamad Said, porta-voz do aeroporto.

"Os que chegam são curdos que estavam no exterior a negócios ou turismo. Retornam de forma precipitada para evitar" ficar bloqueados no exterior, disse.

"Tínhamos que voltar para o Brasil no sábado, mas tivemos que mudar nosso voo", contou à AFP em Erbil o vereador licenciado de Nova Guarita (MT), Isidoro Junior (PSDB), que trabalhou como voluntário em um campo de refugiados iraquianos.

"Somos um grupo de 16 pessoas, foi bastante difícil encontrar as passagens. Um dos nossos chegou aqui às 02H00 para garantir que poderíamos ir", explica este voluntário de 32 anos.

No balcão da companhia turca, uma viagem de ida a Istambul custava 743 dólares. Mas os que compraram a passagem online pagaram muito mais.

"Reservei meu voo online há duas horas (...) Custou 1.500 dólares!" exclamou um passageiro britânico, que não quis dar seu sobrenome. "Além disso, me fizeram pagar duas vezes por engano. São 3.000 dólares por uma passagem de ida a Istambul".

Os estrangeiros chegam ao Curdistão com visto expedido pelas autoridades curdas, não reconhecido por Bagdá. Por isso, não conseguem viajar a outras partes do Iraque.

As autoridades curdas denunciaram esta suspensão dos voos internacionais como um "castigo coletivo".