Tunísia lembra sétimo aniversário de sua revolução em clima tenso
Tunes, 14 Jan 2018 (AFP) - Após uma semana de confrontos sociais, os tunisianos marcaram neste domingo (14) o sétimo aniversário de sua revolução, alguns exprimindo orgulho e outros ainda com raiva diante da persistência das mesmas mazelas - pobreza, desemprego e corrupção - que levaram à queda da ditadura.
Sob forte esquema de segurança, centenas de partidários de diferentes movimentos foram à avenida Habib Burguiba, epicentro da contestação de janeiro de 2011, marcar o aniversário da revolta que causou a queda de Zine el Abidine Ben Ali após 23 anos de poder.
Membros do coletivo cidadão "Manich Msamah" ("Eu não perdoarei") desfilaram exibindo fotos de mártires da revolução, enquanto jovens manifestantes pediam emprego. Partidos políticos instalaram estandes.
A revolução "é a melhor coisa que poderia ter acontecido, apesar das dificuldades. Enquanto houver pessoas (que acreditam nela), haverá esperança", afirmou Mohamed Wajdi, jovem tunisiano que participou das comemorações.
Apesar de terem decorrido sem incidentes, o descontentamento social ficou marcado no único país sobrevivente da Primavera Árabe.
Sete anos após a partida de Ben Ali, que vive no exílio na Arábia Saudita, muitos tunisianos acreditam que ganharam liberdade, mas perderam em padrão de vida.
Apesar do sucesso relativo de sua transição democrática, a Tunísia não se livrou da morosidade econômica e social. Durante a semana passada, protestos pacíficos e distúrbios noturnos abalaram várias cidades.
- Cesto vazio -Alimentado por um desemprego persistente (de 15%, segundo dados oficiais), o descontentamento social tem sido exacerbado pelos aumentos de impostos previstos para 2018, abocanhando um poder de compra que também é afetado pelo aumento da inflação (mais de 6% no final de 2017).
Os manifestantes exigem a revisão do orçamento votado em dezembro, mas também uma luta mais efetiva contra a corrupção.
Em frente à sede do poderoso sindicato UGTT, mil pessoas começavam a se manifestar esta manhã, como Fued El Arbi, que exibia uma cesta vazia com a menção "2018".
"Esta cesta vazia resume a nossa situação medíocre sete anos após a revolução", criticou este professor de filosofia.
O UGTT convocou uma passeata no centro da cidade, assim como a Frente Popular (oposição).
O partido esquerdista foi acusado pelo primeiro-ministro Yussef Chahed de ser responsável pela agitação dos últimos dias, quando cerca de 803 pessoas suspeitas de violência, roubos e saques foram presas, de acordo com o Ministério do Interior.
O presidente Beji Caid Essebsi decidiu marcar o aniversário visitando o bairro de Ettadhamen, na periferia de Túnis, onde ocorreram confrontos entre jovens manifestantes e as forças de segurança na semana passada. Ele deve inaugurar um centro juvenil.
- 'Livres, mas com fome' -A revolução tunisiana foi desencadeada pela autoimolação, em 17 de dezembro de 2010, em Sidi Buzid - cidade no interior do país - do vendedor Mohamed Buazizi, desesperado com a pobreza e a humilhação da polícia.
Sob pressão popular, o presidente Ben Ali fugiu do país em 14 de janeiro. O levante fez 338 mortos.
Para a cientista política Olfa Lamloum, a agitação social dos últimos dias "revela uma raiva carregada pelas mesmas (pessoas) que se mobilizaram em 2011 e não conseguiram nada".
"Faz sete anos que não vemos nada entrar. Temos a liberdade, é verdade, mas estamos com mais fome do que antes", resumiu à AFP Walid, um desempregado de 38 anos em Teburba, perto de Túnis.
O movimento social foi lançado no início de janeiro sob o lema "Fech Nestannew" ("O que estamos esperando?"), cujos instigadores exigem mais justiça social em resposta aos aumentos de impostos decididos no novo orçamento.
Em dificuldade financeira, especialmente após a crise no setor turístico ligada a uma série de ataques jihadistas em 2015, a Tunísia obteve em 2016 um empréstimo de 2,4 bilhões de euros ao longo de quatro anos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca, comprometeu-se a reduzir seu déficit público e reformas econômicas.
O presidente Essebsi, que se reuniu no sábado com líderes de partidos governamentais, empregadores e UGTT, reconheceu que o clima social e o clima político não eram "bons". À noite, o governo prometeu um plano de ação que deveria atingir mais de 120 mil beneficiários.
bur-cnp-kl/mer/gk/mr/ll
Sob forte esquema de segurança, centenas de partidários de diferentes movimentos foram à avenida Habib Burguiba, epicentro da contestação de janeiro de 2011, marcar o aniversário da revolta que causou a queda de Zine el Abidine Ben Ali após 23 anos de poder.
Membros do coletivo cidadão "Manich Msamah" ("Eu não perdoarei") desfilaram exibindo fotos de mártires da revolução, enquanto jovens manifestantes pediam emprego. Partidos políticos instalaram estandes.
A revolução "é a melhor coisa que poderia ter acontecido, apesar das dificuldades. Enquanto houver pessoas (que acreditam nela), haverá esperança", afirmou Mohamed Wajdi, jovem tunisiano que participou das comemorações.
Apesar de terem decorrido sem incidentes, o descontentamento social ficou marcado no único país sobrevivente da Primavera Árabe.
Sete anos após a partida de Ben Ali, que vive no exílio na Arábia Saudita, muitos tunisianos acreditam que ganharam liberdade, mas perderam em padrão de vida.
Apesar do sucesso relativo de sua transição democrática, a Tunísia não se livrou da morosidade econômica e social. Durante a semana passada, protestos pacíficos e distúrbios noturnos abalaram várias cidades.
- Cesto vazio -Alimentado por um desemprego persistente (de 15%, segundo dados oficiais), o descontentamento social tem sido exacerbado pelos aumentos de impostos previstos para 2018, abocanhando um poder de compra que também é afetado pelo aumento da inflação (mais de 6% no final de 2017).
Os manifestantes exigem a revisão do orçamento votado em dezembro, mas também uma luta mais efetiva contra a corrupção.
Em frente à sede do poderoso sindicato UGTT, mil pessoas começavam a se manifestar esta manhã, como Fued El Arbi, que exibia uma cesta vazia com a menção "2018".
"Esta cesta vazia resume a nossa situação medíocre sete anos após a revolução", criticou este professor de filosofia.
O UGTT convocou uma passeata no centro da cidade, assim como a Frente Popular (oposição).
O partido esquerdista foi acusado pelo primeiro-ministro Yussef Chahed de ser responsável pela agitação dos últimos dias, quando cerca de 803 pessoas suspeitas de violência, roubos e saques foram presas, de acordo com o Ministério do Interior.
O presidente Beji Caid Essebsi decidiu marcar o aniversário visitando o bairro de Ettadhamen, na periferia de Túnis, onde ocorreram confrontos entre jovens manifestantes e as forças de segurança na semana passada. Ele deve inaugurar um centro juvenil.
- 'Livres, mas com fome' -A revolução tunisiana foi desencadeada pela autoimolação, em 17 de dezembro de 2010, em Sidi Buzid - cidade no interior do país - do vendedor Mohamed Buazizi, desesperado com a pobreza e a humilhação da polícia.
Sob pressão popular, o presidente Ben Ali fugiu do país em 14 de janeiro. O levante fez 338 mortos.
Para a cientista política Olfa Lamloum, a agitação social dos últimos dias "revela uma raiva carregada pelas mesmas (pessoas) que se mobilizaram em 2011 e não conseguiram nada".
"Faz sete anos que não vemos nada entrar. Temos a liberdade, é verdade, mas estamos com mais fome do que antes", resumiu à AFP Walid, um desempregado de 38 anos em Teburba, perto de Túnis.
O movimento social foi lançado no início de janeiro sob o lema "Fech Nestannew" ("O que estamos esperando?"), cujos instigadores exigem mais justiça social em resposta aos aumentos de impostos decididos no novo orçamento.
Em dificuldade financeira, especialmente após a crise no setor turístico ligada a uma série de ataques jihadistas em 2015, a Tunísia obteve em 2016 um empréstimo de 2,4 bilhões de euros ao longo de quatro anos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca, comprometeu-se a reduzir seu déficit público e reformas econômicas.
O presidente Essebsi, que se reuniu no sábado com líderes de partidos governamentais, empregadores e UGTT, reconheceu que o clima social e o clima político não eram "bons". À noite, o governo prometeu um plano de ação que deveria atingir mais de 120 mil beneficiários.
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