Fake news causam instabilidade no mercado, mas não explicam avanço do dólar
Em meio à instabilidade no mercado financeiro, as chamadas "fake news" (notícias falsas, em inglês) fizeram a cotação do dólar disparar nos últimos dias. Operadores de câmbio admitiram ao UOL que declarações falsas atribuídas a nomes como Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, e Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, causaram instabilidade residual no câmbio, mas não foram a principal causa da desvalorização do real frente ao dólar.
Ao Galípolo, foi atribuída uma fala em defesa da criação de uma moeda para os Brics, o bloco de países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte. A declaração falsa também criticava o dólar.
A AGU (Advocacia-Geral da União) acionou a Polícia Federal e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na quarta-feira (18) para investigar se a fake news prejudicou o desempenho do real frente ao dólar.
"Sabe-se que há relação direta entre a cotação de moeda estrangeira, notadamente o dólar, e os preços dos valores mobiliários negociados em bolsas de valores, tanto que a recente elevação do valor da moeda americana veio acompanhada de queda do montante de valores negociados no mercado de capitais", disse a AGU em comunicado enviado para a PF.
No caso de Ceron, o mercado especulou na quinta-feira (19) sua saída do Tesouro Nacional. A Fazenda, no entanto, rapidamente desmentiu a informação. "O Ministério da Fazenda informa que não procede a informação sobre a saída do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, que segue no comando da pasta subordinada à Fazenda".
Para Roney Albert, head trader de derivativo de câmbio da GWM Investments, as fake news são um problema para o mercado, mas não chegam a representar peso na cotação da moeda.
"As fake news atrapalham bastante, mas de zero a 100%, representam cerca de 10% do valor da moeda. Há uma euforia no primeiro momento, mas só", diz Albert.
"Há uma instabilidade no próprio governo. Os pacotes fiscais anunciados estão gerando muitas dúvidas. Essa desconfiança reflete-se em uma maior aversão ao risco. Por isso há fuga de capitais para um lugar mais seguro", reforça ele.
Desde a última quinta-feira (12), a fim de conter a desvalorização do real, o Banco Central leiloou mais de US$ 20 bilhões. Nesta sexta (20), já foram leiloados US$ 7 bilhões.
Até então, a autarquia estava preferindo não intervir tanto na cotação diária da moeda, preferindo controlar o câmbio por meio de ajustes na taxa básica de juros, a Selic.
Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, concorda com a estratégia atual. "O fator principal de hoje que fez com que a cotação do dólar caísse foi o poder de fogo do Banco Central, que sem dúvida nenhuma, é o principal ator desse mercado. Ele tem condições de reduzir a cotação do dólar para o patamar que ele achar necessário, tanto que ontem ele entrou com um canhão de recursos, recuando o dólar para a casa de R$ 6,12 após bater próximo a R$ 6,30", afirma.
"A gente está passando por um momento mais especulativo que o normal na cotação do câmbio e nas taxas de juros futuros também, mas a gente não pode deixar de lado que há uma razão clara para isso que é a questão fiscal", complementa Viotto.
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