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Entenda como a hiperinflação cria o 'super dinar' e o 'bolívar soberano'

Bolívar supremo entrou em circulação nesta segunda-feira (20) na Venezuela - Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Bolívar supremo entrou em circulação nesta segunda-feira (20) na Venezuela Imagem: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

21/08/2018 16h41

Paris, 21 Ago 2018 (AFP) - Venezuela em 2018 e Zimbábue em 2008 são casos de hiperinflação. A seguir algumas explicações sobre este fenômeno que se traduz em aumento dos preços e no número de zeros nas cédulas.

Como a inflação foge do controle? "Usando a máquina de imprimir dinheiro", responde Nicolas Véron, economista do think tank europeu Bruegel. "Quando um governo fica sem dinheiro é difícil resistir à tentação de usá-la".

A hiperinflação se define como uma alta nos preços de mais de 50% em um mês. Caracteriza-se por um colapso na atividade e na criação da moeda.

"A Venezuela é um caso típico: seu PIB caiu 40% desde 2015, enquanto o governo e o banco central criaram desde o fim de 2017 um excesso de liquidez", explica Philippe Waechter, economista da Ostrum Asset Management. "Então, tem muitíssima liquidez, nada para comprar, e como a moeda perde valor, não se pode importar nada", continua.

A hiperinflação é no geral resultado de um descontrole das contas públicas, em um contexto particular, como um conflito ou uma mudança de regime.

Quais são suas consequências?

A hiperinflação se traduz em racionamentos drásticos, como nos anos 1990 na Iugoslávia, ou em lojas com prateleiras vazias, como na Venezuela de hoje. Na Venezuela, a hiperinflação poderia chegar a 1.000.000% ao final de 2018, segundo o FMI (fundo Monetário Internacional).

O governo emitiu cédulas de valor cada vez maior, até os 100 mil bolívares, antes de estrear na segunda-feira (20) as novas notas, que cortam cinco zeros do bolívar. O país já conhecia bem este fenômeno: há dez anos o Estado venezuelano já tinha cortado três zeros de suas notas com o "bolívar forte". Agora, com cinco zeros a menos, é a vez do "bolívar soberano".

A economia zimbabuana ainda não se ergueu da crise de hiperinflação que viveu em 2008. O governo criou uma cédula de 100 trilhões de dólares zimbabuanos, que dava apenas para comprar um pão. Mas o título de pior hiperinflação da história vai para a Hungria, onde em 1946 os preços podiam dobrar em apenas 15 horas.

Quais são as soluções?

Atualmente, alguns Estados em dificuldades buscam a ajuda do FMI. Mas qualquer que seja a época, a chave do sucesso é restabelecer a confiança.

Em 1923, as imagens de alemães indo comprar pão com cédulas em carrinhos marcaram a história. A inflação na época aumentava até 20% por dia, segundo cifras do Cato Institute. Mas a República de Weimar "assumiu compromissos fortes com seus credores e os cumpriu. Rapidamente, a percepção do país mudou", conta Waechter.

Em janeiro de 1994, a Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) registrou uma inflação de 1.000.000%, segundo cifras oficiais. O governo lançou um programa de reformas e pôs em circulação o "super dinar".

Diante de uma hiperinflação, o poderoso dólar costuma ser visto como um valor de refúgio. "Os jogadores de futebol argentino e de outros países da América Latina pediam, por exemplo, para serem pagos em dólares para conservarem seu poder aquisitivo. Esta prática foi se expandindo", relata Philippe Waechter.