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Washington e Pequim discutem comércio após longo silêncio

22/08/2018 12h20

Washington, 22 Ago 2018 (AFP) - Negociadores americanos e chineses estão mantendo conversações em Washington para tentar deter um ciclo potencialmente devastador de retaliação comercial, mas há pouco otimismo sobre essas negociações.

O vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, deve se reunir nesta quarta e quinta-feira com o subsecretário americano do Tesouro para assuntos internacionais, David Malpass.

Se, em Pequim, há "esperança de obter bons resultados" durante as próximas negociações para impedir a guerra comercial, em Washington, o presidente Donald Trump disse que não "espera muito".

Essa tentativa de reativar as negociações ocorre algumas horas antes da entrada em vigor de uma nova rodada de tarifas sobre as importações de produtos chineses pelo valor de 16 bilhões de dólares.

Esses novos impostos atingirão as motocicletas, tratores, peças para ferrovias, circuitos elétricos, motores e equipamentos agrícolas em particular. Pequim respondeu afirmando que tributaria produtos americanos proporcionalmente.

Essa nova rodada de tarifas aduaneiras afetará um total de 50 bilhões de dólares em produtos chineses, que são taxados em 25% ao entrar nos Estados Unidos.

"Acreditamos que é altamente improvável que algo substancial saia dessas reuniões", afirmou, pouco otimista, Chang Liu, analista da Capital Economics.

"De fato, o presidente Trump solapou as negociações ao dizer a repórteres que não esperava nada dessas negociações e que não pretendia acabar com a disputa comercial com a China", recordou Liu, referindo-se a uma entrevista do presidente americano na segunda-feira.

- "Sem segunda intenção" -O presidente dos Estados Unidos afirmou na terça-feira que não tinha "segunda intenção" para a resolução da disputa alfandegária e defendeu "um horizonte de longo prazo".

Na Bolsa de Nova York, no entanto, os investidores foram levados na terça-feira pela esperança de um alívio das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. O índice S&P 500 atingiu seu nível mais alto durante a sessão.

Mas o otimismo também é alimentado pelas discussões com o México, que avançaram na frente da Alena, o acordo de livre comércio com a Cidade do México e Ottawa.

Segundo o Politico, a Casa Branca até planeja celebrar oficialmente na quinta-feira um "avanço" no redesenho da Alena com os mexicanos, que, no entanto, não deverão participar dessa cerimônia uma vez que esperam que Ottawa se junte às negociações deste acordo trilateral.

Com a China, as negociações desta quarta-feira constituem a primeira reabertura de um diálogo - no entanto, ainda não em nível ministerial. Em junho, o secretário de Comércio Wilbur Ross visitou Pequim. Na ocasião, Washington exigiu que Pequim reduzisse seu excedente comercial em de 200 bilhões de dólares, uma ideia rejeitada.

Os Estados Unidos têm um déficit comercial anual de US$ 335 bilhões com a China. Por serem excedentes na venda de serviços, o déficit de mercadorias é ainda maior, em 375 bilhões de dólares, número que Donald Trump cita com frequência.

O governo americano continua a denunciar "práticas comerciais desleais da China, como transferências forçadas de tecnologia e direitos de propriedade intelectual".

Justificando as novas tarifas, que entrarão em vigor à meia-noite, acusa Pequim de "privar as empresas americanas da capacidade de explorar licenças".

Washington se prepara para ir mais longe nas tarifas punitivas ao taxar até 200 bilhões de dólares em novos produtos chineses.

Para isso, o governo mantém consultas públicas durante toda a semana até segunda-feira com empresários para avaliar a relevância dessas novas sanções tarifárias. Mas enfrenta os protestos de fabricantes americanos.

Enquanto a maioria produz vários de seus componentes na China, eles temem, por causa das tarifas, aumentos de preços que afetariam os consumidores americanos e causariam uma queda nas vendas.