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2018, um ano-chave para o controle de armas nos EUA

30/12/2018 12h41

Washington, 30 dez 2018 (AFP) - Os defensores de uma maior regulação das armas de fogo nos Estados Unidos asseguram: o ano de 2018 marca um ponto de inflexão em sua luta, com a adoção de regras restritivas em muitos estados, inclusive na emblemática Flórida.

Embora reste muito a ser feito, estes ativistas também celebram a eleição em novembro de vários parlamentares e governadores favoráveis a sua causa.

"Em 2018 mudamos o rumo", declarou Shannon Watts, fundadora da organização Moms Demand Action ("Mães pedem ação", em tradução livre), em um artigo de opinião publicado pelo Huffington Post.

Este ano, o movimento pela segurança com relação às armas de fogo "experimentou um movimento tectônico", indicou a organização Giffords, fundada por uma parlamentar que sobreviveu a um tiroteio, em alusão a 67 novas leis restritivas adotadas em 27 estados, tanto republicanos como democratas.

Algumas regras elevam a idade legal para a compra de armas de fogo, outras reforçam o controle dos antecedentes dos compradores. Em outros locais permitem a apreensão das armas de protagonistas de violência doméstica e de pessoas assinaladas como perigosas.

Alguns estados, contudo, aprovaram leis na direção oposta, que incluem permitir o porte de armas em escolas ou lugares de culto (Dakota do Sul), mas "o lobby das armas conseguiu impor menos textos em 2018 do que nos anos anteriores", segundo o grupo Giffords.

A nível federal, por sua vez, apenas uma medida foi adotada: a administração proibiu os "bump stocks", dispositivos que permitem disparar rajadas. E não existe intenção alguma de modificar as medidas relacionadas aos fuzis de assalto.

- Flórida também -Nos Estados Unidos, o porte de armas é um direito garantido pela Constituição, e 30% dos adultos dizem possuir ao menos uma arma de fogo.

A Segunda Emenda à Constituição, que encontra sua origem na história conquistadora dos pioneiros da Europa, não se discute. Mas 57% dos americanos exigem atualmente regras mais estritas para minimizar a quantidade de mortes e feridos por armas. Há um ano, eram 52%.

As armas de fogo causaram mais de 36 mil mortes em 2018. O massacre em uma escola de Ensino Médio em Parkland, na Flórida, no qual morreram 17 pessoas em 14 de fevereiro, causou um choque na sociedade: um milhão e meio de americanos tomaram as ruas para exigir controle das armas, e a súplica de adolescentes traumatizados correu todo o país.

Diante destas pressões, inclusive da Flórida, conhecida por sua flexibilidade na venda de armas, tímidas reformas começaram a ser implementadas. O republicano Rick Scott, então governador, assinou em março uma lei que fixa em 21 anos a idade legal para comprar uma arma de fogo, e impõe um período de três dias entre a compra de uma arma e a sua entrega.

Scott, que foi eleito para o Senado dos Estados Unidos em novembro, não contou com o apoio do poderoso lobby pró-armas, a Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), como em votações anteriores.

- Disputa eleitoral -Durante anos, este lobby investiu milhões de dólares em campanhas eleitorais para assegurar a vitória de seus candidatos, que, uma vez no Congresso, impediam qualquer tentativa de regulação.

Mas outro feito notável deste ano é que as organizações que buscam regular as armas gastaram mais que a NRA.

O poderoso lobby gastou 10 milhões de dólares nas eleições de meio de mandato, contra os 27 milhões de dólares em 2014, segundo seu site.

De forma inversa, o ex-prefeito de Nova York e bilionário Michael Bloomberg deu apoio à causa com fundos de campanha por meio de sua organização "Everytown for gun safety". E o investimento deu frutos: 83% dos 66 candidatos que apoiou, venceram.

As vitórias notórias incluem Lucy McBath, cujo filho morreu após ser atingido por disparos em um posto de gasolina em 2012. McBath ganhou uma cadeira na Câmara de Representantes contra um candidato republicano classificado como "A" pela NRA (favorável aos seus princípios).

Em 3 de janeiro, os candidatos vitoriosos entrarão no Congresso. Os democratas, que recuperaram o controle da Câmara de Representantes, prometeram apresentar nos primeiros 100 dias um projeto de lei para fortalecer a verificação de antecedentes dos compradores de armas.