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Ações da Vale despencam 24% após rompimento de barragem em Brumadinho

28/01/2019 20h12

São Paulo, 28 Jan 2019 (AFP) - As ações da mineradora Vale na Bolsa de São Paulo sofreram nesta segunda-feira (28) uma queda de 24,52%, na primeira sessão desde o rompimento da barragem que causou a morte de dezenas de pessoas em Brumadinho, Minas Gerais.

As ações da Vale em Nova York, que na sexta-feira tiveram queda de 8%, caíram quase 17% nesta segunda.

A capitalização financeira da terceira maior produtora mundial de ferro caiu de 78,78 bilhões de dólares na semana passada para 59,650 bilhões, com uma perda desde a tragédia de 19,2 bilhões de dólares.

A queda da Vale e de outras empresas do setor de mineração e siderúrgico puxaram para baixo o índice da Bovespa, que cedeu 2,29%.

Entre as mais afetadas destaca-se a Bradespar, uma holding com participação no capital da Vale, que depreciou 25,01%. A Companhia Siderúrgica Nacional caiu 5,69%.

A Vale anunciou na madrugada desta segunda a suspensão do pagamento de dividendo aos seus acionistas, entre outras medidas adotadas desde o rompimento da barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, que até o momento deixa 60 mortos e 292 desaparecidos.

Nessa reunião também decidiram suspender o programa de recompra da Vale de suas ações, bem como o pagamento de variáveis na remuneração dos executivos da empresa.

A Justiça já bloqueou 11,8 bilhões de reais da mineradora para compensar prejuízos e danos ambientais, além de assegurar o pagamento de salários.

Até este momento, a Vale foi sancionada com três multas por um total de 449 milhões de reais.

Segundo o jornal Valor Econômico, os ativos bloqueados representam aproximadamente a metade dos 24,4 bilhões de reais dos quais a Vale dispunha em caixa no fim de setembro e aumenta muito as contas a pagar.

Os compromissos da dívida por um ano aumentaram em setembro a 5,5 bilhões de reais entre o principal e os juros.

A agência de classificação financeira Fitch comunicou no fim da tarde uma degradação da nota creditícia da Vale, de BBB+ para BBB-, com viés negativo, o que pode indicar um novo corte.

Estas decisões "refletem a expectativa da Fitch de que a companhia deverá enfrentar custos pesados, na medida em que este acidente (...) ocasionou importantes danos ambientais e de destruição de propriedades".

- Sob pressão -O vice-presidente Hamilton Mourão, que está interinamente na Presidência pela intervenção cirúrgica à qual foi submetido o presidente Jair Bolsonaro, disse que o governo poderia recomendar o afastamento da atual equipe de direção da Vale, uma empresa privatizada em 1997.

"Essa questão está sendo estudada pelo grupo de crise" formado pelo governo, declarou Mourão, ao ser questionado sobre o tema.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, encarou a possibilidade de formalizar acusações penais contra diretores da Vale.

"A responsabilidade civil pode ser da empresa e de dirigentes. A responsabilidade penal será principalmente de pessoas, de indivíduos, e é preciso por isso examinar qual prova temos da falha na responsabilidade de cada um para permitir esse desastre", declarou Dodge.

- Reconquista falida -Esta é a segunda tragédia envolvendo a mineradora em pouco mais de três anos, depois do rompimento de uma barragem em Mariana em novembro de 2015 da empresa Samarco, copropriedade da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton.

Este acidente, no município de Mariana, a 125 km de Brumadinho, deixou 19 mortos e gerou uma enxurrada devastadora de resíduos de mineração que chegou ao mar, atravessando Minas Gerais e Espírito Santo, ao longo do Rio Doce.

A empresa conseguiu recompor suas finanças desde então. De novembro de 2015 a 24 de janeiro 2019, véspera da tragédia em Brumadinho, seu valor em bolsa tinha subido 258%.

Especialistas citados pela imprensa avaliam que o impacto financeiro imediato do vazamento será menor que o ocasionado na imagem da companhia.

O atual presidente da Vale, Fábio Schvartsman, assumiu o cargo em 2017 com o lema "Mariana, nunca mais". Um programa que ficou em um vazio com este novo desastre e que, segundo analistas, compromete a renovação de seu cargo em 2019.