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Vale sob pressão política e judicial por tragédia em Brumadinho

29/01/2019 12h49

Brumadinho, Brasil, 29 Jan 2019 (AFP) - O governo, a justiça e a opinião pública intensificaram nesta terça-feira a pressão sobre a mineradora Vale, dona da barragem que rompeu na cidade mineira de Brumadinho e matou, até o momento, 65 pessoas, além dos 279 desaparecidos que continuam sendo procurados sob a lama.

A polícia prendeu cinco engenheiros nesta terça. Três deles, funcionários da Vale, são responsáveis pela autorização de funcionamento da mina de Córrego do Feijão, epicentro da catástrofe.

Dois engenheiros da companhia alemã TÜV SÜD também foram presos por terem feito uma avaliação, em setembro de 2018, garantindo a estabilidade da barragem.

O vice-presidente Hamilton Mourão, em exercício enquanto Jair Bolsonaro está se recuperando de uma cirurgia abdominal, declarou na segunda-feira a favor de que os responsáveis pela tragédia respondam criminalmente. A mesma opinião foi manifestada pela Procuradora Geral da República, Raquel Dodge.

Também se especula sobre a possível destituição da direção da Vale em um conselho de admistração.

Mourão iniciou sua agenda nesta terça-feira com uma reunião ministerial para discutir a segurança das barragens de mineração brasileiras. Há três anos o país sofreu sua pior catástrofe ambiental quando um reservatório em Mariana, a 125 km de Brumadinho, cedeu milhões de metros cúbicos de água e resíduos de mineração, resultando em 19 mortos e a destruição de rios, casas e vegetação.

A estrutura pertencia à Samarco, copropriedade da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton.

"Provavelmente teremos outros casos, que poderão ser em menor escala, mas também piores. Em cerca de 10% das barreiras do estado de Minas Gerais a estabilidade não foi certificada ou não há informações suficientes sobre segurança", declarou à AFP Luiz Jardim Wanderley, especialista em mineração da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A catástrofe é alvo de críticas de órgãos ambientais, de direitos humanos e de líderes políticos. Também atingiu as premissas do governo de Jair Bolsonaro, que assumiu o poder em 1o. de janeiro com um discurso liberal e crítico de como ele vê meticulosidade excessivos os controles ambientais.

- Expectativas lúgubres -Em Brumadinho, os socorristas continuam recuperando os corpos das vítimas fatais. O trabalho lento e doloroso aumenta progressivamente o saldo de vítimas fatais - que passou de 58 para 65 na segunda-feira - e diminui o número de desaparecidos, que era de 279 no último relatório.

"Nos próximos dias, esperamos localizar um número maior de corpos", disse o porta-voz da brigada de incêndio, tenente Pedro Aihara, afirmando que não há prazo para encerrar as buscas que, nos últimos três dias, encontraram apenas cadáveres, sem qualquer sobrevivente.

Conforme a lama seca, a visualização e remoção dos corpos é facilitada, explicou Aihara.

Ao lado da humilde igreja de Brumadinho, os helicópteros que depositam os cadáveres com redes pousaram proporcionam uma imagem impressionante.

Coberto por plásticos, é possível reconhecer a forma dos corpos pendurados no ar. Ao lado da igreja, fora da área onde estão as equipes, homens cavaram sepulturas no modesto cemitério de Córrego do Feijão sob um sol inclemente.

Os bombeiros também trabalham nesse clima, sobre montanhas de barro de até 15 metros, realizando escavações com as próprias mãos.

- "Crime ambiental" - O vazamento de lama e resíduos de mineração que se seguiu à ruptura da barragem avançou para o rio Paraopeba, afetando o abastecimento de água potável da aldeia indígena Nao Xoha ("espírito guerreiro") a cerca de 20 km do complexo de mineração.

"No domingo notamos que o rio chegou sujo e à tarde começamos a ver peixes mortos", contou à AFP o cacique Háyó Pataxó Hã-hã-hãe por telefone.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi ao local, onde 27 famílias vivem, para levar doações e prestar assistência.

"Estamos numa situação muito séria ... Dependemos do rio e o rio morreu. Não sabemos o que fazer", declarou Háyó.

"É muito preocupante. Estamos vendo o avanço dessa lama tóxica, e a perspectiva é avançar 220 km para outra barragem, onde dizem que esses resíduos podem ser represados. Mas são projeções", declarou Marcelo Laterman, geógrafo e porta-voz da campanha Climate and Energy do Greenpeace, que exige punição para a Vale por "esse crime ambiental".

Estimativas oficiais revelam que a enxurrada de lama e detritos poderá avançar ainda mais quilómetros na direção da barragem de Três Marias.

À noite, dezenas de pessoas manifestaram sua indignação diante da sede da Vale no sul do Rio de Janeiro.

A Vale, por sua vez, disponibilizou centros de atendimento aos familiares das vítimas e anunciou uma indenização antecipada de R$ 100 mil para cada família afetada.

A justiça já bloqueou 11,8 bilhões de reais e a empresa acumula multas de 449 milhões de reais.

rs-pr/js/arc/cn

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