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Ghosn critica sua detenção prolongada, impensável em 'outra democracia'

31/01/2019 09h13

Tóquio, 31 Jan 2019 (AFP) - Detido no Japão por acusações de malversação financeira, o ex-presidente da montadora francesa Renault Carlos Ghosn disse nesta quinta-feira (31) à AFP que a recusa a soltá-lo sob fiança "não seria normal em nenhuma outra democracia", afirmando que foi "punido antes de ser declarado culpado".

Na primeira entrevista a veículos da imprensa estrangeira desde sua detenção em 19 de novembro, Ghosn declarou ainda que um "exército na Nissan" tenta "destruir sua reputação".

"Tenho diante de mim um exército na Nissan. Centenas de pessoas se dedicam a este caso, 70 no gabinete do promotor, e eu estou preso há mais de 70 dias. Não tenho telefone, nem computador, como posso me defender?", acrescentou.

Durante o período de custódia, ele teve direito apenas às visitas de seus advogados e do pessoal consular de França, Líbano e Brasil, os três países dos quais tem nacionalidade. A partir de agora, durante sua prisão provisória, o tribunal autoriza outros encontros, limitados em número e em duração (15 minutos).

- 'Punido'Vestido de jogging preto e sandálias de plástico, Ghosn chegou para falar com a AFP com o passo decidido, mantendo sua autoridade de CEO, ainda que diga estar "cansado" e sendo "desfavorecido".

"Estou concentrado, quero lutar para restabelecer minha reputação e me defender contra falsas acusações. Me recusaram a liberdade sob fiança. Não seria normal em nenhuma outra democracia no mundo", afirmou, em entrevista à AFP e ao jornal francês "Les Echos", no centro de detenção em Tóquio.

"Por que me puniram antes de ser declarado culpado?", questionou Ghosn, de 64 anos.

Alvo de três acusações por abuso de confiança e ocultação de rendimentos às autoridades financeiras entre 2010 e 2018, Ghosn nega envolvimento em qualquer atividade de malversação.

Ele esperava poder ser posto em liberdade sob fiança para então falar do assunto, mas, após vários golpes, decidiu contra-atacar na imprensa.

Na quarta-feira, em uma entrevista ao jornal econômico japonês "Nikkei", já criticou abertamente os dirigentes da Nissan, o construtor nipônico que o derrubou após ordenar uma investigação interna a partir do verão de 2018.

Segundo ele, quiseram tirá-lo do jogo, porque tinha "o projeto de integrar" Renault, Nissan e Mitsubishi Motors, repetiu o ex-dirigente nesta quinta.

"É um complô, uma armadilha? Não há nenhuma dúvida quanto a isso. É um caso de traição. Há várias razões para isso. Havia muita oposição e ansiedade sobre o projeto de integrar as companhias (Nissan, Renault, Mitsubishi Motors)", insistiu.

O presidente da Nissan, Hiroto Saikawa, rebate várias vezes essa ideia de "golpe de Estado", falando em "provas" de malversação sobre seu antigo mentor.

Ghosn pode continuará preso até seu processo, que ainda deve elvar alguns meses para acontecer, segundo sua defesa. Se for considerado culpado, por ser condenado a até 15 anos de prisão.

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