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A moda e a polêmica das carnes 'alternativas'

09/05/2019 13h36

Nova York, 9 Mai 2019 (AFP) - "Carne sem abate", "carne limpa", "carne 2.0", "carne falsa", ou "carne sintética": os termos para classificar as alternativas à carne convencional, criadas à base de plantas, ou de células animais, ainda causam polêmica.

Para os produtos fabricados com base em células animais, "não há consenso realmente", afirma Matt Ball, porta-voz de uma associação que faz a promoção dessas alternativas, The Good Food Institute.

Em sua apresentação em 2013, o primeiro hambúrguer preparado "in vitro" ganhou as manchetes como "Frankenburger", ou ainda "carne de laboratório", "carne artificial" e "carne de cultura". Depois, começou a ganhar espaço o termo "carne limpa" e, mais recentemente, "carne à base de células".

Em busca do melhor termo para fisgar o consumidor, The Good Food Institute publicou, em setembro de 2018, um estudo de 37 páginas sobre a percepção em relação a essas diferentes nomenclaturas.

Nos Estados Unidos, o Departamento da Agricultura ficará responsável pela rotulagem desses novos produtos quando chegarem ao mercado. E isso será a partir de 2021 - garantem as "start-ups" mais avançadas.

As autoridades do setor provavelmente vão exigir termos "precisos e descritivos" por conta de alergias alimentares, afirma Matt Ball.

- Disputa pelo termo -"Na França, não se questiona como definir este produto (carne celular), porque ele não desperta muito interesse", afirma o diretor de pesquisa no Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA, na sigla em francês) e editor da revista "Viande et Produits Carnés", Jean-François Hocquette.

Tal como é feita hoje, a chamada "carne celular" tem uma textura bem diferente de um bife suculento, de um frango assado, ou da costela de porco. Em relação ao sabor, é algo inteiramente novo. A consistência da carne convencional - é preciso que se diga - resulta de sua maturação após o abate do animal.

Nos Estados Unidos, os pecuaristas tentam, de qualquer maneira, tomar a dianteira para evitar a experiência dos produtores de laticínios, que assistiram, impotentes, ao "boom" das bebidas vegetais vendidas sob o nome de "leites" de amêndoa, ou de coco, por exemplo.

A Associação dos Produtores Bovinos Americanos (USCA, na sigla em inglês) considera que a palavra "carne" deve ser reservada à carne de um animal nascido, criado e abatido de maneira tradicional.

"A concorrência no setor é bem-vinda, desde que as regras do jogo sejam justas", defende a porta-voz da USCA, Lia Biondo.

Já a Associação Americana de Produtores de Carne (NCBA, sigla em inglês) ainda não se posicionou sobre os produtos à base de células animais, por desconhecer sua composição exata.

A NCBA afirma que não apoiará "termos que não sejam baseados na ciência, como 'carne limpa', porque eles denigrem a carne convencional, implicando que ela é suja", observa uma de suas representantes, Danielle Beck.

Para os produtos à base de plantas, a associação é mais radical, considerando que "algumas embalagens enganam".

"Eles usam o termo 'carne', porque isso lhes permite se conectar com os consumidores", critica Jim Dinklage, um produtor de gado de Orchard, no estado do Nebraska.

"Eles me prejudicam", reclama.

- 'Imitação de carne' -Alguns políticos têm-se dedicado ao tema.

No fim do ano passado, o Missouri foi o primeiro dos 50 estados americanos a definir oficialmente a carne como um alimento de origem animal. Projetos de lei similares estão em análise em outros estados.

Na França, também no ano passado, os deputados adotaram uma emenda, depois revista e então enviada para o Senado, concentrada, sobretudo, nos produtos que associam o termo "steak" (bife), "bacon", ou "salsicha", a alimentos compostos de "uma parte significativa de matérias de origem vegetal".

Na Alemanha, onde se fala principalmente de "Fleischersatz" (substituto da carne), ou de "Fleischimitat" (imitação de carne), o Ministério da Agricultura publicou recomendações no final de 2018. Agora, aconselha que, nos rótulos, estejam escritos de forma clara os adjetivos "vegetariano", ou "vegano", assim como o substituto da carne utilizado na composição.

"Bife vegetariano" - referência a um corte específico de carne - é uma expressão proibida, porque evoca uma preparação à base de carne. Já a expressão "goulasch vegano" é aceita.

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