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Trump critica democratas em meio a rumores sobre impeachment

22/05/2019 22h50

Washington, 23 Mai 2019 (AFP) - Donald Trump se irritou nesta quarta-feira (22) com investigações incessantes sobre seus vínculos com a Rússia, enquanto a principal democrata no Congresso acusa o presidente de um "encobrimento" que poderá resultar em impeachment.

Trump encerrou abruptamente uma reunião da Casa Branca com os líderes democratas Nancy Pelosi e Chuck Schumer, anunciando que não poderá lidar com eles na política até que "investigações falsas" cheguem ao fim.

O confronto marcou uma escalada dramática na guerra verbal de Trump com opositores do Congresso que tentam levá-lo a prestar contas do que eles dizem ser uma transgressão presidencial.

A ira de Trump foi aparentemente provocada pela presidente da Câmara, Pelosi, sua inimiga no Congresso, que declarou na sequência de uma reunião de emergência com legisladores na quarta-feira: "Acreditamos que o presidente dos Estados Unidos está envolvido em um encobrimento".

"Eu não encubro nada", retrucou Trump em uma coletiva imprensa organizada às pressas no Jardim Rosado, momentos após a conversa interrompida.

"Acabe com essas investigações falsas", disse Trump - alertando que isso não seria possível, o que causaria um impasse em questões como a instalação da infraestrutura do país, sobre a qual os dois lados esperavam um avanço na quarta-feira.

Uma investigação de dois anos do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 concluiu que não havia provas concretas de que a campanha de Trump estivesse em conluio com Moscou.

Mas o promotor disse que não poderia decidir claramente se Trump obstruía a justiça, deixando para o procurador-geral indicado por Trump, Bill Barr, declarar que não havia obstrução.

A decisão dos democratas de perseguir as áreas cinzentas da investigação - e sua discussão sobre a possibilidade de prosseguir com um processo de impeachment - enfureceu Trump.

"ASSÉDIO PRESIDENCIAL!" ele tuitou na quarta-feira, em meio a intensificação dos ataques.

Qualquer pretensão de cooperação em questões de política evaporou com o mal estar entre Trump e Pelosi pelo avanço da questão do impeachment em Washington.

Após deixar a Casa Branca, Pelosi acusou Trump de ter cometido uma ofensa "imputável" ao ignorar as intimações do Congresso ligadas à investigação de Mueller, comparando-a ao "encobrimento" que derrubou o ex-presidente Richard Nixon.

"Este presidente está obstruindo a justiça e está envolvido em um encobrimento", disse ela. "E isso poderia ser um motivo para impeachment".

A ideia do impeachment parece contaminar até os democratas mais reticentes, como o pré-candidato presidencial Bernie Sanders.

"Não estou certo de que este presidente não queira ser alvo dos procedimentos de um julgamento político. Talvez ache que isto possa lhe ajudar politicamente", disse o senador independente à CNN.

Mas Trump continua ignorando a Constituição americana e o direito do Congresso de investigar. "Pode ser a hora de iniciar uma investigação de impeachment", avaliou o senador.

- Perseguindo áreas cinzentas -Os democratas argumentam que Barr está protegendo o presidente, em parte se recusando a cumprir as intimações do Congresso - apesar de na quarta-feira o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara ter dito que o Departamento de Justiça concordou em começar a homologar material relacionado à investigação de Mueller.

Apesar de sua acusação de encobrimento, Pelosi tem sido consciente do peso político de um movimento de impeachment antes das eleições presidenciais de 2020, com chances de não passar no Senado, liderado pelos republicanos.

Ela argumentou em favor de manter o foco em educar o público através do processo judicial e investigações do Congresso para "obter a verdade e os fatos para o povo americano", em vez de investir no impeachment.

A questão dividiu os democratas durante meses. Mesmo que alguns no Congresso - e vários candidatos presidenciais democratas - estejam ansiosos para afirmar seus poderes históricos de supervisão como um teste contra o executivo, há uma preocupação de que a tática possa sair pela culatra, fortalecendo a base de Trump antes da eleição.

"Ele está realmente tentando incitar o Congresso a destituí-lo", disse o deputado Peter Welch, membro da liderança democrata, à CNN.

Pelosi e Schumer, entretanto, oferecem suas próprias contundentes versões sobre o encontro de quarta-feira.

Para Schumer, o cancelamento dramático da reunião tratou-se de "uma desculpa planejada" e disse que "o que aconteceu na Casa Branca o deixa de queixo caído".