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Análise: Brasil prestes a enfrentar a pior recessão anual de sua história

O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro, durante entrega do Plano mais Brasil ? Transformação do Estado ao presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre - Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro, durante entrega do Plano mais Brasil ? Transformação do Estado ao presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

26/05/2020 08h09

Dados econômicos do primeiro trimestre darão na sexta-feira um indício do abismo diante do qual se depara o Brasil, onde a crise sanitária global do novo coronavírus, agravada por tensões políticas, ameaçam provocar a pior recessão anual em pelo menos 120 anos, coroando uma nova "década perdida".

Os alertas se multiplicam desde março, quando a pandemia começou a fazer sentir seus efeitos. A produção industrial caiu 9,1% com relação a fevereiro e o setor de serviços, 6,9%. A produção de automóveis praticamente parou (-99%).

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) prevê uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) de 1% com relação ao trimestre anterior e um crescimento de 0,3% com relação ao mesmo período de 2019.

Mas o pior está por vir no segundo trimestre, com uma contração do PIB de 9,6% em comparação com o primeiro e de 10,4% interanual, segundo esta projeção.

O governo aposta em uma recuperação a partir de junho e sua última revisão prevê queda de 4,7% do PIB, superior à de 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,3%).

O tombo, para o mercado, será de quase 6% e poderia chegar, segundo alguns analistas, a 10%.

As piores quedas do PIB brasileiro desde o começo do século XX - até onde o IBGE tem estimativas - ocorreram em 1981 (-4,25%) e 1990 (-4,35%), na chamada "década perdida" da América Latina, dominada pela crise da dívida.

Ruídos políticos

A incerteza se deve tanto à pandemia quanto à guerra de Bolsonaro com os demais poderes, em particular com os governadores que ordenaram medidas de confinamento, aos quais acusa de arruinar a economia.

As tensões derrubaram dois ministros da Saúde em um mês e esta pasta continua com um ministro interino desde meados de maio. O Brasil se tornou o segundo país com o maior número de infectados pela COVID-19 no mundo e o sexto com maior número de mortos, com 23.473 registrados até a noite de segunda-feira.

"O Brasil tem recursos para enfrentar a pandemia. Poucos países têm um SUS como o nosso, mesmo sendo precário, laboratórios públicos como a Fiocruz, bancos públicos. Mas por conta dos ruídos políticos e contradições (...), o clima de conflito acaba gerando ineficiência da máquina pública", afirma André Perfeito, da consultoria Necton.

O governo multiplica os programas para conter a degradação social em um dos países mais desiguais do mundo.

A média do desemprego, de 11,9% em 2019, será de 18,7% em 2020, segundo o Ibre/FVG.

Outra década perdida

Assim como muitos países da região, o Brasil se depara com uma nova década perdida.

Se confirmada a previsão oficial de recessão de 4,7% em 2020, o PIB do país, que representa um terço de toda a América Latina, terá tido um aumento médio de apenas 0,11% em dez anos.

E assim como nos anos 1980, paira na região o fantasma de uma dívida incontrolável.

No começo de maio, a agência de classificação creditícia Fitch reduziu de "estável" a "negativa" a perspectiva da dívida pública brasileira, que deveria saltar de 78% do PIB em março a mais de 90% em dezembro, segundo projeções oficiais.

Patricia Krause, economista para a América Latina da seguradora francesa de créditos Coface, descarta, no entanto, uma moratória. A dívida brasileira, argumenta, "é gigante, mas doméstica", nominada principalmente em reais, o que a protege da forte desvalorização do real frente ao dólar (de cerca de 40% este ano).

E o país tem um confortável colchão de reservas de divisas (340 bilhões de dólares no fim de abril).

O que não impede que a desconfiança dos investidores atinja tanto o Brasil quanto países com governos de esquerda, como a Argentina - em plena renegociação de sua dívida - e o México.

É "(algo) que preocupa. Na América central, devido à dependência do turismo e das remessas dos (emigrantes) afetados pelo desemprego nos Estados Unidos. No Equador, que já estava em uma situação complicada, por conta da queda dos preços do petróleo em uma economia dolarizada", explica Krause.