Jornal local de Baltimore quer se recuperar com modelo não lucrativo
Baltimore, Estados Unidos, 15 Mar 2021 (AFP) - Após anos de demissões e de uma queda sistemática no número de leitores, o "Baltimore Sun" espera que o acordo de vendas que acaba de ser assinado com uma organização sem fins lucrativos permita se recuperar.
Presidido pelo empresário Stewart Bainum, o Sunlight for All Institute concordou, em princípio, em adquirir o Baltimore Sun e seus jornais afiliados por US$ 65 milhões.
Essa venda representa um novo teste importante para o modelo sem fins lucrativos, que se tornou moda nos últimos anos nos Estados Unidos em resposta à profunda crise na indústria dos meios de comunicação.
Anunciada originalmente em fevereiro, a mudança de proprietários se dá ao término de uma ampla campanha de apoio que reuniu mais de 7.000 assinaturas.
Lançada por jornalistas e pelo sindicato do jornal, e apoiada pela comunidade empresarial, sociedade civil, atletas renomados e até por outros jornalistas, a campanha "Salve o Sun" tem como objetivo salvar este jornal de 184 anos de existência, ganhador de 16 prêmios Pulitzer.
Para Liz Bowie, uma das jornalistas deste veículo que promoveram a campanha, a população dessa cidade do leste dos Estados Unidos parece ter entendido a importância do jornal e o que poderia acontecer se ele desaparecesse, ou se reduzisse substancialmente sua presença.
O político local Ted Venetoulis vê a iniciativa como um sinal claro de que o jornal constitui a "alma" e a "consciência" do povo de Baltimore.
Os jornais "são sentinelas (...) mas também estimulam e colocam uma lente de aumento nas coisas boas da nossa sociedade", afirmou.
- Na contramão -Mais de 300 veículos de comunicação americanos pertencem a grupos sem fins lucrativos, representando um modelo em crescimento, disse o professor Brant Houston, da Universidade de Illinois, um dos fundadores do Instituto por uma Informação sem Fins Lucrativos.
Recentemente, um grande número de jornais locais saiu de circulação, enquanto outros experimentam fusões decididas pelos proprietários - em geral, grandes grupos, ou fundos especulativos.
"O modelo de negócios dos jornais simplesmente não estava funcionando", diz Brant Houston.
E as fusões não conseguiram reanimar o setor. Grandes grupos enfrentam dificuldades financeiras, e os fundos especulativos se mantêm no azul apenas à custa de demissões em massa de redatores.
O Baltimore Sun, assim como outros jornais das principais áreas metropolitanas do país, foi particularmente afetado pela crise da imprensa escrita ante o auge dos meios digitais.
Sua tiragem foi reduzida para 43.000 exemplares nos dias úteis, e 125.000, na edição de domingo, enquanto o número de redatores caiu para menos de 100.
O anúncio da mudança de dono e modelo deu esperança a seus profissionais.
- O exemplo da Filadélfia -Um exemplo promissor funciona desde 2016 na vizinha Filadélfia, onde o jornal local "Inquirer" passou para o controle de uma organização sem fins lucrativos.
Desde então, o diário recebeu "uma onda de apoio financeiro da população local", conta o o diretor-executivo do grupo, Jim Friedlich, acrescentando que apenas em 2020 essas contribuições chegaram a US$ 7 milhões.
Friedlich afirma ter oferecido uma assessoria informal a Stewart Bainum, que ainda não divulgou publicamente seus planos para o Baltimore Sun.
Bainum, presidente do grupo Choice Hotels, "tornou-se um estudioso do modelo de negócios da informação e se inspirou e replicou o modelo sem fins lucrativos" do Inquirer, comentou Friedlich.
John Schleuss, presidente do sindicato de jornalistas que ajudou a organizar a campanha "Salve o Sun", mostrou-se otimista que a mudança em Baltimore abrirá as portas para acordos similares para outros jornais.
"Espero que possamos voltar aos jornais responsáveis frente a seu público e que não estejam apenas interessados nos lucros de curto prazo", afirmou.
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