Pandemia, grande prêmio e armadilha para empresas farmacêuticas na Bolsa
Paris, 17 Mar 2021 (AFP) - As vacinas e os tratamentos contra a covid-19 podem representar um grande prêmio para os resultados na Bolsa das empresas farmacêuticas, mas também uma armadilha. A seguir uma lista de vencedores e perdedores:
Vencedores
Lançar uma vacina contra a covid-19 é uma aposta que pode ser rentável, sobretudo para as empresas de biotecnologia como a Moderna.
Até dezembro de 2020 esta empresa americana não havia comercializado nenhum produto, mas estava trabalhando em uma tecnologia promissora, o RNA mensageiro.
O desenvolvimento de uma vacina provocou a disparada dos preços de suas ações. De menos de 20 dólares em dezembro de 2019, o valor passou a US$ 156 um ano depois.
A alemã BioNTech, que desenvolveu uma vacina em parceria com a americana Pfizer, seguiu uma trajetória similar.
A empresa, com cotação na Nasdaq de Nova York, passou de 35 dólares em dezembro de 2019 a US$ 127 em dezembro de 2020.
Para uma empresa farmacêutica mais estabelecida como a Pfizer a evolução não foi tão espetacular.
Mas nos últimos 12 meses, o laboratório registrou uma capitalização na Bolsa de US$ 25 bilhões, recorda Christophe Dombu, analista do setor para a Portzamparc.
"A Pfizer espera vendas de 15 bilhões de dólares para sua vacina em 2021, e há muitos poucos 'blockbusters' que representem tanto", afirma, em referência aos medicamentos com vendas que representam bilhões de dólares.
Em outros casos não é necessário superar todas as etapas para subir na Bolsa.
A Valneva, por exemplo, uma empresa de biotecnologia franco-austríaca que desenvolve uma vacina ainda em fase de testes clínicos, viu quintuplicar sua cotação entre o fim de 2019 e fevereiro de 2021.
Perdedores
Os perdedores são, sobretudo, os grupos que desenvolvem tratamentos - não vacinas - para a doença.
A empresa francesa Abivax, que estava desenvolvendo um possível tratamento, registrou aumento constante do preço de suas ações em 2020, antes da queda de 25% em março em apenas uma sessão após o anúncio da interrupção dos testes clínicos.
De acordo com um estudo da GlobalData, os rendimentos são muito diferentes para as empresas que desenvolvem vacinas e para as que desenvolvem tratamentos.
Com a aprovação de mais vacinas, a capitalização na Bolsa vai diminuir significativamente para as segundas devido à menor demanda de seus medicamentos.
No quarto trimestre de 2020, a empresa americana Regeneron registrou queda de mais de 13% de suas ações, mesmo com o seu tratamento de anticorpos monoclonais aprovado em caráter de emergência nos Estados Unidos.
"Lógico que é mais eficaz prevenir uma doença que tratá-la. Com o tempo, o mercado dos medicamentos contra o coronavírus tende a reduzir", disse Dembu.
Porém, a detecção de variantes e as dificuldades para produzir vacinas podem dar um novo impulso às fabricantes de tratamentos.
Os casos complexos
Para as grandes empresas, a situação é mais complexa porque as vacinas geralmente não representam sua atividade principal.
A francesa Sanofi sofreu um atraso no lançamento de sua vacina. No dia do anúncio, as ações registraram queda de 4%, mas isto não afetou os resultados, impulsionados por outros produtos, e desde então as ações se recuperaram.
Mas o grupo, que não desenvolveu nenhuma ferramenta de diagnóstico, vacina ou tratamento, "perdeu claramente a oportunidade", afirma Dombu.
No caso da AstraZeneca, que sofreu atrasos nas entregas e a suspensão de sua vacina, o comportamento na Bolsa é errático.
As ações caíram mais de 20% desde o valor máximo em julho de 2020. Porém, na terça-feira, um dia depois da suspensão do uso de sua vacina por Alemanha e França, avançaram mais de 3% em Londres.
De fato, as vacinas contra o coronavírus "provavelmente não serão o principal motor de crescimento no futuro para os grandes grupos farmacêuticos" tradicionalmente especializados em vacinas, afirma Jean-Jacques Le Fur, analista da Bryan, Garnier & Co.
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