Europa isola Belarus após desvio de avião e detenção de dissidente
Minsk, Bielorrússia, 25 Mai 2021 (AFP) - Os países da União Europeia (UE) decidiram nesta segunda-feira (24) fechar o espaço aéreo do bloco a aeronaves de Belarus, como punição ao escândalo internacional causado pelo pouso forçado em Minsk de um avião civil no qual viajava um opositor que foi posteriormente detido.
Os chefes de governo dos 27 países da União Europeia acordaram, ainda, solicitar às empresas aéreas europeias que evitem sobrevoar o espaço aéreo bielorrusso, aumentando, assim, o isolamento deste país.
No primeiro dia de uma Cúpula em Bruxelas, a UE também exibiu a libertação "imediata" do opositor detido, Roman Protasevich.
Em meio a fortes pressões, esta ex-república soviética, localizada entre a Rússia e a UE, e liderada desde 1994 por Alexander Lukashenko, rejeitou as críticas e afirmou ter agido legalmente, prometendo "transparência absoluta".
Belarus foi apoiada por seu principal aliado, a Rússia, cujo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, considerou que Minsk agiu "razoavelmente" ao prometer "transparência total".
O voo da companhia Ryanair, procedente de Atenas e com destino a Vilnius, capital da Lituânia, no qual viajava o jornalista dissidente Roman Protasevich, foi desviado no domingo quando estava no espaço aéreo bielorrusso por uma suposta ameaça de bomba, que acabou se revelando falsa.
Belarus também alegou, nesta segunda, ter recebido uma ameaça de "bomba" neste voo da Ryanair, assinada pelo Hamas, conforme e-mail atribuído ao movimento islamista palestino lido por uma autoridade do Ministério bielorrusso dos Transportes.
Escoltada por um avião de combate bielorrusso, a aeronave pousou na capital, Minsk, onde Protasevich, de 26 anos, que morava entre dois Estados da União Europeia, Polônia e Lituânia, foi detido ao lado de sua companheira.
Minsk garantiu nesta segunda ter informado a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), órgão do sistema ONU, e a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), de sua "disposição em cooperar com uma investigação imparcial".
- Forte reação internacional -Nesta segunda, o governo do Reino Unido determinou que os aviões britânicos evitem o espaço aéreo bielorrusso. O grupo aeronáutico alemão Lufthansa, a companhia escandinava SAS e a companhia regional Air Baltic, com sede na Letônia, também anunciaram a adoção desta medida.
Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a ação se tratou de um "sequestro altamente inaceitável de um avião da Ryanair pelas autoridades bielorrussas, acrescentando que o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko" e seu regime devem entender que haverá graves consequências.
Além da adoção de novas sanções contra funcionários bielorrussos, entre as alternativas debatidas pelos líderes, segundo rascunhos aos quais a AFP teve acesso, incluem-se o veto do uso do espaço aéreo dos países da UE à companhia aérea de Belarus, Belavia.
As explicações bielorrussas não convenceram ninguém na Europa. Von der Leyen qualificou o incidente de "indigno e ilegal", a Polônia denunciou "um ato de terrorismo de Estado" e a França pediu uma "resposta forte e unida".
A chefe do governo alemão, Angela Merkel, disse que as explicações bielorrussas eram "completamente inverossímeis".
À noite, o presidente americano, Joe Biden, criticou Belarus pelo que chamou de "incidente escandaloso".
"Este escandaloso incidente e o vídeo que Protasevich parece ter feito sob coação são ataques vergonhosos tanto contra a dissidência política quanto contra a liberdade de imprensa", disse Biden depois que a TV bielorrussa transmitiu um vídeo de Roman Protasevich "confessando" as acusações de organizar distúrbios em massa, pelos quais poderia ser condenado a 15 anos de prisão.
"Saúdo a notícia de que a União Europeia aplique sanções econômicas específicas e outras medidas e pediu à minha equipe que desenvolva as opções apropriadas para que os responsáveis prestem contas", acrescentou Biden em sua declaração.
- "Pirataria" -A Irlanda, onde está sediada a empresa Ryanair, criticou o que chamou de um ato de "pirataria" estatal.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) exigiu uma investigação sobre o "grave e perigoso incidente", enquanto o secretário de Estado americano, Antony Blinken, considerou a ação "impactante" por colocar em perigo "as vidas de 120 passageiros, incluindo cidadãos americanos".
Tanto os Estados Unidos quanto a UE exigiram a libertação de Protasevich, que Belarus havia acrescentado à sua lista de "pessoas envolvidas em atividades terroristas".
A UE e outros países ocidentais já adotaram várias sanções contra o governo de Lukashenko pela repressão brutal das manifestações da oposição, após sua polêmica reeleição para o sexto mandato em agosto do ano passado.
A ativista da oposição bielorrussa Svetlana Tijanovskaya, que vive no exílio na Lituânia, disse que "é absolutamente óbvio que esta é uma operação do serviço secreto para capturar o avião" e prender Protasevich.
O opositor está detido em Minsk e em um vídeo transmitido na noite de segunda-feira pela televisão pública bielorrussa, no qual apareceu com marcas escuras na testa, afirmou que estava sendo tratado "de acordo com a lei" e que havia começado a "confessar sobre a organização de manifestações em massa".
"Os Estados Unidos se unem a países de todo o mundo pedir sua libertação, assim como a libertação das centenas de presos políticos que estão sendo detidos injustamente pelo regime de Lukashenko", disse Biden.
bur-pop-ahg/bl/ap/mvv
RYANAIR HOLDINGS PLC
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