Polícia de Hong Kong prende executivos durante operação em jornal pró-democracia
Hong Kong, 17 Jun 2021 (AFP) - A polícia de Hong Kong fez uma operação nesta quinta-feira (17), pela segunda vez em menos de um ano, na redação do jornal pró-democracia Apple Daily e prendeu cinco executivos, incluindo o diretor de redação da publicação, que alertou que a liberdade de imprensa no território "está por um fio".
Baseadas em uma drástica lei de segurança nacional, as detenções representam o último revés para o popular tabloide e seu proprietário, o bilionário Jimmy Lai, que já estava preso.
Mais de 500 policiais participaram da operação, relacionada a artigos publicados pelo Apple Daily que pediam "sanções" contra Hong Kong e as autoridades chinesas, segundo a força de segurança.
Esta é a primeira vez que o conteúdo de um artigo motiva detenções com base na lei de segurança nacional imposta no ano passado por Pequim.
Em uma mensagem aos leitores, o Apple Daily afirma que a "proteção da liberdade de imprensa em Hong Kong está por um fio".
O sindicato de jornalistas da publicação classificou a operação de "violação gratuita da liberdade de imprensa, que reflete a maneira como o poder da polícia aumentou no âmbito da lei".
O Reino Unido reagiu e acusou a China de utilizar a lei de segurança nacional para atacar as "vozes dissidentes" em Hong Kong.
O chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, afirmou no Twitter que a China deveria "proteger e respeitar" a liberdade de imprensa devido aos compromissos assinados quando a ex-colônia britânica foi devolvida a Pequim em 1997.
"Fazemos um apelo às autoridades para que deixem de atacar a mídia independente e livre", disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.
Os cinco executivos foram detidos por "conspiração com um país estrangeiro, ou com elementos externos para colocar em perigo a segurança nacional", segundo a polícia.
As autoridades também congelaram bens do Apple Daily avaliados em 2,3 milhões de dólares.
- "Não vou me arrepender" -O ministro da Segurança de Hong Kong, John Lee, se negou a revelar quais artigos da lei de segurança foram violados ou se as pessoas que compartilharam os textos também estavam no alvo da justiça.
"Não vai contra a liberdade de imprensa", declarou. "Nos concentramos em uma conspiração que ameaça a segurança nacional e nos jornalistas que, por meio de seu trabalho, participaram em atos que ameaçam a segurança nacional".
O Apple Daily transmitiu a operação policial ao vivo em sua página do Facebook. As imagens mostraram o momento em que os policiais isolaram o complexo e entraram no edifício.
Entre as pessoas detidas estão o diretor de redação, Ryan Law, e o diretor-geral, Cheung Kim-hung.
Após a operação, os jornalistas retornaram à redação, que foi saqueada. Eles afirmaram que a polícia levou 38 computadores, discos rígidos e notebooks.
Para um fotógrafo do jornal, esta é uma tentativa de "criar um clima de terror para os trabalhadores do Apple Daily".
"Mas se eu for detido por tentar apresentar um testemunho da atualidade, não vou me arrepender".
A lei de segurança nacional, que entrou em vigor em junho de 2020, é a ponta de lança da repressão generalizada contra os críticos da China em Hong Kong desde as enormes manifestações pró-democracia de 2019.
As pessoas condenadas sob a nova lei podem ser condenadas à prisão perpétua, e a maioria tem negada a liberdade sob fiança ao ser detidos.
- Tempos difíceis -Com a operação desta quinta-feira, esta é a segunda vez em menos de um ano que a polícia entra na redação do Apple Daily.
O proprietário do jornal, Lai, de 73 anos, foi acusado de conspiração após uma operação em agosto do ano passado. Ele cumpre atualmente várias sentenças de prisão por participar das manifestações pró-democracia que abalaram Hong Kong em 2019.
Mais de 100 pessoas foram detidas com base na lei, incluindo alguns dos ativistas pró-democracia mais conhecidos da cidade, enquanto outros fugiram para o exterior.
A China afirma que a lei é necessária para devolver a estabilidade a Hong Kong, mas os críticos, incluindo vários países ocidentais, alegam que a repressão acabou com a promessa chinesa de que a cidade permaneceria com certas liberdades e autonomia após sua devolução a Pequim em 1997.
No mês passado, em uma entrevista à AFP, o diretor de redação Ryan Law se mostrou desafiante.
Ele admitiu que o jornal estava em crise desde a detenção do proprietário, mas afirmou que os jornalistas estavam decididos a manter a publicação.
Em uma reunião recente, a equipe consultou Law para saber o que deveria fazer caso ele fosse detido pela polícia.
Ele respondeu apenas: "Transmitam ao vivo".
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