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ONU pede transformação dos sistemas alimentares mundiais para combater fome

ONU organiza cúpula mundial para incentivar países a reformar seus sistemas alimentares para combater a fome no mundo e as mudanças climáticas - Getty Images
ONU organiza cúpula mundial para incentivar países a reformar seus sistemas alimentares para combater a fome no mundo e as mudanças climáticas Imagem: Getty Images

21/09/2021 09h17Atualizada em 21/09/2021 10h24

A fome aumenta no mundo, as mudanças climáticas aceleram e ameaçam a produção agrícola: neste contexto preocupante, a ONU organiza uma cúpula mundial na quinta-feira (23) em Nova York para incentivar os Estados a reformar seus sistemas alimentares para tentar responder a esses desafios.

"Exorto todos a apresentarem compromissos ambiciosos para alimentar a esperança de um futuro melhor", enfatizou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um comunicado por escrito.

"A comunidade internacional tem uma oportunidade única de contribuir para o cumprimento" dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU para 2030, "transformando a forma como produzimos, transformamos e consumimos alimentos", ressaltou.

Mas, há vários meses, algumas ONGs criticam as modalidades de organização desta cúpula, que consideram "opacas". Temem que as trilhas escolhidas deem grande importância ao "agronegócio" em detrimento da agricultura camponesa.

Mais de 85 chefes de Estado e de Governo participarão desta cúpula virtual.

Será "uma maratona de compromissos de governos, defensores de várias causas, comunidades e empresas", afirmam os organizadores.

As apostas são altas. Os sistemas alimentares são considerados responsáveis por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa.

E a fome continua aumentando. Atualmente, afeta 811 milhões de pessoas no mundo, enquanto 2,7 bilhões de pessoas não têm acesso a alimentos saudáveis, de acordo com um relatório da ONU.

Diálogos

A cúpula levou 18 meses de preparação desde o anúncio de sua celebração, em outubro de 2019, por Antonio Guterres.

Para seus organizadores esta é uma "Cúpula dos Povos", dedicada pela primeira vez aos "sistemas alimentares" que vão dos produtores aos distribuidores, passando pelas indústrias alimentícias, fabricantes de insumos e assim por diante.

Durante meses, "diálogos" foram realizados em 148 países, envolvendo uma ampla gama de partes interessadas e partes afetadas, para explorar várias maneiras de tornar os sistemas alimentares mais equitativos, eficientes e ambientalmente saudáveis.

Mais de 80 países já transmitiram seu "caminho nacional" para chegar lá, dizem os organizadores.

David Nabarro, assessor da cúpula para esses diálogos, destaca que a questão da alimentação é tratada "de forma multissetorial", com a participação de diversos ministérios, "o que é extremamente importante" porque, muitas vezes, é competência dos ministérios da Agricultura.

"Estas estradas nacionais (...) mostram que os governos estão dispostos" a considerar a alimentação como uma questão que também diz respeito aos ministérios da Saúde, Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, etc., avaliou numa reunião informativa na segunda-feira.

A cúpula também verá o lançamento de "coalizões" reunindo Estados e diversos atores em torno de grandes questões como agroecologia e restauração de escolas, entre outras.

Regras do jogo

As empresas vão se manifestar por meio de um comunicado.

Agnes Kalibata, enviada especial do secretário-geral das Nações Unidas para esta cúpula, acredita que os industriais do setor agroalimentar devem "reformular" seus produtos para reduzir a progressão da obesidade no mundo.

Mas para a ONG Grain, que defende os pequenos agricultores, "a cúpula foi sequestrada desde o início por multinacionais e é oficialmente patrocinada pelo Fórum Econômico Mundial" de Davos.

A ONG também destaca que Agnes Kalibata preside a Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), lançada pela Fundação Bill e Melinda Gates, que ela reprova por promover a industrialização da agricultura na África.

Por sua vez, a Ação Contra a Fome considera que "as novas regras do jogo" estabelecidas por esta cúpula são "muito problemáticas" e "pouco claras".

"Questionam o multilateralismo" e a negociação entre Estados, segundo ela.