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Fed aumenta taxa de juros pela primeira vez desde 2018 e eleva previsão da inflação

FED Federal Reserve Banco central americano dos EUA dólar - marchmeena29/iStock
FED Federal Reserve Banco central americano dos EUA dólar Imagem: marchmeena29/iStock

Washington

16/03/2022 19h26

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) aumentou nesta quarta-feira (16) suas taxas de juros de referência em um quarto de ponto percentual a 0,25%-0,50%, em seu primeiro aumento desde 2018, para fazer frente a uma inflação que atinge níveis máximos em 40 anos.

A situação do conflito na Ucrânia "poderia criar uma pressão adicional sobre a inflação e pesar na atividade econômica", alertou o Fed em um comunicado, após dois dias de reunião de seu comitê de política monetária (FOMC).

Os encarregados do organismo preveem altas adicionais de taxas este ano e estimam uma expansão do PIB de 2,8% em 2022 frente a 4% de suas previsões anteriores.

O Fed prestou contas de uma inflação "elevada", que se explica por "desequilíbrios de oferta e demanda relacionados com a pandemia, preços altos da energia e pressões generalizadas sobre os preços", pelo que novos aumentos da taxa de política monetária serão "apropriados".

O BC americano tinha zerado sua taxa básica de juros em março de 2020 para sustentar a economia, o consumo e os investimentos frente à pandemia do coronavírus.

A decisão de elevar as taxas em um quarto de ponto percentual foi quase unânime: só o presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard, votou contra por ser partidário de um aumento de meio ponto percentual.

Inflação versus crescimento

O titular do Fed, Jerome Powell, destacou que o organismo tentará controlar a inflação, sem afetar o crescimento econômico.

Nesta quarta, Powell destacou em coletiva de imprensa após a reunião do FOMC, que levará "mais tempo" do que o previsto levar a inflação para a meta de 2%, mas sustentou que o crescimento continua sólido e não vê risco de uma recessão.

"A inflação provavelmente vai demorar mais tempo do que o previsto para voltar ao nosso objetivo de estabilidade dos preços", afirmou.

A projeção do organismo é de 4,3% de inflação para 2022 e 2,7% no próximo ano, antes de chegar a 2,3% em 2024. Trata-se de "uma trajetória claramente mais alta do que o previsto em dezembro", destacou Powell.

A inflação registrou 7,9% em 12 meses nos Estados Unidos em fevereiro passado, segundo o índice CPI do Departamento de Comércio. O Fed prefere seguir o índice PCE, que registrou +6,1% em doze meses em janeiro.

Estes números fazem ressurgir o fantasma da inflação de dois dígitos dos anos 1970 e começo dos 1980, quando o Fed elevou suas taxas a 20%, freando a inflação, mas às custas de uma recessão.

O mercado espera no total sete aumentos de taxas este ano, levando esta referência a 1,75% anual.

Elevar as taxas básicas leva os bancos comerciais a cobrar taxas maiores a seus clientes para tomar créditos para a compra de moradias, carros, eletrodomésticos ou investimentos para as empresas.

Esta medida afeta o consumo e alivia a pressão sobre os preços, em um contexto de problemas nas cadeias de abastecimento e forte alta do combustível e dos alimentos pela guerra na Ucrânia.

Segundo Powell, o crescimento vai continuar e "a probabilidade de uma recessão no próximo ano é particularmente alta", acrescentou.

O Fed deverá abordar agora a redução de sua folha de balanço, ou seja, se desvincular pouco a pouco dos bilhões de dólares em bônus do Tesouro e outros ativos que mantém desde março de 2020 para sustentar a atividade econômica em plena pandemia.

"O Comitê prevê começar a reduzir seus ativos (...) em uma próxima reunião", informou o Fed nesta quarta, sem dar mais detalhes.

A bolsa de Nova York fechou em forte alta nesta quarta, incorporando rapidamente o aumento dos juros decidido pelo Fed americano, e impulsionada por uma queda do petróleo e por expectativas de avanços entre Rússia e Ucrânia.

Assim, o Dow Jones fechou em alta de 1,55% a 34.063,10 pontos, o tecnológico Nasdaq 3,77% a 13.436,55, e o S&P 500 2,24% a 4.357,86 unidades.

"O anúncio foi conforme o esperado", destacou Bill Northey, do US Bank Wealth Management. "Não houve surpresa, mas o Fed adotou uma postura um pouco mais agressiva na questão da política monetária", resumiu.