Mais agressivo, BCE põe fim à era das taxas de juros negativas
Frankfurt, 21 Jul 2022 (AFP) - O Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas de juros nesta quinta-feira (21), pela primeira vez em mais de uma década, em meio a temores de uma crise energética e de perspectivas econômicas sombrias na zona do euro.
Entre um aumento dos preços e temores pelo crescimento, a instituição com sede em Frankfurt apostou em aumentar suas três principais taxas de juros em 50 pontos, quando todos esperavam um aumento de 25 pontos.
Nos últimos dias, as especulações eram que o BCE poderia tomar medidas mais agressivas, já que a inflação da zona do euro continua a subir sob o impacto combinado da recuperação pós-covid, de tensões na cadeia de suprimentos e da crise energética ligada à ofensiva russa na Ucrânia.
A principal taxa de juros passa de zero, onde estava desde 2016, para 0,5%, enquanto a taxa cobrada sobre parte da liquidez bancária não distribuída na forma de crédito sobe de -0,5% para zero.
Essa decisão marca o fim da era de juros negativos que começou em 2014 e uma década de política monetária generosa que ajudou o bloco a enfrentar crises nos últimos anos.
Este aperto da política monetária já tinha começado em julho, com a cessação de novas compras de dívida nos mercados para reduzir a massa monetária em circulação e conter a inflação. No mês passado, esta última bateu um novo recorde na zona do euro, com 8,6% ano a ano.
O Federal Reserve americano (Fed, o Banco Central americano) e o Banco da Inglaterra se anteciparam ao BCE e começaram a aumentar as taxas de forma mais agressiva nos últimos meses para conter a inflação.
A tarefa do BCE é ainda mais complexa, porém, devido à ameaça de corte do gás russo, ao risco da crise política na Itália e à queda do euro.
O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, apresentou sua renúncia nesta quinta-feira. Com seu pedigree de ex-presidente do BCE, era visto pelos mercados como um fator de estabilidade.
O BCE também anunciou um novo instrumento para proteger os Estados mais vulneráveis de ataques especulativos à sua dívida.
Esta ferramenta "pode ser acionada para contrariar dinâmicas de mercado injustificadas e desordenadas que representem uma séria ameaça à transmissão da política monetária na zona do euro", cujo objetivo é uma taxa de inflação de 2% no médio prazo, detalhou um comunicado.
Nesta quinta, a Rússia reabriu o fluxo de gás para a Europa, após uma suspensão de dez dias das operações do gasoduto Nord Stream, mas com apenas 40% da sua capacidade.
A dependência europeia das importações energéticas russas preocupa as autoridades europeias, com a previsão de racionamento, caso Moscou suspenda o fornecimento de gás.
A Comissão Europeia apresentou na quarta-feira um plano para reduzir o consumo de gás em 15%, a fim de mitigar o potencial impacto econômico.
O BCE enfrenta, contudo, pressão por aumentos maiores em face da inflação persistente, dos aumentos de taxas no Reino Unido e nos Estados Unidos e da fraqueza do euro em relação ao dólar americano.
Os bancos centrais normalmente hesitam antes de aumentar as taxas, quando a economia enfrenta uma situação delicada, "mas as pressões inflacionárias aumentaram a um ponto em que o BCE precisa intervir", explicou Frederik Ducrozet, da Pictet Wealth Management.
Encontrar um ponto de equilíbrio entre crescimento e inflação parece "uma equação impossível de resolver" para o BCE, diz.
A última vez que o BCE elevou suas taxas de juros foi em 2011, mas uma crise da dívida europeia rapidamente obrigou a instituição a reverter o curso.
O anúncio do BCE em junho de que aumentaria as taxas de juros fez o custo dos empréstimos nos países mais endividados da zona do euro subir mais rápido do que em outros.
Por esta razão, o BCE tem dito que vai reinvestir os títulos de forma "flexível", de modo a absorver a dívida dos países de maior risco e aliviar a pressão. Também começou a projetar uma nova ferramenta de crise para preservar a "transmissão" de seus movimentos de política monetária com compras de títulos.
sea/mfp/mas/meb/zm/mr/tt
ING GROEP
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