Feliz ano velho? O que esperar da economia em 2016
No que diz respeito a economia, o Brasil deve começar o Ano-Novo com problemas velhos.
Consultorias econômicas preveem que 2015 deve registrar uma queda do PIB de algo em torno de 3,5%. A inflação deve ficar na casa dos 10%, e o desemprego continuará sua trajetória de alta, apesar da trégua que costuma dar no fim de ano.
O pior, porém, é que parece haver certo consenso entre economistas de que ainda não atingimos o fundo do poço.
Até o governo admite que a atividade econômica continuará a se contrair em 2016, o que resultaria em dois anos seguidos de recessão - algo que não ocorria no Brasil desde 1930.
"Em termos de crescimento econômico o que temos é uma tragédia. Nessa toada, o segundo mandato de Dilma Rousseff pode terminar até com uma média de crescimento do PIB negativa", disse a BBC Brasil André Biancarelli, economista da Unicamp.
Ele faz a ressalva, porém, que isso não quer dizer que haverá retrocessos significativos nas conquistas dos últimos anos.
"Já estivemos muito pior - e conseguimos avançar. Nos anos 1980, por exemplo, havia hiperinflação, a desorganização das contas públicas era maior e havia uma grande restrição de crédito ao país - sem falar na questão social. Nos resta esperar que a saída dessa crise seja menos complicada, embora a essa altura esteja muito difícil ver um horizonte de melhora."
Mas, afinal, o que isso deve significar para a vida dos brasileiros no ano que vem? E quando e como a crise pode dar sinais de arrefecimento?
A BBC Brasil conversou com economistas para entender o que se pode esperar da economia em 2016. Confira:
Crescimento econômico:
O governo já fez vários anúncios sobre como espera cortar gastos para avançar no ajuste fiscal. Mas pouco foi dito até agora sobre como se pretende retomar o crescimento.
Segundo analistas, o desafio em 2016 é, portanto, apresentar um projeto nesse sentido que recupere rapidamente a confiança dos empresários e consumidores.
"Em um cenário ideal, o governo poderia avançar na agenda de reformas estruturais, como a tributária e a da Previdência, e em outras mudanças que ampliam a competitividade das empresas brasileiras, mas sabemos que isso depende do Congresso", diz Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências.
"Também seria interessante se conseguisse avançar na busca de parcerias comerciais com outros países e blocos de modo a ampliar as vendas externas e dar mais dinamismo à economia do país", opina.
Já para Biancarelli, da Unicamp, a saída passa "por esforços para se recuperar um pouco o espaço do investimento público". "O ajuste fiscal acabou cortando principalmente os investimentos, o que foi um erro", diz.
É claro que, ainda que se consiga alguma fonte de crescimento, os resultados não devem aparecer no curto prazo. Mesmo as previsões mais otimistas só esperam uma retomada do crescimento no segundo semestre de 2016, com uma retração do PIB de 2% a 3% no consolidado do ano.
Para Marcos Mollica sócio-responsável pela gestão de recursos da Rosenberg Partners, tudo indica que em 2016 chegaremos ao "fundo do poço" e a economia poderá voltar a se recuperar em 2017, "ainda que lentamente".
No entanto, na sua avaliação, haveria riscos no cenário externo relacionados à recuperação chinesa e à política monetária americana. E no cenário interno os riscos estariam ligados a crise política e às dificuldades do governo para promover o ajuste.
Emprego
Desde o início de 2015, mais de 800 mil pessoas perderam seus postos de trabalho no Brasil. A taxa de desemprego, que em dezembro de 2014 chegou a 4,3%, já beira os 8% e muitos economistas não descartam um índice de dois dígitos em 2016.
"Acho que vai piorar antes de melhorar e é bem provável que passe de 10%", diz Otto Nogami, professor do Insper.
Segundo especialistas, os índices de desemprego são impulsionados por duas dinâmicas que continuarão expressivas em 2016.
De um lado, a queda na atividade de setores como construção civil, serviços, indústria de transformação e produção de óleo e gás estaria fechando postos de trabalho.
Do outro, a redução da renda real das famílias estaria obrigando algumas pessoas que tinham optado por não trabalhar, como jovens estudantes e aposentados, a procurar emprego. "Estimamos uma queda da renda (real dos trabalhadores) de 2% em 2016", diz Alessandra Ribeiro.
A economista da Tendências afirma que isso ocorre porque, além de a inflação alta acabar reduzindo o poder de compra da população, a crise no mercado de trabalho dificulta as negociações salariais.
E o problema é que um mercado de trabalho deteriorado também comprime ainda mais a demanda por produtos e serviços. "As empresas não investem se não acharem que haverá consumidores", diz André Perfeito, economista chefe da Gradual Investimentos. "O desafio é quebrar este ciclo."
Inflação
Em 2015, a inflação foi impulsionada por uma alta dos preços administrados, como telefonia, água, energia, combustíveis e transporte público, que, segundo alguns economistas, haviam sido "represados" em 2014, ano eleitoral.
A desvalorização do real também teve um impacto sobre os produtos importados, e os "exportáveis", como os produtos agrícolas. Isso porque, como os exportadores ganham mais vendendo para compradores estrangeiros, acabam cobrando um preço mais alto para manter seus produtos no mercado interno.
A boa notícia é que em 2016 os preços administrados não devem subir tanto, o que reduzirá a pressão pela inflação, embora o índice ainda deva ficar longe do centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5%.
No geral, as consultorias econômicas estimam uma alta de preços entre 6,5% e 7,5% em 2016.
"Por um lado, podemos ter um alívio nos preços administrados, mas acho que o dólar no patamar elevado vai continuar pressionando os custos das empresas que dependem de máquinas e insumos importados", diz Nogami, do Insper.
Uma das dificuldades para se conter a elevação de preços após um ano de alta é que no Brasil parte da inflação é inercial, ou seja, é alimentada pela indexação de contratos como aluguel e prestação de serviços e da prática de renegociações salariais.
Câmbio
Viagens ao exterior continuarão a pesar mais no bolso. Para o câmbio, as apostas parecem ser uma estabilização do dólar na casa dos R$ 4, ou um pouco abaixo.
"O mais provável é um dólar por volta de R$ 4,2 no final do ano que vem", diz Alessandra Ribeiro.
"Muito mais que isso, com uma taxa próxima dos R$ 5 por dólar, por exemplo, acho muito difícil. Isso só aconteceria em um cenário extremo que combinasse uma situação externa muito ruim com uma guinada heterodoxa na política econômica que aumentasse o clima de incerteza nos mercados."
Para Nogami, se houver uma estabilização do cenário político e ligeira melhoria das expectativas dos investidores, o câmbio pode se acomodar no patamar dos R$ 3,5 ou R$ 3,6.
"Mas também pode passar dos R$ 4 se a crise política se agravar e houver um ambiente de maior incerteza", diz o economista do Insper.
"A questão é que para a economia, um dólar mais alto é uma boa notícia", opina André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
"Até o ano passado a classe média brasileira estava indo para Miami para comprar de lençol egípcio a pasta de dente. Agora, não só os importados vão ficar mais caros, como as exportações brasileiras também vão ter mais chances de competir lá fora."
André Biancarelli, da Unicamp concorda, mas diz que as exportações não serão suficientes para "puxar a economia" como em 2004. "O cenário externo é outro, e o preço das commodities não está em alta", diz.
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