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As cinco atividades do crime organizado que rendem mais dinheiro no mundo

Glaucon Fernandes/Eleven/Estadão Conteúdo
Imagem: Glaucon Fernandes/Eleven/Estadão Conteúdo

Marcelo Justo

BBC Mundo

01/04/2016 09h35

De acordo com dados do Escritório da ONU contra Drogas e Crimes o comércio ilegal do crime organizado registra ganhos anuais de mais de US$ 2 trilhões.

O número é alto, porém é apenas uma estimativa dada a natureza ilegal do que está sendo analisado.

Este número equivale a cerca de 3,6% de tudo o que se produz e é consumido no planeta em um ano, ou a quatro vezes o PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina e quase dez vezes o da Colômbia.

O último relatório do Fórum Econômico Mundial fez uma estimativa menor - mais de US$ 1 trilhão --com base em uma pesquisa de 2011 feita pelo Global Financial Integrity (GFI), um centro de estudos de Washington.

O GFI elaborou seu relatório a partir de 12 atividades ilegais e as cinco primeiras são estas.

  • 1º Narcotráfico : US$ 320 bilhões
  • 2º Falsificação : US$ 250 bilhões
  • 3º Tráfico humano : US$ 31,6 bilhões
  • 4º Tráfico ilegal de petróleo : US$ 10,8 bilhões
  • 5º Tráfico de vida selvagem : US$ 10 bilhões

Se juntarmos a estas cifras os ganhos com outras atividades criminosas (desde o tráfico de órgãos até a venda de obras de arte) a soma chega a US$ 650 bilhões.

E se levarmos em conta que a maioria das transações são feitas em dinheiro vivo, a lavagem de dinheiro se transforma em um grande negócio que explica a soma total de mais de US$ 1 trilhão citada pelo Fórum Econômico Mundial.

A BBC Mundo analisou as cinco principais atividades do ranking do GFI.

1 - Narcotráfico

Em 2003 os ganhos com narcotráfico chegavam perto dos US$ 320 bilhões, uma cifra equivalente a 1% do PIB mundial.

A produção se concentra nos países em desenvolvimento e o principal destino são os mercados em países como Estados Unidos e países da União Europeia.

Em 2008 o rendimento econômico do mercado americano de cocaína chegou a US$ 35 bilhões. O cultivo de coca nos países produtores recebeu cerca de US$ 500 milhões.

Desde a grande explosão do tráfico de drogas no ocidente com as mudanças culturais da década de 1960, nenhuma estratégia conseguiu combater este crime.

Mesmo que em muitos casos o combate mais severo ao tráfico não conseguiu deter o aumento de um comércio globalizado, a estratégia de legalização das drogas também tem muitos críticos que temem que a iniciativa incentive um consumo descontrolado.

Parece ser mais fácil sufocar o narcotráfico financeiramente e, segundo Channing Sophia May, pesquisadora do tema para o GFI, esta seria uma boa medida.

"A diferença do tráfico de diamantes, que é uma atividade que opera com muito escambo por armas em zonas de conflito, é que o tráfico de drogas se movimenta com dinheiro. Isto precisa da mecânica da lavagem de dinheiro feita em paraísos fiscais, o subfaturamento do comércio internacional e o mercado negro de divisas", disse à BBC Mundo.

2 - Falsificação

Uma parte substancial do consumo e comércio mundial são transações de produtos falsificados. A estimativa é que este comércio chega a faturar US$ 250 bilhões.

A Organização Mundial de Alfândegas estima que estes produtos equivalem a algo entre 5% e 7% do comércio global.

Em 2009, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) calculou o impacto destes produtos de outra forma.

Segundo a organização, que reúne 34 países desenvolvidos e em desenvolvimento, o comércio mundial no ano de 2009 teve um aumento de 2% graças ao impacto dos produtos falsificados.

Uma das tendências mais preocupantes é o produto número um no mercado de falsificação: medicamentos.

"Quando uma pessoa compra uma carteira falsa, sabe o que comprou. Com os medicamentos é diferente, principalmente com a venda pela internet. Um dos grandes perigos é o impacto não apenas na saúde individual mas também na saúde pública. Um tipo comum de falsificação é o antibiótico com dose menor do ingrediente ativo, o que gera tolerância aos vírus, algo que pode ativar o surgimento de variedades mais virulentas", disse Sophia May à BBC Mundo.

3 - Tráfico humano

Estima-se que este ramo da economia clandestina chegue a faturar US$ 31,6 bilhões.

Os especialistas tentam diferenciar entre o tráfico humano e de imigrantes mas, com frequência, a fronteira entre ambos é indefinida.

Um imigrante que não pode pagar os custos da viagem e precisa trabalhar com frequência em condições de escravidão até pagar a dívida é um exemplo da dificuldade na hora de diferenciar estes fenômenos.

Em todo caso, o tráfico humano circula em uma direção parecida com a do narcotráfico: do mundo em desenvolvimento para o mundo desenvolvido.

Em seu último relatório publicado em 2014 a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os lucros privados deste comércio ilegal são de US$ 150 bilhões, uma cifra que se multiplica em cinco vezes segundo as estimativas da GFI.

De acordo com a OIT cerca de US$ 99 bilhões vêm de um dos grandes capítulos do tráfico humano: a exploração sexual.

Os outros US$ 51 bilhões se devem à exploração econômica e incluem o trabalho doméstico, agrícola, construção, indústria etc.

Segundo May a diferença em estimativas se deve fundamentalmente aos anos usados na comparação e a fatores circunstanciais como os eventos esportivos ocorridos no ano da medição.

"O tráfico sexual gera mais dinheiro e muitas vezes cresce de forma exponencial antes de grandes eventos como podem ser uma Copa do Mundo de futebol ou Olimpíada", afirmou.

4 - Tráfico ilegal de petróleo

O tráfico de petróleo gera uma quantia estimada em US$ 10,8 bilhões. Esta atividade tem figurado nas manchetes nos últimos anos devido a sua importância para o financiamento do grupo auto-denominado Estado Islâmico, que ganharia até US$ 500 milhões por ano, dinheiro indispensável para sua campanha militar.

Esta atividade se expandiu muito.

Uma das variantes é o aproveitamento do petróleo barato a preços subsidiados.

O GFI cita as diferenças de preço entre o Iraque (US$ 0,05 por galão) e o Kuwait (US$ 0,79) em 2005, como um terreno fértil para contrabandistas.

A Shell estima que, em 2014, mais de 100 mil barris de petróleo deixaram a Nigéria ilegalmente a cada dia enquanto que no México a Pemex afirma que perde cerca de US$ 700 milhões por ano.

"Às vezes falamos de contrabando de petróleo cru, outras, do refinado. O Estado Islâmico vende o cru. No México é um bom negócio o roubo de petróleo porque é relativamente simples se extrair diretamente dos oleodutos da Pemex", afirmou May.

5 - Tráfico da vida selvagem

Os casos mais conhecidos na imprensa desta atividade cujo valor global se estima em US$ 10 bilhões, são os de elefantes, rinocerontes e tigres, valiosos pelo marfim, os chifres e a pele.

O tráfico destes produtos entre a África e a Ásia produz cerca de US$ 75 milhões por ano em vendas ilegais e ameaça a existência de algumas espécies.

Segundo o Fórum Mundial da Natureza, os traficantes comercializam por ano cerca de 100 milhões de toneladas de peixes, um milhão e meio de pássaros e 440 mil toneladas de plantas medicinais.

"A venda de pássaros é particularmente importante na América Latina em países como a Costa Rica. E, muitas vezes, é a venda de espécies em perigo de extinção. Uma característica do comércio de vida selvagem é que o lucro vai aumentando à medida que avança pela cadeia criminosa", disse Sophia May.

"No comércio do marfim quem caça não ganha muito, mas quanto mais perto (o produto) está do consumidor, mais dinheiro faz", acrescentou.

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