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Alternativas a Dilma são tão 'tóxicas' quanto ela, diz ex-diretor do Banco Mundial

Ruth Costas - Da BBC Brasil em São Paulo

07/04/2016 16h44

Para o ex-editor da revista Foreign Policy e ex-diretor do Banco Mundial Moisés Naim, a crise política brasileira é uma manifestação "extrema" das tendências globais que ele define em seu último livro, oFim do Poder (Ed. Leya).

"(No Brasil de hoje) você tem muitos indivíduos, instituições e grupos com força para bloquear uma agenda (que vinha sendo implementada), mas a questão é que ninguém tem poder para impulsionar uma nova agenda. E o resultado é essa paralisação do país", disse Naim em entrevista à BBC Brasil.

"Mas não é só no Brasil. A questão da fragmentação do poder, que eu descrevo em meu livro, é uma tendência global da qual o Brasil é apenas um exemplo extremo."

Questionado sobre como um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff poderia ser percebido no exterior, Naim responde que "no geral, já está se esperando o afastamento - e se ele não ocorrer será uma surpresa".

"Acho que muita gente tem a sensação de que Dilma não é a líder que o Brasil precisa neste momento, mas o problema é o que fica, porque não há alternativa. Todos os que poderiam substituí-la depois desse processo estão tão contaminados, são tão tóxicos quanto ela", opina.

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Para Naim, é "insólito" que cerca de metade dos integrantes da comissão de impeachment sejam réus em processos que vão de corrupção a crimes mais graves.

Ele opina que um eventual governo do vice-presidente Michel Temer "não seria a solução". E faz a ressalva: "O problema do Brasil já é tão grande que não há um só indivíduo que possa resolver a situação. Não adianta buscar uma figura messiânica que chegue e resolva, isso não vai acontecer. É preciso um grande acordo nacional e alguém capaz de construir uma coalizão ampla para governar."

Na avaliação do ex-diretor do Banco Mundial, o Brasil precisa tomar decisões urgentes sobre sua política econômica.

"E o problema é que sistema - que inclui o Executivo, Legislativo, partidos políticos e a sociedade em geral - está sendo incapaz de permitir isso", afirma.

"Há coisas práticas que precisam ser feitas. Não se pode ter um déficit fiscal como há no Brasil, por exemplo. É preciso respeitar essas leis da economia que quando ascommodities estavam muito altas - e os recursos eram abundantes - muitos tinham a ilusão que podiam ignorar."

Best-seller

O último livro de Naim, que foi ministro de Comércio e Indústria da Venezuela no final dos anos 80 e início dos 90, tornou-se umbest-seller no ano passado depois que Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, postou na rede social que, como parte de um "desafio", leria um livro a cada semana - e escolheuO Fim do Poder para começar a empreitada.

Nele, Naim defende que os detentores tradicionais de poder - governantes, grandes corporações, exércitos - estão enfrentando um número cada vez maior de barreiras a sua capacidade de governar ou implementar uma agenda.

Essas barreiras seriam impostas pela ação de atores como ativistas sociais, a mídia e entidades ou políticos rivais (no caso de autoridades), que hoje têm instrumentos e tecnologias para se mobilizar e atuar que não tinham no passado.

"O poder está em decadência", escreve Naim. "No século 21, é mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder."

O problema, na avaliação do ex-diretor do Banco Mundial, é que se há muitas forças capazes de "destruir" e impor limites ao poder tradicional, há poucas capazes de "construir" algo.

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No campo político, Naim diz que entre as consequências dessas tendências estão a rejeição aos partidos políticos tradicionais e aumento da polarização.

"É só olhar para o mundo: nos EUA temos o Donald Trump. Na Espanha, o Podemos (um partidoanti-establishment ), que apareceu em 2014 e hoje é uma potência política", diz ele.

"Está crescendo a ideia de que tudo o que tem a ver com a política (tradicional) é ruim. Temos uma queda da confiança em políticos, empresários, sistema judiciário, jornalistas e até entidades religiosas. E isso gera uma situação em que é muito difícil ter um contrato social. O resultado é uma paralisação e redução da capacidade de se governar."