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Por que um britânico pediu um corte de R$ 2,5 mi em seu salário anual?

Divulgação
Imagem: Divulgação

Willem Marx

BBC News

12/04/2016 07h57Atualizada em 14/04/2016 18h23

Richard Pennycook é um alto executivo da empresa britânica Co-op Group e pediu um corte de 500 mil libras (cerca de R$ 2,5 milhões) em seu salário anual.

A partir de julho, o salário do executivo deve cair de 1,25 milhão de libras para 750 mil, além de bônus.

Inicialmente pode parecer loucura: se a diretoria de sua companhia pode pagar a quantia completa, por que aceitar menos?

O episódio volta a trazer a tona o debate quanto aos altos salários e bônus de grandes executivos - e até mesmo quanto a cortes salariais de todo o corpo de funcionários de uma determinada empresa, em momentos esporádicos.

Pennycook chegou a receber um total de 3,6 milhões de libras (cerca de R$ 18 milhões) em 2015, mas disse que isso se deveu à longa jornada diária que cumpriu no ano passado, além de muitos finais de semana passados no escritório, longe da família.

"Passamos por um período difícil e muito intenso, e espero que os membros (da diretoria) tenham visto minha remuneração como sendo apropriada para aquele momento", disse o executivo à BBC.

Mas agora, segundo o presidente da Co-op, Allen Leighton, a recuperação da empresa traz uma oportunidade para o corte de salário do diretor-executivo.
Lição

Simon Walker, diretor da organização Institute of Directors (IoD), especializada em ajudar grandes companhias, disse que a decisão de Pennycook foi "inovadora" e deve inspirar outras grandes empresas.

"As medidas proativas tomadas hoje pelo senhor Pennycook e a diretoria da Co-op devem servir como um alerta para outras companhias", afirmou. "Ser aberto, honesto e transparente em relação aos salários de altos executivos pode trazer muitos benefícios e restaurar a confiança do público nas empresas britânicas."

Durante a crise financeira de 2008, executivos de grandes empresas - sobretudo do setor financeiro - tiveram seus salários e bônus questionados em várias partes do mundo.
Chris Roebuck, professor da London's Cass Business School, afirmou que Pennycook deu um exemplo que "outros deveriam seguir".

"Criar uma cultura do 'nós, e não eu' na verdade gera mais dinheiro do que uma cultura do 'eu, e não nós'", disse.

Debate

Esse debate também é forte nos EUA, onde os nove diretores-executivos no topo da lista dos mais bem pagos ganham 800 vezes mais do que a média dos trabalhadores.

Em 2015, Daniel Price, diretor da empresa Gravity, sediada em Seattle, cortou seu salário - de um pico que chegou a US$ 2 milhões (mais de R$ 7 milhões) anuais em 2012 - para US$ 70 mil (quase R$ 249 mil), uma quantia que ele introduziu como o salário mínimo da empresa.

Price foi elogiado, e a Gravity recebeu o currículo de muitos candidatos interessados em trabalhar na empresa.

Mas o executivo acabou sendo processado por seu próprio irmão, que é cofundador da Gravity, por ter recebido um salário muito alto nos anos anteriores ao anúncio do corte de salário.

Outro exemplo famoso é o de Yang Yuanqing, diretor-executivo da maior fabricante de computadores do mundo, a Lenovo, que dividiu seu bônus salarial com os funcionários da empresa durante dois anos, 2012 e 2013.

Yang Yuanqing, diretor-executivo da maior fabricante de computadores do mundo, a Lenovo - Shen Bohan/Xinhua - Shen Bohan/Xinhua
Yang Yuanqing (à esq.), diretor da Lenovo
Imagem: Shen Bohan/Xinhua

O setor de recursos humanos da Lenovo afirmou que Yuanqing queria "garantir que os funcionários compreendessem o impacto" que tiveram na companhia.

A sede da Lenovo fica em Pequim, capital da China, onde a disparidade de riqueza é considerada por muitos um desafio ao sistema político comunista do país.

Cortes de salários

Não são apenas os altos executivos de algumas grandes companhias que cortaram os salários. Funcionários de fábricas alemãs também tiveram seus rendimentos reduzidos durante a crise financeira.

Um estudo realizado em 2011 pela consultoria Booz & Co opinou que reduzir o salário de funcionários mais antigos era uma alternativa mais aconselhável do que simplesmente demitir estes funcionários quando reduções de custos são necessárias.

Em alguns países, empresas diminuem os salários de funcionários se o desempenho fica abaixo do esperado. E também há alguns exemplos de altos executivos reduzindo o próprio pagamento de forma voluntária.

Mas decidir por um corte de salário durante um período de "recuperação" é o que faz com que a decisão de Pennycook seja tão inusitada.

No entanto, é bom lembrar que é sempre mais fácil diminuir o salário se você já ganha 1,25 milhão de libras por ano.