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A revolução econômica gerada pela pílula anticoncepcional

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Imagem: Thinkstock

11/06/2017 17h32

A pílula anticoncepcional teve profundas consequências sociais. Poucos questionariam essa afirmação.

Esse era, aliás, o objetivo da militante pelo controle da natalidade Margaret Sanger, que fez campanha para que cientistas desenvolvessem a pílula. Sanger queria liberar as mulheres sexual e socialmente, colocando-as em condições de igualdade com os homens.

Mas a pílula não foi apenas socialmente revolucionária. Ela também provocou uma verdadeira revolução econômica - talvez uma das transformações econômicas mais importantes do século 20.

Para entender as razões disso, vejamos o que a pílula anticoncepcional trouxe às mulheres.

Antes de mais nada, ela funcionava - ao contrário dos outros métodos disponíveis na época.

Ao longo dos séculos, casais tentaram todo tipo de recuso para evitar a gravidez. No Egito Antigo, usava-se excrementos de crocodilo. Na Grécia, Aristóteles recomendava óleo de cedro. Na Itália do sedutor Casanova, a receita envolvia a introdução de a metade de um limão na vagina - como uma espécie de tampa para o colo do útero.

Até mesmo soluções modernas - como a camisinha - têm índices altos de fracasso. Quando usada de forma incorreta, a camisinha pode furar ou sair do lugar. Como resultado, em cada cem mulheres que usam camisinha durante um ano, 18 ficam grávidas. Estatísticas sobre o uso do diafragma não revelam efetividade muito maior.

O índice de falha da pílula, no entanto, fica em torno de 6%. Ela é, portanto, três vezes mais segura do que a camisinha.

Mudança de vida

O uso da camisinha precisa ser negociado com o parceiro. O diafragma e a esponja vaginal são mais complexos - envolvem uma certa habilidade para a sua utilização e são pouco discretos.

A pílula, no entanto, depende exclusivamente da mulher e pode ser administrada em total privacidade. Ela foi aprovada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1960. Em apenas cinco anos, quase metade das mulheres casadas que faziam controle da natalidade estava tomando a pílula.

A verdadeira revolução, no entanto, aconteceu quando mulheres solteiras tiveram acesso a esse método anticoncepcional. Levou uma década, mas Estados americanos começaram a facilitar o acesso de mulheres solteiras à pílula a partir de 1970.

Por volta de 1975, esse era o método anticoncepcional preferido entre mulheres com 18 e 19 anos nos Estados Unidos.

Foi nesse ponto que a revolução econômica realmente começou.

Mulheres americanas passaram a escolher cursos universitários - Direito, Medicina, Odontologia e Administração - que até então eram frequentados, predominantemente, por homens.

Em 1970, 90% dos formandos em Medicina eram do sexo masculino. No Direito e na Administração, homens detinham 95% dos diplomas. Na Odontologia, 99% dos diplomados eram homens.

Mas no início daquela década, munidas da pílula, mulheres começaram a adentrar as salas de aula. Inicialmente, eram um quinto da classe, depois, um quarto. Por volta de 1980, respondiam por um terço do total de alunos.

Progresso profissional

Mas o que isso teve a ver com a invenção da pílula anticoncepcional? Ao oferecer às mulheres alguma forma de controle sobre sua fertilidade, a pílula permitiu que investissem em suas carreiras.

Antes da chegada da pílula, investir cinco anos ou mais do seu tempo em um diploma de médica ou advogada não parecia uma ideia sensata. Para se beneficiar desses cursos, uma mulher precisaria ser capaz de adiar a maternidade até pelo menos os 30 anos de idade.

Ter um bebê na hora errada atrasaria seus estudos ou seu progresso profissional.

A abstinência sexual também não era opção para as mulheres naquele período. Antes da chegada da pílula, as pessoas se casavam cedo. Se uma mulher optasse pela abstinência enquanto investia em sua carreira, corria o risco de chegar aos 30 anos e descobrir que todos os "bons candidatos" já estavam comprometidos.

A pílula acabou influenciando tanto a vida sexual da mulher quanto o casamento. Mulheres casadas podiam ter sexo com risco muito menor de gravidez. E todas as mulheres começaram a se casar mais tarde, mesmo aquelas que não usavam a pílula.

Os bebês começaram a chegar mais tarde e na hora escolhida pela mulher. E isso significa que essa mulher já havia tido tempo de se estabelecer profissionalmente.

Muitas outras coisas mudaram para as americanas na década de 1970.

Aumento na renda

O aborto foi legalizado, leis contra a discriminação por sexo foram criadas, o feminismo emergiu como movimento e a convocação de jovens do sexo masculino para lutar na guerra do Vietnã forçou empregadores a recrutar mais mulheres.

No entanto, uma análise estatística feita pelos economistas Claudia Goldin e Lawrence Katz, da Universidade Harvard (EUA), indica que a pílula teve um papel fundamental em permitir que mulheres adiassem o casamento e a maternidade - e passassem a investir em suas carreiras.

Goldin e Katz monitoraram a disponibilidade da pílula para mulheres jovens em cada Estado americano. Eles demonstraram que, à medida que as autoridades nos Estados liberavam o acesso à pílula, aumentava o número de matrículas de mulheres em cursos, assim como os salários pagos a mulheres.

Há alguns anos, a economista Amalia Miller usou uma série de métodos estatísticos para demonstrar que se uma mulher com idade entre 20 e 30 anos fosse capaz de retardar a maternidade em um ano, seu salário aumentaria em 10%.

Realidade alternativa

Na década de 1970, no entanto, jovens mulheres não precisavam ler o estudo de Amalia Miller - já sabiam, na prática, dos resultados. Agora, em números jamais sonhados, elas ocupavam as salas de aulas de extensos cursos universitários.

Para se ter mais uma medida do impacto da pílula sobre a vida das mulheres, basta olharmos o caso do Japão, onde a pílula somente foi aprovada para consumo em 1999. O atraso de 39 anos teve grave impacto sobre o futuro das mulheres no país.

Apesar de ser uma das sociedades tecnologicamente mais avançadas do mundo, o Japão é tido por muitos como a nação desenvolvida com maior desigualdade de gênero no mundo.

É impossível distinguirmos entre causa e efeito nesse caso, mas a experiência nos Estados Unidos sugere que não seja coincidência.