Por que a falta de mulheres investindo em bitcoins pode ser um mau sinal
Os homens são mais propensos a realizar investimentos de alto risco do que as mulheres? Alguns analistas acreditam que sim.
John Coates, especialista em neurologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e ex-investidor de Wall Street, associa o comportamento irracional das bolhas financeiras à atitude de jovens do sexo masculino, que investem fascinados pelos lucros milionários que podem obter em pouco tempo.
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Segundo ele, a explicação para o perfil mais agressivo na hora de investir pode estar nos hormônios - no caso, no mecanismo de recompensa ligado à liberação de testosterona quando fazem um investimento bem-sucedido.
Esse argumento reforça que historicamente os mercados especulativos, que levaram à formação das piores bolhas da história da economia, foram dominados por investidores homens - da "tulipomania", no século 17, na Holanda, à crise das hipotecas "podres", em 2008, nos Estados Unidos.
Coates baseia sua análise na experiência que teve no fim da década de 1990, quando se formava a bolha das ações de empresas "pontocom", mais conhecida como a bolha da internet.
"Estava encarregado de uma mesa de operações do Deutsche Bank e me dei conta de que os corretores da bolsa não tinham um comportamento normal. Estavam eufóricos, delirantes, assumindo riscos excessivos", explicou o acadêmico canadense em entrevista à revista Forbes.
Na opinião do especialista, as mulheres pareciam relativamente imunes à onda de euforia que tomava conta da maior parte de seus colegas.
"O setor de finanças e tecnologia está dominado por homens, que têm um desempenho precário avaliando riscos", explica Angela Walch, especialista em criptomoedas da University College London (UCL).
"Como esses dois setores trabalham com elementos de alto risco, mais mulheres deveriam participar das equipes para equilibrar os perfis", acrescenta.
Ela lembra que o princípio da diversidade é estratégico na hora de tomar decisões sobre investimentos:
"O comportamento de grupo pode se impor, gerando atitudes que no futuro vão provocar arrependimento."
Mercado cheio de testosterona
Pesquisas mostram que a participação feminina no mercado financeiro dos Estados Unidos é muito baixa - não chega a 10%, sendo ainda menor em cargos de liderança.
E nas posições mais altas de uma empresa, a situação piora: as mulheres representam 2,1% dos diretores executivos na lista das 500 empresas com maior capitalização de mercado.
"O fato de 95% dos investidores em bitcoin e outras criptomoedas serem homens é um grande alerta vermelho para mim", afirma Duncan Stewart, diretor de pesquisas da consultoria canadense Deloitte.
"Não consigo pensar em nenhuma moeda ou investimento na história que mostre uma divisão de gênero tão extrema e tenha sido sustentável", diz ele.
Até mesmo entusiastas do bitcoin têm debatido a questão. Um artigo publicado em novembro no site bitcoin.com analisou a disparidade de gênero do mercado e atribuiu a discrepância à histórica dominação masculina na indústria de tecnologia.
Walch lembra que o mercado de criptomoedas oferece uma ampla variedade de empregos em toda a cadeia.
"Existem desenvolvedores de software, criptógrafos, empresários, especialistas em marketing, economistas. É importante que a representatividade das mulheres cresça em todas as áreas."
Neste sentido, a diferença de gênero que tradicionalmente existe no mundo das finanças é ampliada no caso das criptomoedas. Como esse é um mercado de alto risco, a ausência de pessoas com uma visão mais cautelosa faz ainda mais falta.
Não há, no entanto, garantias de que a incorporação de mais mulheres nesse mercado levaria a comportamentos menos arriscados, uma vez que não há estudos que analisem essas variáveis no longo prazo.
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