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As seis economias latino-americanas que mais caíram em 2020

Venezuela completa sete anos consecutivos de contração econômica em 2020 - Getty Images via BBC
Venezuela completa sete anos consecutivos de contração econômica em 2020 Imagem: Getty Images via BBC

25/12/2020 10h50

Este ano registrará a maior contração na economia mundial desde 1946, como resultado do impacto da pandemia do coronavírus.

Para a América Latina, a situação foi ainda pior.

A região sofreu a maior queda no Produto Interno Bruto (PIB) em mais de um século, segundo informou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) na semana passada.

"Nesse contexto, se compararmos diferentes indicadores de saúde, econômicos, sociais e de desigualdade, a América Latina e Caribe formam a região mais atingida no mundo emergente", disse a entidade em relatório.

Os países latino-americanos como um todo já apresentavam baixas taxas de crescimento econômico — em média, 0,3% entre 2014 e 2019, antes mesmo de a pandemia de covid-19 eclodir.

Neste sentido, "com a chegada da pandemia, os choques externos negativos e a necessidade de implementação de políticas de confinamento, distanciamento físico e fechamento das atividades produtivas se somaram a esse baixo crescimento econômico, que fez com que a emergência sanitária se materializasse na pior crise econômica, social e produtiva que a região viveu nos últimos 120 anos", explicou a Cepal.

Embora a redução da atividade econômica global tenha afetado toda a região e todos países registraram contração do PIB, nem todos foram afetados da mesma forma.

Confira abaixo quais são as 6 economias latino-americanas que mais caíram em 2020 e os fatores específicos que influenciaram esses resultados ruins.

1) Venezuela: -30%

A Venezuela lidera com ampla vantagem a lista das economias latino-americanas que mais caíram no final do ano, com -30%, segundo estimativas da Cepal.

Esse enorme revés, no entanto, não é apenas atribuível à pandemia do coronavírus. Está relacionado a outros problemas que levaram a economia venezuelana a registrar seu 7º ano consecutivo de contração econômica em 2020.

"Desde 2014, a dinâmica apresentada pelo PIB dos setores petrolífero e não petrolífero da economia venezuelana tem se caracterizado por uma contração prolongada e severa. Essa situação se agravou em 2020 devido aos efeitos da pandemia do coronavírus, uma grave escassez de combustível e o endurecimento das sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor público venezuelano", disse a Cepal em documento sobre a economia venezuelana publicado em anexo a seu relatório.

A Torino Economics, divisão do Torino Capital LLC Investment Bank, com sede em Nova York, calcula que a queda do PIB venezuelano em 2020 foi menor do que a estimada pela Cepal: 24,7%.

Apesar de a Cepal esperar que em 2021 haja uma retomada nas economias latino-americanas, o que pode levar a um crescimento médio regional de 3,7%, a entidade estima que a Venezuela será o único país da região que não crescerá, embora deva registrar uma desaceleração no ritmo de queda de seu PIB, de 7%.

2) Peru: - 12,9%

Ao contrário da Venezuela, o Peru começou 2020 com um histórico de dar inveja: uma década ininterrupta de crescimento econômico.

Apesar disso, fechará este ano com uma contração em seu PIB de 12,9%, o que o torna "um dos mais atingidos (países) do mundo" por causa do coronavírus , segundo a Cepal.

"A queda do PIB dos parceiros comerciais impactou fortemente a demanda externa, e a demanda interna entrou em colapso devido à redução dos gastos das famílias e à interrupção dos projetos de investimento", afirma a Cepal em documento publicado sobre a economia peruana como um anexo ao seu relatório.

Segundo a organização, outro fator que influenciou a queda do PIB peruano foi o choque produzido pela "forte paralisação da produção" causada pelo confinamento estrito que durou vários meses.

A Torino Economics destaca que, em meio à pandemia, o Peru executou um dos maiores programas de estímulo fiscal de toda a América Latina, mas "sua eficácia foi limitada em decorrência das rígidas medidas de contenção implementadas e uma interrupção abrupta de investimentos e exportações, aliada à queda dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais. "

3) Panamá: -11%

Entre 2010 e 2019, o Panamá registrou um crescimento econômico médio constante de 6,2% ao ano.

Em 2020, porém, a Cepal o classificou como o terceiro país da América Latina com a maior contração do PIB: 11%.

"Essa queda se deve principalmente às medidas implementadas no país e no mundo para enfrentar a pandemia do covid-19", afirmou a Cepal.

A entidade destacou que entre janeiro e agosto de 2020, o valor das exportações do país caiu 23,7% em relação ao mesmo período de 2019, principalmente devido à queda nas exportações da Zona Franca de Cólon, que representam mais de 90% das exportações de mercadorias do Panamá.

As receitas relacionadas ao turismo e serviços financeiros também foram afetadas, assim como a construção, hotelaria e cassino, setores importantes da economia panamenha.

De acordo com a Cepal, a expectativa é de que em 2021 o Panamá cresça 5,5%, impulsionado pela retomada gradual da atividade econômica.

4) Argentina: -10,5%

A Argentina é, como a Venezuela, uma das economias da região que vinha registrando uma contração econômica antes da pandemia.

O país vai registrar em 2020 o 3º ano consecutivo de contração do PIB. A Cepal estimou essa queda em 10,5%, muito superior aos 2,1% sofridos em 2019.

"Esse desempenho se deve ao impacto da crise da pandemia do coronavírus (covid-19), que afetou negativamente o consumo privado, os investimentos e as exportações", afirmou a entidade.

"A atividade econômica contraiu 12,6% ano-a-ano no primeiro semestre de 2020, devido à queda do investimento (28,7% ano-a-ano), consumo privado (14,5%), exportações (8,7%) e o consumo público (5,5%), no quadro da pandemia de covid-19, que trouxe consigo um elevado grau de incerteza e a partir da qual se estabeleceram restrições à circulação, com impacto negativo em ambos oferta e demanda", disse a Cepal.

A Torino Economics, por sua vez, relaciona a contração econômica na Argentina à "queda de setores como hotelaria e turismo, outras atividades de serviços comunitários, construção, transporte, além de comunicações e pesca, dada a paralisação das atividades desde março para prevenir a propagação do vírus."

Além disso, assinala que o impacto da pandemia exacerbou os desequilíbrios macroeconômicos estruturais que a Argentina sofre, especialmente nas áreas fiscal, monetária e cambial.

Apesar disso, a Cepal estimou que, em 2021, o país vai registrar um crescimento de 4,9%, graças à retomada gradual das atividades produtivas, em função da evolução da pandemia e da disponibilidade de vacinas.

5) México: -9%

A economia do México havia contraído 0,1% em 2019.

Neste ano, porém, sua queda será bem mais acentuada, 9%, a maior contração do PIB desde 1932, segundo a Cepal.

Entre os fatores que influenciaram essa contração, a entidade destaca uma queda nas receitas do petróleo de 42,9% entre janeiro e outubro.

No mesmo período, houve queda de 11,2% nas exportações não petrolíferas com destino aos Estados Unidos e de 12% nas destinadas ao resto do mundo.

A Cepal destacou também a queda de 18,3% nos fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o que atribui não só à pandemia, mas "também à incerteza gerada pelas recentes decisões de política pública", que afetaram diretamente projetos de produção de energia, aeroportos e bebidas.

Quanto às perspectivas de recuperação para 2021, a Cepal estimou que o PIB mexicano crescerá 3,8% devido a uma recuperação gradual da atividade econômica.

A Torino Economics, porém, é mais conservadora e espera um crescimento de 2%.

6) Equador: -9%

No caso do Equador, a Cepal considerou que o coronavírus agravou uma tendência negativa anterior.

"O impacto da crise atual em decorrência da pandemia aprofundou a complexa situação econômica que já surgia desde o terceiro trimestre de 2019", afirmou a entidade, em documento anexo a seu relatório sobre a região.

A Cepal estimou que o PIB equatoriano cairá 9% este ano.

E acrescentou que o efeito da pandemia resultou em "uma queda drástica em todos os componentes da demanda agregada".

Assim, por exemplo, apontou que no segundo trimestre deste ano houve queda no consumo das famílias (12%) e do governo (10,5%) em relação ao mesmo período de 2019.

Já as exportações de petróleo registraram, entre janeiro e setembro de 2020, um decréscimo de 44% na comparação com o ano anterior.

A Torino Economics, por sua vez, considera que esta "queda histórica" da economia equatoriana é resultado tanto da queda do investimento real como da redução do consumo, bem como das medidas de contenção.

Olhando para 2021, a Cepal estimou que o PIB equatoriano crescerá 1%, sujeito a uma "recuperação fundamental da demanda interna".

"Dependerá do impacto dos diversos programas implementados pelo governo para fazer frente à pandemia e seu controle, bem como sustentar a retomada da atividade econômica e amortecer as repercussões sociais", afirmou a Cepal.

A entidade, no entanto, destacou que são inúmeras as incertezas sobre esse panorama, principalmente relacionadas às condições externas como a evolução da pandemia e uma possível nova queda nos preços do petróleo.

E o Brasil?

Apesar de não estar entre as economias na América Latina que mais vão cair em 2020, o Brasil deve apresentar contração de 5,3% em seu PIB neste ano, de acordo com a Cepal.

Para 2021, a previsão é de crescimento de 3,2%.

"Em 2020, a pandemia da doença coronavírus (COVID-19) marcou negativamente a evolução da economia brasileira e um elevado número de vidas", disse a entidade.