IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Universo paralelo em Davos: bilionários, realeza e uísque escocês

Matthew G. Miller

23/01/2015 18h22

(Bloomberg) - Existe um universo alternativo no Fórum Econômico Mundial, em que as discussões em mesas redondas são trocadas por encontros privados com banqueiros e onde o cheiro de Johnnie Walker Blue Label flutua no ar desde o começo da tarde.

O mundo paralelo fica no Steigenberger Grand Hotel Belvédère, a cinco minutos de caminhada do centro de convenções de Davos, Suíça - montanha acima, através de um túnel branco inflável, ao longo de vários quarteirões de calçadas cheias de neve, subindo 33 degraus de pedra e descendo uma rampa repleta de placas azuis da KPMG.

No saguão, bilionários e executivos se misturam e muitos deles estão acompanhados de seguranças, assessores de imprensa ou assistentes. Alguns se dirigem ao Audi Lounge, onde podem conferir o protótipo de um sedã cinza com um painel tridimensional.

"Alguns dos figurões - chefes de estado, bilionários, CEOs - vêm aqui para uma ou duas reuniões específicas e querem privacidade para isso", disse Richard Stromback, 46, ex-jogador profissional de hóquei e investidor de capital de riscos, na quinta-feira em um dos bares patrocinados no Belvédère. "A outra versão de Davos existe porque é muito difícil encontrar espaços privativos".

Nos corredores do primeiro e do segundo andar, companhias financeiras como Goldman Sachs Group Inc. e Deutsche Bank AG têm pequenos escritórios para que os banqueiros possam se reunir a portas fechadas com seus clientes.

Políticos e celebridades

A Bolsa de Nova York e a empresa de consultoria em tecnologia da informação Infosys Ltd. têm salas no segundo andar. Mais adiante está o OAO Sberbank, banco com sede em Moscou que foi sancionado pelos EUA e pela Europa, em resposta à incursão da Rússia na Ucrânia.

O Belvédère também é o lugar onde políticos, celebridades e as pessoas mais ricas do mundo se encontram. Bill Clinton, Angelina Jolie e Bill Gates foram vistos lá em anos anteriores e algumas das melhores festas da semana ocorrem no hotel. Ele é um dos quase doze hotéis onde o fórum aluga espaço para eventos.

O ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, cercado por dois guarda-costas, estava no saguão quinta-feira de manhã, assim como o presidente do conselho da Glencore Plc, Tony Hayward.

Negócios

Salas improvisadas, usadas por firmas de consultoria, estão espalhadas pelo hotel. A arte também é patrocinada, inclusive uma obra criada para a Deloitte, composta por papéis adesivos azuis e verdes da Post-it, que decora o hall de entrada.

"Faz-se negócios em Davos porque as pessoas que vêm aqui precisam de confiança, que só se obtém cara a cara", disse Walter Schindler, fundador da empresa de capital de risco SAIL Capital Partners LLC, na quinta-feira, enquanto bebericava vinho tinto no bar patrocinado pela fabricante de software Wipro Ltd. Schindler disse que fechou um negócio na manhã daquele dia, em outro hotel.

"Eu venho a Davos porque posso me encontrar com as pessoas com quem quero fazer negócios", disse Schindler. "Não preciso ir para a conferência para conseguir isso".

Cobertura

Stromback, o investidor, disse que faz dez anos que ele vai a Davos. Ele alugou uma cobertura perto do Belvédère, onde deu uma festa temática espacial com os bilionários Henry Ross Perot Jr. e Richard Branson.

Nem todos querem ter encontros privados no Belvédère. O bilionário Rahul Bajaj, 74, presidente do conselho da Bajaj Auto Ltd., com sede na Índia e fabricante do riquixá, veículo de três rodas popular no país, estava no hotel para participar de uma recepção privada oferecida pelo príncipe Andrew, o segundo filho da rainha Elizabeth II do Reino Unido.

Bajaj disse que adora Davos porque nunca faz negócios lá.

"Venho desde 1979, nunca fechei um negócio", disse Bajaj, a caminho da recepção. "Só vejo amigos, aproveito o clima".

Título em inglês: Tales of a Davos Barfly: Billionaires, Royals and Scotch Whisky Para entrar em contato com o repórter:Matthew G. Miller, em Nova York, mmiller144@bloomberg.net