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Rejeitadas do Ibovespa mostram nova face do mercado brasileiro

Nelson Almeida/AFP
Imagem: Nelson Almeida/AFP

Denyse Godoy e Fabiola Moura

07/01/2016 11h20

(Bloomberg) -- Para se ter uma ideia do tamanho da crise no Brasil, basta olhar o quanto mudou o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, nos últimos anos.

A Gol (GOLL4), maior empresa aérea de capital aberto do Brasil, e a Eletrobras (ELET3), maior distribuidora de energia da América Latina, foram retiradas do índice referencial do mercado acionário na mais recente reformulação trimestral, realizada nesta semana.

A Weg (WEGE3), uma fabricante de maquinários industriais pouco conhecida, cujo valor de mercado subiu para R$ 24,2 bilhões (US$ 6 bilhões), com valor de mercado muito menor que o da Gol, foi adicionada.

A Gol e a Eletrobras entram em uma lista de mais de vinte ações que já não fazem parte do índice, mas que no início da década registravam ganhos de até 50% ao ano. Outras empresas que antes eram poderosas também perderam peso no Ibovespa.

Petrobras, Vale e OGX

Em março de 2010, quando o Ibovespa atingiu uma alta recorde, a Petrobras (PETR3, PETR4) se preparava para uma venda recorde de ações, a mineradora Vale (VALE3, VALE5) respondia por quase 17% do peso do índice e a OGX (OGXP3), a startup do setor de petróleo de Eike Batista, à época o homem mais rico do Brasil, era uma das ações mais negociadas.

Hoje, a OGX (que agora se chama Ogpar) é negociada a R$ 0,03 depois de ter pedido recuperação judicial, a Petrobras perdeu quase 80% de seu valor e o peso da Vale diminuiu para pouco mais de 5% do Ibovespa.

"Há cinco anos, poderíamos ter imaginado que os preços das commodities cairiam um pouco, mas não tão drasticamente", disse Paulo Figueiredo, economista da empresa de gestão de ativos FN Capital em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Isso "mudou muito o portfólio do Ibovespa. Esse é o retrato da transformação da economia brasileira".

A Gol, que em 2010 tinha recomendação de compra de 90% dos analistas que a cobriam, perdeu 83% de seu valor em 2015 e deverá registrar seu quinto prejuízo anual seguido em meio ao aumento da dívida em dólares, aos crescentes custos dos combustíveis e à demanda mais fraca.

A Eletrobras perdeu mais de três quartos de seu valor nos últimos cinco anos depois que o governo a forçou a reduzir preços em troca de renovações de concessões de geração de energia.

As assessorias de imprensa da Gol e da Eletrobras preferiram não comentar.

Portfólio diversificado

Entre as empresas que já não compõem o portfólio do Ibovespa desde 2010, sete foram adquiridas, incluindo a Redecard e a TAM. As construtoras Rossi Residencial (RSID3) e PDG Realty (PDGR3) perderam seus lugares no índice após aumentos no endividamento e tiveram que reduzir as operações.

A empresa de mineração de Eike Batista, a MMX (MMXM3), também entrou com pedido de recuperação judicial.

Com a queda dos preços do petróleo e dos metais, importantes produtoras de matérias-primas do Brasil tiveram problemas.

Tanto o petróleo bruto no West Texas Intermediate quanto o índice de commodities S&P GSCI caíram mais de 50% nos últimos cinco anos. Isso reduziu o peso das empresas de commodities no índice para cerca de 20%, contra 50% em 2010.

"O portfólio agora está mais equilibrado e permite que o investidor diversifique melhor o risco", disse Fernando Góes, analista da Clear Corretora, de São Paulo.