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Os odiados US$ 23 bi de Trump destravam crédito mexicano

Ben Bain e Isabella Cota

18/01/2016 09h58

(Bloomberg) -- Milhões de mexicanos compram todo tipo de coisa, desde alimentos até medicamentos, com dinheiro enviado por parentes que trabalham nos EUA. Agora, esses recursos poderão permitir que eles tomem empréstimos automotivos em um país onde grande parte da população não tem acesso a crédito.

A japonesa Nissan Motor Co. e seu braço local de financiamento disseram neste mês que começarão a conceder empréstimos aos mexicanos que usam sua família nos EUA como fiadores e que podem demonstrar que recebem remessas regularmente.

A medida torna o crédito mais prontamente disponível em um país onde mais da metade dos habitantes tem empregos não tributados pelo governo, o que torna difícil, para milhões de pessoas, a comprovação dos ganhos e deixa os bancos relutantes na hora de emprestar. Apenas 39 por cento dos mexicanos possuíam contas bancárias em 2014, contra 94 por cento nos EUA, segundo dados publicados pelo Banco Mundial em abril.

"Se os bancos atendem apenas os clientes potenciais que têm uma renda regular em um emprego formal, o crédito continuará um tanto pequeno e saturado nessas áreas", disse Alexis Milo, economista-chefe do Deutsche Bank para o México, em entrevista, da Cidade do México. "Há um grande número de possíveis clientes inexplorados".

O programa de empréstimos, conhecido como "Sem Fronteiras", dá à Nissan, que já é a marca automotiva mais popular do país, acesso a possíveis clientes em um momento em que as vendas de carros estão aumentando. O impulso de financiamento surge também no momento em que os trabalhadores imigrantes que estão nos EUA tiram vantagem da queda do peso para enviar mais dinheiro para os seus parentes. No período de 12 meses até novembro, as remessas totalizaram US$ 22,6 bilhões, maior montante desde 2008, segundo o banco central. Os EUA são historicamente a fonte de mais de 95 por cento desse dinheiro.

Esses recursos atraíram a ira de Donald Trump, o principal candidato presidencial do Partido Republicano. Ele ameaça confiscá-los como parte de uma política imigratória para, entre outras coisas, obrigar o México a financiar um muro ao longo de sua fronteira com os EUA para evitar entradas ilegais. O BBVA Bancomer estima que a maior parte do dinheiro vem de trabalhadores ilegais. Os mexicanos que estão nos EUA já podem realizar pagamentos hipotecários para o banco estatal Infonavit do lado norte da fronteira, segundo o site da instituição.

Andrés de la Parra, CEO do banco NR Finance México, apoiado pela Nissan, estima que mais de 24 milhões de pessoas nos EUA enviam dinheiro a parentes no México. Os 4.000 a 5.000 empréstimos que o NR Finance espera fazer em 2016 segundo o novo programa "está tomando apenas uma pequena amostra dessa grande demanda e do mercado potencial que existe", disse ele.

Os empréstimos apoiados por remessas terão uma taxa de juros anual de 18 por cento, disse de la Parra. A taxa de juros média ponderada para empréstimos automotivos de instituições monitoradas pelo Banco de México era de 12 por cento em agosto de 2014, segundo os dados mais recentes disponíveis.

As vendas de veículos no México deram um salto de 19 por cento, para um recorde de 1,35 milhão. O mercado apenas aumentará, disse Milo, do Deustche Bank. Ele estima que os mexicanos poderiam comprar 2 milhões de carros por ano com base na população e no nível de renda do país.

Em uma tentativa de dar aos mexicanos um acesso maior aos empréstimos bancários, o presidente Enrique Peña Nieto sancionou uma lei dois anos atrás englobando mudanças jurídicas como o reforço às agências de crédito do país.

O programa de crédito da Nissan "é algo que veremos mais no futuro", disse Benito Berber, estrategista da Nomura Holdings Inc. "O fato de a população de classe baixa e renda baixa não estar no sistema bancário" é um motivo muito importante "para isso poder funcionar".