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Valorização imprevista do dólar afeta planos do Fed

Rich Miller

25/01/2016 14h29

(Bloomberg) - Por enquanto, a presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, e seus colegas têm sido pegos de surpresa pelo fortalecimento do dólar depois que eles aumentaram as taxas de juros no mês passado pela primeira vez desde 2006.

Embora algumas autoridades tenham sugerido que a ascensão da moeda americana perderia o gás em pouco tempo, o dólar se valorizou cerca de 2 por cento desde que o banco central se reuniu pela última vez, no dia 16 de dezembro, com base na taxa de câmbio efetiva. Somado ao aumento de 11 por cento nos doze meses anteriores, o avanço mais recente restringirá o crescimento econômico, que já está desacelerando, e pressionará a taxa de inflação que, segundo o Fed, está baixa demais no valor atual.

"É uma grande movimentação em um mês", disse Robert Mellman, economista sênior do JPMorgan Chase Co. para os EUA em Nova York, acrescentando que essa foi uma razão fundamental para que o banco adiasse de março para junho sua previsão para o próximo aumento de taxas do Fed. "Os efeitos acumulativos do fortalecimento do dólar sobre a economia e a inflação são substanciais".

Turbulência

Projeta-se de forma quase unânime que Yellen e os colegas dela não modificarão as taxas na primeira reunião do ano, que acontecerá na terça e na quarta-feira. Contudo, os investidores analisarão o comunicado publicado posteriormente em busca de pistas de que o Fed esteja se afastando de seu cenário básico de quatro aumentos de um quarto de ponto percentual em 2016.

O surto de turbulência nos mercados financeiros do mundo neste ano - o dólar e os preços da dívida do Tesouro dos EUA dispararam, ao passo que os preços de ações e commodities afundaram - levaram os investidores a reduzir a escala de suas expectativas em relação à intervenção do Fed. Agora, eles anteveem um máximo de apenas dois aumentos das taxas neste ano e estimam as probabilidades de que um seja aplicado em março em 26 por cento. A taxa se compara com 46 por cento no mesmo momento do mês passado, segundo o trading no mercado de futuros de fundos federais.

Os economistas do Morgan Stanley Co. em Nova York esperam que o Fed volte a levar em conta as preocupações internacionais e dos mercados em seu comunicado desta semana, mas sem fechar as portas para um aumento de taxas em março.

Efeitos

Em um discurso pronunciado no dia 12 de novembro, o vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, disse que cálculos informáticos feitos pelo banco central mostram que uma alta de 10 por cento no dólar reduz o PIB dos EUA em mais de 1,5 por cento após três anos, principalmente por reduzir as exportações.

Uma alta do dólar também reduz temporariamente a inflação ao baixar o preço das importações, disse Fischer. Os cálculos do Fed sugerem que uma apreciação de 10 por cento deprime o núcleo de inflação em cerca de 0,3 por cento durante um ano. O núcleo de inflação, que exclui os custos voláteis dos alimentos e da energia, era de 1,3 por cento em novembro em relação ao ano anterior, bem abaixo da meta de 2 por cento do Fed.

Contudo, a mais recente ascensão da moeda não se deu tanto frente ao euro quanto às moedas de exportadores de commodities, como o Canadá e os países asiáticos que estão sofrendo os efeitos de uma desaceleração da demanda chinesa, disse Mellman, do JPMorgan.

Os movimentos da moeda americana são a coisa mais importante a analisar para determinar o ritmo de aumentos de taxas do Fed em 2016, segundo Michael Salm, um dos diretores de renda fixa da Putnam Investments LLC em Boston.

"Quando o dólar sobe, ele desacelera as coisas, é uma forma de ajuste em si", disse ele. "O indicador macroeconômico global mais importante neste ano é o dólar".