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Mais exercício nem sempre significa perder peso

John Tozzi

29/01/2016 16h55

(Bloomberg) - Os americanos gastam US$ 27 bilhões por ano em academia. Eles gastam esse dinheiro porque acreditam que o exercício é a chave para perder peso - e as empresas de fitness promovem esse relato com prazer. Essa é uma mensagem que a indústria alimentícia também incentiva: cientistas financiados pela Coca-Cola culparam o ganho de peso ao pouco exercício e não à ingestão de muitas calorias.

Mas um número cada vez maior de pesquisas sugere que os americanos que estão tentando perder peso não conseguirão os resultados que desejam sofrendo uns quilômetros extras na esteira - eles terão que cortar calorias para chegar a isso.

Os cientistas estão começando a entender que há limites para a quantidade de peso que as pessoas podem perder apenas com exercício.

O que as pessoas comem - e em que quantidade - parece influenciar o peso corporal mais do que a atividade que fazem, de acordo com um conjunto crescente de evidências. Exercitar-se continua sendo essencial para outros aspectos da saúde, como a prevenção de doenças cardíacas. Mas alguns cientistas dizem que o papel que o exercício desempenha na perda de peso foi mal interpretado por anos.

Novas evidências

A evidência mais recente vem de um estudo publicado quinta-feira que sugere que as pessoas que são muito ativas não queimam mais calorias do que aquelas que são moderadamente ativas. Os pesquisadores acompanharam 332 adultos em cinco países, desde os Estados Unidos até Jamaica e Gana, e descobriram que "o gasto energético total aumenta com atividade física em níveis baixos, mas aumenta em níveis mais altos de atividade", de acordo com o relatório Current Biology.

Em outras palavras, o exercício aumenta a queima de calorias só até certo ponto. Isso contradiz a ideia anterior de como a atividade física e o gasto energético estão diretamente ligados. Nós estamos acostumados a pensar que mais atividade física queima mais calorias, sem limite para essa relação. Se há um limite, exercitar-se além dele não ajudará as pessoas a perderem peso.

Possíveis explicações

Como pode ser? Os pesquisadores não entendem completamente o que acontece, mas eles têm algumas teorias. O corpo não queima calorias apenas quando está movimentando os músculos. As células e os órgãos usam energia para nos manter funcionando - para digerir alimentos e manter o sistema imunológico, por exemplo. O organismo de pessoas altamente ativas pode fazer essas tarefas de forma mais eficiente, utilizando assim, menos energia, disse Herman Pontzer, professor de antropologia da Hunter College em Nova York e principal autor do estudo. "Seria preciso apenas pequenas mudanças sobre a forma como o corpo gastou energia nesses sistemas" para fazer uma diferença no uso total de energia, disse ele.

Os cientistas já sabem há anos que o corpo pode ajustar a quantidade de energia que utiliza para o sustento normal. Em circunstâncias extremas, como fome ou dietas muito baixas em calorias, o metabolismo desacelera para conservar energia. Algo semelhante pode entrar em ação no metabolismo de pessoas altamente ativas.

Reduzir calorias

O exercício pode, na verdade, fazer com que seja mais difícil moderar o quanto comem. "O exercício aumenta o apetite e, portanto, a pessoa tem mais fome e sente necessidade de se reabastecer", disse Kristin Kirkpatrick, gerente de serviços de nutrição e bem-estar, do Instituto de Bem-estar da Cleveland Clinic, nos EUA. Ela disse que muitos de seus pacientes "começam a comer além da fome real quando começam a se exercitar".

A necessidade de reduzir calorias, no entanto, é muitas vezes abafada pelo marketing da indústria de fitness. ''A mensagem é sempre 'entre na academia, compre este equipamento de exercício''. Tudo gira em torno a tonificar e melhorar seu corpo'', disse Kirkpartick. "Isso meio que ilude sobre a expectativa irrealista do que um plano da academia pode fazer por você".