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Venezuela enfrenta batalha difícil por corte na produção petróleo

Anthony DiPaola

01/02/2016 14h16

(Bloomberg) -- O ministro do Petróleo da Venezuela, Eulogio Del Pino, enfrenta uma batalha árdua para convencer a Rússia e a Arábia Saudita a cooperarem nos cortes da produção de petróleo em meio a um excesso de oferta que fez com que os preços caíssem mais de 30% no ano passado.

O temor de que os produtores de xisto dos EUA possam se beneficiar de qualquer aumento dos preços depois de um corte potencial é um dos fatores que poderiam impedir que a Arábia Saudita e a Rússia decidam reduzir a produção.

O plano do Irã de aumentar as exportações de petróleo bruto agora que as sanções acabaram é outra complicação. Del Pino se reunirá com o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, em Moscou nesta segunda- feira (1º) antes de viajar para Catar, Irã e Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo.

"Há uma chance mínima de que os venezuelanos consigam que eles concordem com alguma coisa", disse Robin Mills, CEO da consultoria de petróleo Qamar Energy, com sede em Dubai, em entrevista por telefone no domingo. "Acho que não há condições para um acordo".

O petróleo caiu porque a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderada pela Arábia Saudita, não está limitando a produção a fim de defender sua participação no mercado e fazer com que os produtores que têm custos mais altos tenham mais dificuldade para competir.

Isso pressiona países como a Venezuela, vista historicamente na Opep como defensora de cortes na produção, que dependem quase que exclusivamente da receita do petróleo para sustentar a economia e têm menos reservas financeiras para protegê-los dos preços mais baixos.

A Venezuela sugeriu uma possível reunião entre a Opep e produtores como a Rússia, que não fazem parte do grupo, disse Novak em uma entrevista à Bloomberg Television na sexta-feira.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que os países produtores estão "perto de um acordo", sem especificá-lo.

A Arábia Saudita está disposta a cooperar na administração dos mercados de petróleo desde que todos os membros da Opep e outros produtores também participem, informou o jornal Al-Hayat nesta segunda-feira, citando uma pessoa não identificada da Opep.

Recorde russo

A Arábia Saudita produziu 10,2 milhões de barris de petróleo bruto por dia em janeiro e a Venezuela extraiu 2,5 milhões, mostram dados compilados pela Bloomberg.

A Rússia forneceu o recorde de 10,83 milhões de barris por dia de petróleo bruto e condensado em dezembro, disse a Agência Internacional de Energia no dia 19 de janeiro em seu mais recente relatório mensal sobre o mercado.

A Rússia e a Arábia Saudita continuarão extraindo e ignorando os cortes de produção, porque a Opep quer provocar o fechamento dos fornecedores que têm custos mais altos, disseram analistas do Goldman Sachs Group.

"Continuamos achando que um corte coordenado da produção é extremamente improvável e, em última instância, contraproducente", disseram os analistas, entre eles Damien Courvalin e Jeffrey Currie, em um relatório com data de domingo.

O objetivo do Irã é aumentar a produção e recuperar as vendas que perdeu por causa das sanções, o que faz com que essa medida seja ainda menos provável, disse o Goldman.

Benefício para o xisto

A Opep, que fornece cerca de 40% do petróleo mundial, decidiu em dezembro que abandonaria suas metas de produção. O grupo extraiu em janeiro a maior quantidade desde 1996, quando a Bloomberg começou a compilar os dados, em parte devido à recente reintegração da Indonésia ao grupo.

"Talvez os sauditas queiram tirar um pouco de petróleo do mercado", disse Mills, da Qamar Energy. "Eles podem conversar com os russos, eles podem conversar com os venezuelanos, eles podem conversar com os nigerianos, mas eles não podem conversar com o xisto".

Os membros da Opep se reúnem duas vezes por ano para avaliar o mercado, enquanto o setor de xisto dos EUA envolve milhares de empresas privadas que trabalham lado a lado com as maiores empresas de petróleo do mundo.

Isso faz com que seja impossível para os EUA definir cortes de produção, disseram Mills e Edward Bell, analista de commodities do banco Emirates NBD PJSC, com sede em Dubai. Qualquer redução da produção que resultar em aumento de preços beneficiaria o setor petroleiro dos EUA e estimularia a produção, disseram eles.