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O BCE tem duas semanas para criar um plano que não decepcione

Jeanna Smialek e Lucy Meakin

24/02/2016 15h04

(Bloomberg) - Mario Draghi tem duas semanas para decidir como aumentar o estímulo de uma forma que não irrite nem os colegas nem os investidores.

Quando as autoridades monetárias do Banco Central Europeu se reunirem em Frankfurt nos dias 9 e 10 de março, elas analisarão se taxas de juros negativas e 60 bilhões de euros (US$ 67 bilhões) por mês em aquisições de dívidas bastam para reviver os preços ao consumidor. Como outra redução dos juros está precificada pelos mercados, o maior interrogante é como customizar a flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês).

O presidente do BCE disse que não há limites no que tange a quão longe a autoridade monetária irá dentro de seu mandato, mas as taxas abaixo de zero apresentam riscos e expandir a QE é mais fácil de dizer do que de fazer. Ele transitará um delicado equilíbrio entre convencer os investidores de que pode superar os obstáculos e evitar a decepção dos mercados com que o último ajuste foi recebido em dezembro.

"Será muito desafiador" aumentar a QE, disse James Nixon, economista da Oxford Economics, que não antecipa uma medida semelhante ainda. "Seria preciso em certa forma jogar fora o manual de regras inteiro. Poderia ser muito interessante ver se Draghi, como ele pretende fazer quando confronta essas situações, tira outro coelho da cartola".

Eis as principais opções e obstáculos.

Baixar as taxas

Um ajuste de pelo menos dez pontos-base na taxa de depósitos do atual patamar de -0,3 por cento é antecipado plenamente pelos investidores, mostram os futuros da Eonia.

Como isso reduziria ainda mais a rentabilidade dos credores, as autoridades poderiam apresentar uma taxa com dois níveis ou outorgar isenções mais altas para o mínimo de reservas, estratégias empregadas por colegas como o Banco Nacional Suíço. O vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, disse na semana passada que as autoridades deveriam "mitigar o efeito sobre os bancos" de qualquer flexibilização.

Mais QE

Cerca de dois terços das aquisições de QE são de dívida de governos e agências. Bonds com garantias hipotecárias e uma pequena proporção de títulos garantidos por ativos constituem o restante. Em dezembro, o Conselho do BCE concordou em tornar elegível a dívida de governos regionais e locais.

O país para observar é a Alemanha. Como as aquisições estão ligadas efetivamente ao tamanho da economia, o país representa quase um quarto da QE. Contudo, só quinze dos 51 títulos no Bloomberg Germany Sovereign Bond Index cumprem as regras sobre yields e vencimentos. Eles respondem por US$ 379 bilhões do índice de US$ 1,1 trilhão.

Eliminar a repartição do capital

Para reduzir a dependência da dívida alemã, o BCE poderia eliminar a repartição do capital que liga as compras ao tamanho econômico. Isso permitiria que outros países com mais dívidas pendentes, como a Itália, comprassem uma maior proporção.

Essa estratégia poderia causar a impressão de que o BCE está apoiando países que perseguiram políticas fiscais mais arriscadas. Pior ainda, poderia gerar acusações de financiamento monetário, banido pela lei da União Europeia.

Desacoplar-se da taxa de depósitos

O BCE poderia permitir aquisições de dívida inclusive quando o yield está mais baixo que a taxa de depósitos. Isso equivale a garantir prejuízos, porque a receita obtida com a linha de depósitos não cobriria o déficit nos bonds conservados até o vencimento.

Comprar outros ativos

O BCE poderia expandir as classes de ativos elegíveis para a QE, talvez adicionando bonds corporativos. A preocupação é que talvez não haja suficiente dívida de companhias disponível. Segundo Anatoli Annenkov, economista do Société Générale, "já existem muitíssimos entraves à liquidez"

Deixar a QE como está

Se as autoridades monetárias estiverem em um impasse, a solução mais fácil poderia ser deixar a QE como está e recorrer em seu lugar a uma forte redução na taxa de depósitos.

"Será que eles poderiam conseguir fazer isso? Sem dúvida", disse Carsten Brzeski, economista-chefe do ING-Diba em Frankfurt. "Mas provavelmente haveria um euro mais forte, e talvez a parte mais importante seria uma perda de credibilidade".