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Análise: Ninguém mais ama o Brasil? Sim, os compradores de títulos

Lisa Abramowicz

25/02/2016 14h15

(Bloomberg) -- Os analistas estão encontrando muitos motivos para não gostar do Brasil atualmente. Mas os investidores em bonds (títulos) encontram muitos motivos para amar.

Os investidores em bonds desfrutam de alguns dos maiores retornos para tomada de risco no Brasil desde o fim do ano passado e algumas empresas de investimentos preveem que os lucros continuarão chegando. Os bonds soberanos do Brasil ganharam 1,4 por cento até esta altura do mês e 4,9 por cento no ano, segundo dados do Bank of America Merrill Lynch. Até mesmo bonds de grau especulativo de empresas brasileiras registraram retornos positivos, enquanto dívidas classificadas de forma similar caíram nos EUA.

Essa situação é um contraste gritante em relação a algumas mensagens sombrias vindas dos analistas. A Moody's rebaixou o país para junk em uma redução de dois níveis realizada na quarta-feira. Economistas do Goldman Sachs, liderados por Alberto Ramos, disseram na quarta-feira que o Brasil não parece muito promissor a curto prazo. A Fitch também entrou no jogo, com o analista corporativo para a América Latina Joe Bormann dizendo que "o caminho futuro parece sombrio".

E daí? O Brasil definitivamente enfrenta alguns problemas fundamentais sérios, tanto econômica quanto politicamente. Mas a moeda e os bonds do país já sofreram tanto que é difícil pensar que possam cair muito mais.

Essa é a lógica de investidores como Michael Hasenstaab, gerente da Franklin Templeton famoso por remar contra a maré, que estava apostando no Brasil no fim do ano passado quando todos estavam vendendo, segundo uma reportagem da Bloomberg News, de Natasha Doff e Paula Sambo. Os preços caíram tanto que o Brasil está considerando comprar de volta alguns de seus bonds internacionais, disse o secretário do Tesouro, Otávio Ladeira, em entrevista a Mário Sérgio Lima e Carla Simões, da Bloomberg.

O Brasil era uma das poucas situações especiais distressed dos mercados emergentes "que estão em crise, mas parecem ter um caminho claro para sair da crise a médio prazo", escreveu Hasenstaab em uma postagem de 22 de fevereiro no site da Franklin.

No ano passado, o real caiu 33 por cento em relação ao dólar. De 21 de janeiro para cá, a moeda subiu cerca de 5 por cento. No ano passado, os yields médios dos bonds soberanos do Brasil chegaram a subir a 16,7 por cento, mais de 15 pontos percentuais acima da média dos yields do governo dos EUA na época, maior ágio do tipo registrado desde 2006. Agora, alguns investidores corajosos estão retornando.

Para ser franco, o Brasil ainda está envolvido em problemas. Trata-se de um país produtor de commodities atingido pelos baixos preços do petróleo. A presidente Dilma Rousseff está lutando contra as tentativas de impeachment e ao mesmo tempo tentando aumentar impostos e reduzir gastos. A dívida bruta do Brasil enquanto porcentagem do PIB aumentou em quase um terço nos dois últimos anos, para 66 por cento.

Ah, e o país está preso à pior recessão em décadas.

Mas os investidores em bonds já precificaram boa parte das notícias ruins no ano passado. Agora, alguns deles começam a ver o lado bom novamente.

Essa coluna não necessariamente reflete a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.