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Análise: Perspectiva do Brasil piora após alerta da Moody's sobre dívida

Julia Leite e Peter Millard

25/02/2016 15h24

(Bloomberg) -- As contas do Brasil estão piorando tão rápida e severamente que agências de classificação de risco e os investidores estão com dificuldades para acompanhar o ritmo.

Um dia após o Goldman Sachs alertar que o Brasil está se aproximando de uma insolvência fiscal, a Moody's rebaixou a classificação de crédito do país em dois níveis, retirando o seu último grau de investimento, e disse que pode haver mais cortes pela frente.

Dois dos gestores de fundos mais conhecidos do Brasil -- Luis Stuhlberger, do Fundo Verde, e Armínio Fraga, da Gávea Investimentos -- fizeram comentários similarmente sombrios neste mês, dizendo que não veem um fim para a queda dos mercados brasileiros.

O dilema do Brasil é que o país está sobrecarregado de dívidas e as taxas de juros locais são as mais elevadas entre os países mais importantes. Com a economia caminhando para sua contração mais profunda em mais de um século em meio a uma queda nos preços das commodities, essas obrigações estão aumentando enquanto porcentagem do produto interno bruto.

A Moody's disse em seu relatório que a proporção entre a dívida e o tamanho da economia deverá aumentar para 80%, o nível mais alto entre as principais economias latino-americanas, com os pagamentos de títulos levando uma fatia cada vez maior da receita do governo.

"A única surpresa do rebaixamento é ter demorado tanto", disse James Gulbrandsen, sócio da NCH Capital no Rio de Janeiro, que administra US$ 3,2 bilhões. "Se o país continuar nesse caminho, no futuro estaremos falando sobre um calote soberano".

3ª agência a tirar selo de bom pagador

O rebaixamento, o terceiro em três meses, se soma a uma perspectiva que já era negativa para o Brasil.

Pouco mais de um ano após o início de seu segundo mandato e tendo já substituído seu ministro da Fazenda, a presidente Dilma Rousseff ainda enfrenta dificuldades para aprovar medidas que, segundo os analistas, são necessárias para reforçar as contas, porque os parlamentares resistem a elevar os impostos ou a cortar gastos.

Ao mesmo tempo, a Operação Lava Jato azeda ainda mais o sentimento em Brasília -- nesta semana, a polícia prendeu um dos principais estrategistas de campanha de Dilma e do ex-presidente Lula.

O pessimismo é evidente nos ativos brasileiros. O real teve uma desvalorização de 29% nos últimos 12 meses, a maior entre as moedas mais negociadas do mundo.

O Ibovespa caiu 42% em dólares no mesmo período, resultado pior somente do que o dos índices acionários de referência da Namíbia, da Grécia e da Zâmbia entre os 93 mercados monitorados em todo o mundo. O rendimento dos títulos de 10 anos do Brasil atingiu 16,7% no mês passado, o mais elevado em pelo menos nove anos.

Angola e Guatemala

Os altos custos dos empréstimos "contribuirão para reduzir a acessibilidade da dívida, com os pagamentos de juros tomando mais de 20% das receitas do governo" nos próximos anos, disse a Moody's. A classificação Ba2 da agência, dois níveis abaixo do grau de investimento, coloca a classificação do país lado a lado com Angola e um degrau abaixo da nota da Guatemala.

Ao mesmo tempo, os economistas continuam cortando as projeções para o crescimento da maior economia da América Latina. Em 2016, eles esperam uma queda de 3% - que seria a pior do mundo depois da Venezuela.

A economia brasileira já teve uma contração de 4,1% em 2015, segundo o índice de atividade econômica do Banco Central, considerado uma prévia informal do PIB (Produto Interno Bruto).

A perspectiva negativa está se refletindo no risco dos títulos do Brasil. Os credit default swaps (tipos de derivativos de crédito) de cinco anos do país estão sendo negociados a cerca de 466 pontos-base -- patamar mais elevado que o da China, Rússia e Índia, todos detentores de classificações mais elevadas. Garantir a dívida do México custa a metade que garantir a do Brasil.

"Isso só está confirmando as expectativas das pessoas, pelo lado negativo", disse ele.

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