Política do Fed vira questão internacional e preocupa investidores
(Bloomberg) - Até no poderoso mercado de títulos Tesouro dos EUA, os investidores de títulos estão tentando seguindo as pistas dos bancos centrais na Europa e no Japão.
Mario Draghi e Haruhiko Kuroda estão avançando com seus grandiosos experimentos monetários, e os rendimentos negativos na Alemanha e no Japão estão exercendo uma influência cada vez maior sobre os títulos do Tesouro norte-americano.
A negociação noturna de futuros do Tesouro explodiram, atingindo níveis que há anos não eram vistos. As notas de referência norte-americanas também estão avançando mais a par com títulos alemães desde 2014.
A mudança poderia ter consequências duradouras. Como os rendimentos dos trilhões de dólares da zona do euro e de títulos japoneses estão caindo para ainda mais abaixo de zero, a demanda por títulos do Tesouro poderia mitigar qualquer movimento por parte do Fed para aumentar ainda mais as taxas de juros dos EUA.
Além do mais, isso poderia sinalizar que as políticas extremamente flexíveis adotadas pelo Banco Central Europeu e pelo Banco do Japão têm o potencial de minar o impulso do Fed para ajustar, especialmente se a força do dólar atrapalhar a inflação e o crescimento.
"Antes, tudo estava correlacionado aos movimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, mas agora parece que os EUA estão seguindo os outros", disse Jim Caron, gestor de recursos do Morgan Stanley Investment Management, que administra US$ 406 bilhões. Os títulos do Tesouro estão "mais dominados pelos acontecimentos mundiais".
Apesar do backup nos rendimentos do Tesouro neste mês, eles continuam mais baixos do que em dezembro, quando o Fed acabou com sua política de taxa perto de zero e aumentou os custos de empréstimos pela primeira vez em uma década.
Rendimentos da nota de referência com vencimento em dez anos estavam em 1,96 por cento nesta segunda-feira, contra 2,27% no final de 2015.
A demanda por títulos do governo reduziu os custos de empréstimos em quase todos os países industrializados neste ano, e a média dos yields de US$ 23 trilhões de títulos caiu para o recorde de 0,69% em fevereiro, de acordo com dados compilados pela agência de notícias Bloomberg. Mais de um quarto desses títulos rendem menos do que zero.
Flexibilização monetária
Uma grande parte disso tem a ver com a flexibilização monetária sem precedentes que os banqueiros centrais no BCE e no BOJ realizaram para revigorar suas economias moribundas nos últimos 12 meses.
O BCE surpreendeu os investidores na semana passada com a extensão de seu novo pacote de estímulo, o que incluiu o corte da taxa de depósito para -0,4%, o aumento das compras de títulos e a incorporação de títulos de empresas no programa de compras. Em fevereiro, Kuroda, do BOJ, acrescentou taxas negativas a seu programa de flexibilização quantitativa.
Movimentos na Europa também estão tendo uma influência maior. No mês passado, a correlação de notas dos EUA com vencimento em dez anos com a movimentação dos títulos alemães subiu para 0,6625, com base em uma média móvel de 120 dias (uma leitura que significaria que ambos se movem em sincronia). É a maior desde dezembro de 2014.
Com os rendimentos dos títulos japoneses de referência com vencimento em dez anos em -0,04%, os títulos do Tesouro comparáveis têm uma vantagem de cerca de dois pontos percentuais.
Só no mês passado, gestores de recursos japoneses investiram 3,56 trilhões de ienes (US$ 31,3 bilhões) em títulos no exterior, o maior valor desde agosto de 2010, de acordo com o Ministério das Finanças. Mais de 60% da dívida com rendimento negativo do mundo está no Japão.
Ceticismo
A demanda também mostra que os investidores estão céticos de que o Fed consiga elevar as taxas tanto quanto os responsáveis pelas decisões políticas estão indicando. Com base na mediana das projeções de autoridades do Fed em dezembro, eles esperam elevar a taxa de referência para 1,375% até o final do ano.
Os investidores, por sua vez, não acreditam que os custos dos empréstimos se aproximarão de 1%.
A próxima reunião de política do Fed será nos dias 15 e 16 de março.
Apesar da turbulência, alguns investidores estão convencidos de que o Fed vai manter o curso e elevar as taxas, pois a melhora dos dados econômicos nos EUA impulsiona as perspectivas de crescimento e de inflação.
Um índice do Citigroup mostra que a força dos dados dos EUA em relação às previsões dos analistas subiu para o ponto mais alto desde novembro.
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