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Aposta de Dilma em Lula parece não compensar

Mac Margolis

18/03/2016 09h26

(Bloomberg View) -- Está ficando difícil acompanhar o ritmo da crise política atual, que afunda cada vez mais o maior país da América Latina. Na quarta-feira, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, nomeou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como novo ministro da Casa Civil. Foi uma jogada ousada que parecia calculada, não apenas para ajudar o Brasil a atravessar um período turbulento, mas também para sustentar sua própria presidência enfraquecida e dar uma sobrevida ao seu maculado mentor político.

O plano durou até o anoitecer. Horas depois de Lula ser confirmado como ministro de Dilma, a imprensa brasileira começou a exibir trechos de conversas gravadas que sugeriam que os dois líderes haviam conspirado para escapar da Justiça. (Com o argumento de que a posição de Lula também poderia permitir que ele influenciasse as investigações judiciais em andamento, um juiz federal decidiu bloquear a nomeação, mas os advogados do governo entraram com recurso rapidamente). Se essas acusações -- e muitas outras que nublam o governo Dilma -- forem validadas pela Justiça, a aposta dela para salvar sua carreira poderia acabar acelerando os pedidos de cassação de seu mandato e ajudar a empurrar Lula, uma lenda viva brasileira que resgatou os pobres e levou o país à glória internacional, para a desgraça.

Parte do estrago pode já estar feito. As interceptações telefônicas faziam parte de investigação em andamento sobre a Petrobras, que envolveu altos executivos e lobistas e agora está tocando fundo no establishment político do país. Em 4 de março, Lula foi conduzido de forma coercitiva pela Polícia Federal para prestar depoimento por supostamente ter recebido favores de empreiteiras apanhadas no esquema da Petrobras. Em um caso relacionado, procuradores estaduais de São Paulo anunciaram que pediram a prisão de Lula por lavagem de dinheiro e ocultação de bens.

A nomeação de Lula parece, no mínimo, "forum shopping": apenas o Supremo Tribunal Federal pode julgar autoridades com cargo no governo, um benefício que pouparia Lula dos rigores de Sérgio Moro, o implacável juiz federal que conduz a Operação Lava Jato. Mas os brasileiros estariam perdoados se concluíssem que também se trata de uma manobra sem vergonha para driblar a lei. Em uma gravação, Dilma garante a Lula que está enviando uma confirmação por escrito de sua nomeação pendente ao ministério, um documento que supostamente o protegeria da prisão.

Dilma previu essas críticas, zombando dos que supunham que a mais alta corte do país poderia, de alguma forma, ser mais indulgente que uma instância inferior. Ela tinha razão: afinal de contas, em 2012 mais de duas dezenas de magnatas, lobistas e poderosas figuras políticas ligados ao governo anterior, de Lula, foram condenados por um esquema de compra de votos após julgamento no STF, colegiado em que oito dos 11 juízes haviam sido nomeados por Lula ou Dilma.

E ainda por cima, Delcídio do Amaral, um dos principais ex-aliados do governo, disse aos investigadores que Dilma tentou interferir na investigação à Petrobras nomeando um ministro para o STJ que ela supostamente considerava que poderia libertar dois construtores ligados ao governo que estão presos. Dilma negou qualquer irregularidade.

Mas até mesmo a interpretação mais generosa da aposta de Dilma em Lula -- de que o prestígio do antigo líder seria capaz de reagrupar aliados rebeldes, resgatar a economia e reunir votos suficientes no Congresso para evitar o impeachment -- parece ser um exercício de realismo mágico.

A ascensão de Lula se deve ao seu extraordinário carisma, pragmatismo e habilidade como negociador político, mas também a um fabuloso golpe de sorte. Ele governou o Brasil durante a explosão internacional das commodities, que impulsionou o crescimento econômico ao longo da última década, ajudou a tirar 28 milhões de pessoas da pobreza e transformou o Brasil pela primeira vez em uma sociedade em que a classe média é maioria.

Mas o boom acabou, e embora muitos países latino-americanos continuem crescendo graças a administrações econômicas mais prudentes, a economia do Brasil está fracassando. O desemprego atingiu o nível mais alto em três anos em 2015 e a ambiciosa classe média está escorregando. E Lula também.

Apesar das negativas veementes de Lula, um financiador do mercado negro que ocupa posição central no caso de corrupção afirmou que tanto ele quanto Dilma sabiam da corrupção na Petrobras, um esquema que, segundo os investigadores, começou na presidência de Lula. Os brasileiros parecem concordar com isso.

Há 13 anos, eu vi multidões de adoradores aplaudirem quando o torneiro mecânico que virou presidente subiu a rampa de concreto do belo Palácio do Planalto, em Brasília. Agora, a multidão está novamente no palácio -- desta vez para exigir a prisão de Lula e a renúncia de Dilma. O herói do dia? O juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, que suspendeu a nomeação de Lula ontem e que se transformou em celebridade instantânea nas redes sociais brasileiras.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.