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Opinião: Com drogas legalizadas, gangues se diversificarão

Megan Mcardle

05/04/2016 15h50

(Bloomberg) -- Eu apoio a legalização das drogas há muito tempo, por muitos motivos, mas como muitos outros defensores, eu considero que a redução dos crimes violentos será o maior benefício. Privados da capacidade de executar contratos por meio do processo legal relativamente pacífico utilizado por outros mercados, os mercados negros são acompanhados por altos níveis de violência: as quadrilhas brigam por território, impõem acordos comerciais e tentam adiar deserções.

Quanto mais rentável é o mercado negro, maior o incentivo para usar a violência para proteger seus lucros, o que pode ser uma das razões pelas quais a introdução do crack foi acompanhada de um aumento tão grande dos crimes violentos. A legalização das drogas reduz os lucros e dá aos operadores do setor meios legais de resolver suas disputas, por isso, em teoria, isso deveria reduzir a prevalência e a brutalidade das quadrilhas violentas.

Mas embora teoricamente a teoria seja o mesmo que a prática, na prática muitas vezes não é. Será que a maconha legalizada e a consequente queda nos lucros realmente resultará no desaparecimento das quadrilhas -- em particular dos cartéis mexicanos -- que a comercializam?

Parece que temos um caso de teste prático: a Lei Seca. A partir do final da Primeira Guerra Mundial -- período que coincide, de forma aproximada, com a Lei Seca --, a taxa de homicídios começou a ir às alturas nos EUA. Provavelmente parte disso se deva à desmobilização de grandes números de soldados de uma só vez, e não ao mercado negro das bebidas alcoólicas, mas uma parte significativa dos homicídios foi impulsionada por guerras de quadrilhas pelos lucros do contrabando. Como podemos ter certeza disso? Porque justamente em torno de 1933, quando a Lei Seca foi revogada, a taxa de homicídios iniciou um rápido colapso.

Essa é uma boa munição para os legalizadores de hoje. Por outro lado, deveríamos ser modestos em relação ao sucesso da Lei Seca. Porque a Máfia não desapareceu simplesmente juntamente com a fonte de seus maiores lucros. Em vez disso, como em qualquer negócio, ela se sentou, fez um balanço e abriu novas linhas de negócios. Chantagem de trabalhadores, jogos de azar, extorsão -- essas coisas antes podiam ser atividades paralelas, mas se transformaram no negócio principal.

Em outras palavras, os resultados das políticas dependem muito do caminho. A Máfia não foi criada pela Lei Seca; parece ter sido um desdobramento da Sicília pós-feudal e chegou aos EUA juntamente com os imigrantes sicilianos. Mas o advento da Lei Seca aumentou consideravelmente seus lucros e poder e quando a Lei Seca terminou, os mafiosos eram grandes demais e muito bem organizados para simplesmente desaparecerem suave e silenciosamente na noite.

Se nunca tivéssemos aprovado a 18º Emenda, a Máfia poderia ter se mantido como um problema local nos bairros italianos e lentamente morrido juntamente com os enclaves étnicos nos quais mantinha sua base. Mas repelir a Lei Seca não era a mesma coisa que nunca ter tido a lei em vigor. Nós criamos um monstro e o monstro sobreviveu ao seu habitat natural.

Ainda é cedo demais para saber que efeito terá a legalização da maconha sobre as quadrilhas que ficaram ricas com a proibição à erva. Mas considerando a escala e a ferocidade da violência que convulsionou o México nos últimos anos, é difícil de imaginar que as quadrilhas simplesmente desaparecerão se forem privadas de sua receita. De fato, elas já estão migrando para outras drogas. Elas poderão também assumir operações atualmente legais, como a Máfia fez com muitos sindicatos.

Isso oferece uma lição para as autoridades -- e não apenas para as que focam em políticas para as drogas. Muitas vezes na formulação de políticas não há retorno; desfazer algum equívoco de política te dá resultados muito diferentes daqueles que você teria obtido se nunca tivesse tentado.

Este não é um argumento para nunca experimentar, e sim um argumento para que se tenha cautela para depois não sofrer as consequências.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial, da Bloomberg LP ou de seus proprietários.