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Mercado chinês emite sinais ameaçadores em meio a rali global

Enda Curran e Justina Lee

22/04/2016 14h43

(Bloomberg) -- As ações estão subindo em todo o mundo, mas os traders chineses não estão comemorando.

O índice Shanghai Composite caiu 3,9 por cento nesta semana, o pior desempenho entre 93 indicadores de referência global monitorados pela Bloomberg e a queda mais acentuada desde janeiro. Não é apenas o mercado de ações. O yuan está sendo negociado em torno de seu valor mais baixo desde novembro de 2014 em comparação com uma cesta de moedas, e os yields da dívida corporativa subiram em 10 dos últimos 12 dias.

Cresce a preocupação com o aumento da inadimplência de crédito, e os traders também estão reduzindo as apostas em mais estímulo em meio aos sinais de estabilização do crescimento, de acordo com Dai Ming, gerente de fundos do Hangsheng Asset Management em Xangai. Uma queda repentina de 4,5 por cento no indicador de referência de ações na quarta-feira fez lembrar a turbulência assustadora de janeiro, quando as ações desabaram 23 por cento durante o mês.

"As pessoas continuam muito céticas, e com razão", disse Hao Hong, estrategista da China na Bocom International Holdings em Hong Kong.

A preocupação internacional com a saúde da economia chinesa desapareceu do horizonte quando os dados começaram a mostrar um quadro de melhoria e a volatilidade diminuiu em seus mercados de ações e moeda. A queda das ações na quarta-feira em Xangai mal afetou as ações globais, porque os traders internacionais estavam concentrados no aumento dos preços das commodities - impulsionado, em parte, pela expectativa de aumento da demanda chinesa.

Novos créditos

Pergunta-se por quanto tempo o Partido Comunista pode continuar injetando dinheiro na economia para sustentar o crescimento. Novos créditos chegaram a US$ 1 trilhão no primeiro trimestre, ajudando o PIB a se expandir 6,7 por cento - ainda assim, o ritmo mais lento em sete anos. Grande parte desse dinheiro foi para o mercado imobiliário, aumentando preocupações com uma bolha.

O investidor bilionário George Soros disse na quarta-feira que a economia chinesa, alimentada pelo crédito, lembra os EUA em 2007-2008, antes da crise financeira global, e que a maior parte dos novos empréstimos está sendo usada para manter inadimplências e empresas deficitárias. Andrew Colquhoun, chefe de soberanos da Ásia-Pacífico na Fitch Ratings, alertou que a China está aumentando uma carga de dívida que já é insustentável.

Mas não faltam otimistas em Hong Kong, onde o desempenho de um indicador de ações chinesas em relação ao índice Xangai é o melhor em quase seis meses. O índice Hang Seng China Enterprises fechou na quinta-feira em seu nível mais alto desde 4 de janeiro, diminuindo as perdas de 2016 para 4,3 por cento, e o Shanghai Composite continua registrando uma queda de 17 por cento. O índice MSCI All-Country World subiu 2,6 por cento.

O Shanghai Composite subiu 0,2 por cento nesta sexta-feira, e o Hang Seng China Enterprises recuou 1,4 por cento.

Falta de pagamentos

O ritmo alucinante do crédito não está impedindo calotes nem aumentando os lucros. Emissores locais cancelaram 78,3 bilhões de yuans (US$ 12,1 bilhões) de vendas de títulos só em abril, depois que pelo menos sete empresas não conseguiram efetuar o pagamento de notas locais neste ano, e já atingiram a mesma quantidade de todo ano de 2015. Os analistas estão fazendo os maiores cortes nas previsões de lucro para as empresas do índice Shanghai Composite desde a crise financeira global.

Embora a estabilidade do yuan em relação ao dólar tenha diminuído os temores de uma depreciação rápida, ela também oculta a fraqueza da moeda chinesa diante de um grupo mais amplo de pares. Um índice oficial das oscilações do yuan em relação a 13 moedas caiu para o menor valor em 17 meses, alimentando especulações de que as autoridades estão discretamente manipulando a fraqueza para ajudar os exportadores.

Essa perspectiva otimista sobre o yuan pode não durar muito tempo, disse Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia da Oxford Economics em Hong Kong.

"A China teve muita sorte nesse aspecto nos últimos meses", disse Kuijs. "Ainda existe um risco muito significativo de que a confiança na moeda mude muito rapidamente".