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Mercados emergentes driblam projeções de calotes corporativos

Natasha Doff

25/04/2016 14h58

(Bloomberg) -- Apenas seis meses depois de o FMI ter se juntado ao coro de reguladores e agências de classificação de crédito que avisavam que os mercados emergentes estavam à beira de uma onda de calotes corporativos, está acontecendo o oposto.

As taxas de não pagamento de títulos de alto rendimento dos mercados emergentes caíram todos os meses deste ano ao valor mais baixo em quatro meses, de 3 por cento em março, de acordo com dados compilados pelo Bank of America Merrill Lynch. O que se compara com as inadimplências de títulos norte-americanos de alto rendimento, que subiram para 4,6 por cento. As empresas de energia são responsáveis por grande parte da disparidade, porque as dos mercados emergentes se apoiaram principalmente no dinheiro público e os emissores dos EUA aguentaram todo o peso dos baixos preços do petróleo dizimando receitas, disse o Bank of America.

Com US$ 180 bilhões de dívidas em dólar das corporações de mercados emergentes com vencimento em 2020, economistas, do Fundo Monetário Internacional ao Bank for International Settlements, alertaram que o enfraquecimento das moedas dos países em desenvolvimento aumentaria o custo do pagamento e levaria a mais calotes. Na prática, o apoio estatal, as estratégias de hedge e, mais recentemente, uma recuperação nas moedas emergentes ajudaram as empresas a pagar suas dívidas, de acordo com a Ashmore Group e Aberdeen Asset Management.

"A advertência de problemas cambiais acabou sendo o cão que não mordeu", disse Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore, com sede em Londres, que administra cerca de US$ 51 bilhões em mercados emergentes. "Não vejo nenhuma razão pela qual deva haver um aumento dramático das taxas de inadimplência".

Alívio cambial

Para as empresas emergentes, o pior provavelmente já passou, porque as moedas subiram do nível mais baixo desde 2009, atingido em janeiro, de acordo com Dehn. O índice MSCI Emerging Markets Currency subiu mais de 6 por cento em três meses porque o sentimento em relação a ativos mais arriscados melhorou, em parte porque o Federal Reserve relutou em aumentar as taxas de juros e a ameaça de um dólar forte diminuiu. O índice registrava uma queda de 0,1 por cento às 13h27 em Londres na segunda-feira.

O aumento do apetite dos investidores, por sua vez, reduziu os custos dos empréstimos para as empresas de países em desenvolvimento, facilitando o refinanciamento através do mercado de títulos, de acordo com Siddharth Dahiya, que ajuda a administrar cerca de US$ 11 bilhões na Aberdeen em Londres como chefe de dívida corporativa de mercados emergentes. O yield médio no índice Bloomberg Dollar High-Yeld Emerging-Market Corporate Bond caiu para 8,8 por cento na semana passada, o menor desde agosto.

Não convencido

O FMI não está convencido de que os riscos tenham diminuído. Os governos dos mercados emergentes poderiam prejudicar seus próprios perfis de crédito se continuarem a proteger as empresas financiadas pelo Estado, de acordo com o fundo.

Os analistas da Moody's têm uma visão similar. O risco de inadimplência tem aumentado na Europa, no Oriente Médio e na África porque "os investidores agora estão mais cautelosos e exigentes, e o acesso ao mercado é mais incerto", disse a Moody's em uma nota de pesquisa publicada em 20 de abril.

As empresas de países em desenvolvimento estão se mostrando mais resistentes ao impacto dos preços do petróleo, que teve a maior baixa em 12 anos em janeiro, do que seus pares norte-americanos, de acordo com o Bank of America. Títulos corporativos em dólar de alto rendimento dos países emergentes tiveram retorno de 8 por cento neste ano, o melhor início de ano desde 2012, justificando por enquanto os investidores que enfrentaram as advertências de que a dívida estava à beira do abismo.

"O problema da dívida corporativa foi um pouco sensacionalista", afirmou Jim Barrineau, gerente de recursos de mercados emergentes na Schroder Investment Management de Nova York, com cerca de US$ 450 bilhões em ativos em todo o mundo. "Se tivermos a continuidade da recuperação dos mercados emergentes, os calotes devem ficar em mínimos históricos".