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Zika não deve impedir Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

John Tozzi e Ira Boudway

20/05/2016 15h15

(Bloomberg) -- As Olimpíadas devem ser realizadas no Rio de Janeiro em agosto conforme o planejado? Diversos especialistas do setor de saúde estão pedindo que os Jogos sejam adiados ou transferidos, citando o risco de globalizar a epidemia de zika que está limitada principalmente ao continente americano. 

Amir Attaran, professor de Direito e Medicina da Universidade de Ottawa, argumentou na semana passada na revista Harvard Public Health Review que os Jogos "não devem acontecer". Entre grávidas, a zika pode desencadear problemas de nascimento severos, como a microcefalia, que faz com que os bebês nasçam com a cabeça pequena, de tamanho anormal. A zika também foi associada a distúrbios neurológicos, como a síndrome de Guillain-Barré. Attaran sugeriu que, em agosto, a epidemia no Rio de Janeiro estará pior do que se prevê atualmente.

"Não será de nenhuma ajuda mandar ao Rio meio milhão de turistas provenientes de lugares que normalmente não têm fortes conexões de viagens com o Rio, criando assim novos canais de disseminação", disse Attaran em uma entrevista. Ele concorda com Arthur Caplan, professor de Bioética do Centro Médico Langone, da Universidade de Nova York, que sugeriu em fevereiro que os Jogos deveriam ser adiados de seis a 12 meses.

A senadora americana Jeanne Shaheen (do distrito de New Hampshire) mencionou o comentário de Attaran em uma carta do dia 17 de maio em que pediu que a Organização Mundial de Saúde (OMS) avalie os riscos de realizar as Olimpíadas neste ano. "Todos os esforços realizados para evitar a zika poderiam ser desfeitos se os Jogos Olímpicos provocarem um surto mundial", escreveu ela.

Para o Brasil, no entanto, adiar ou cancelar as Olimpíadas poderia desestabilizar ainda mais o conturbado país. O Brasil está em sua recessão mais profunda já registrada, consumido por uma crise política com o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O País está gastando quase US$ 10 bilhões para realizar os primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, e não pode se dar ao luxo de desperdiçar esse dinheiro. Isso é especialmente válido porque é improvável que as seguradoras reembolsem completamente qualquer um associado com os Jogos por causa de pedidos de cancelamento devido à zika.

Baixo risco

Attaran e Caplan podem ser minoria entre especialistas de saúde pública, porque muitos concordam que adiar os Jogos por causa da zika seria uma medida extrema. As evidências disponíveis sugerem que "o risco de exposição ao vírus Zika e as consequências adversas subsequentes serão baixos, em uma região do Brasil de relativamente baixo risco em uma época do ano de baixo risco", de acordo com o editorial do dia 10 de maio da revista acadêmica Lancet Infectious Diseases. O vírus está concentrado no nordeste do Brasil, não no Rio de Janeiro, e as sedes olímpicas serão submetidas ao controle de mosquitos com spray e eliminação de água parada, escreveu a revista.

Os Centros de Controle de Doenças dos EUA e a OMS aconselharam que grávidas não viagem para zonas onde o vírus Zika está circulando. Depois que o artigo de Attaran apareceu, uma declaração da OMS reiterou essa orientação. Outros visitantes devem tomar medidas para evitar ser picados e devem usar camisinha ou abster-se de relações sexuais porque os homens podem transmitir a zika a seus parceiros. "Os Jogos serão realizados durante o inverno brasileiro, época em que há menos mosquitos ativos e o risco de ser picado é menor", observou a OMS.

Em um e-mail, um porta-voz do Comitê Olímpico Internacional disse apenas que está seguindo as orientações da OMS e trabalhando para minimizar todos os riscos para os visitantes.