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Juros negativos impulsionam demanda por derivativos no Japão

Tesun Oh

24/05/2016 12h44

(Bloomberg) -- Os bancos japoneses, relutantes em pagar pelo privilégio de conceder empréstimos, estão optando pelo uso de derivativos.

As opções estabelecem um piso para as taxas usadas para determinar os juros aplicados aos empréstimos e o detentor será pago se as taxas ficarem abaixo desse nível, segundo o Aozora Bank e o Tokyo Star Bank. A taxa interbancária de referência de três meses oferecida em Tóquio atingiu uma mínima recorde de 6 pontos-base desde que o Banco do Japão (BOJ) anunciou que começaria a cobrar tarifas sobre as reservas de alguns bancos em janeiro. Opções com pisos em zero por cento ou em taxas negativas vêm sendo negociadas nos últimos tempos, segundo o Aozora Bank.

"Existe uma necessidade de hedge contra empréstimos deficitários que poderiam ocorrer se a Tibor caísse a níveis negativos", disse Tetsuji Matsuka, chefe do departamento de tesouraria e planejamento de gestão de ativos e passivos do Tokyo Star Bank. "Achamos que aumentará a demanda" por produtos assim, disse ele.

Os bancos japoneses estão sendo prejudicados porque a política de juros negativos está comprimindo suas margens de empréstimo. As três principais empresas do setor, incluindo o Mitsubishi UFJ Financial Group, projetaram neste mês que o lucro líquido cairá um total combinado de 5,2 por cento no ano que começou em 1º de abril. O estímulo radical do BOJ já arrastou os yields de mais de 70 por cento dos títulos do governo japonês para abaixo de zero, o que significa que os investidores terão que, efetivamente, pagar uma taxa para manter esse tipo de dívida até o vencimento.

No mercado de taxa interbancária oferecida de Londres (Libor) em ienes, no qual algumas taxas já estão abaixo de zero, as opções têm sido negociadas com pisos que chegam a menos 1 por cento, segundo Nobuyuki Takahashi, gerente-geral da divisão de vendas de derivativos do Aozora Bank. A Libor de três meses em ienes estava em menos 0,02 por cento na sexta-feira.

As empresas que tomam empréstimos a taxas flutuantes também poderão ser capazes de utilizar opções de piso para garantir que os swaps de taxas de juros que usam como hedge contra a alta dos juros não acabem gerando custos a elas devido aos juros negativos, disse Takahashi. As operações reais desses derivativos ainda não são tão comuns porque agora os contratos estão caros para compra, disse ele.

"Vai ser difícil precificar essas opções, a menos que tenhamos mais liquidez", disse Tateo Komatsu, vice-gerente-geral de mercados globais do Sumitomo Mitsui Trust Bank. "Levará tempo para que o mercado se acostume às taxas negativas".

Os yields das dívidas negativas estão levando os bancos japoneses a mudarem a forma de emprestar.

Embora eles muitas vezes tenham oferecido empréstimos com juros negativos no passado, a queda das taxas básicas tornou a prática mais difícil, segundo Masato Noguchi, cogerente-geral da divisão de sindicalização e securitização do Aozora Bank. O motivo é que os bancos não conseguem reduzir as taxas sobre os depósitos para menos de zero e como eles dependem desse dinheiro para financiar empréstimos, suas margens podem ser prejudicadas, disse ele. O empréstimo sindicalizado com taxa fixa está em ascensão, segundo Noguchi.

"No passado, diziam que os empréstimos a taxas flutuantes representavam poucos riscos, mas agora os riscos estão se materializando", disse Noguchi.