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Aumento mensal de 500% no gás mostra risco de reformas de Macri

Charlie Devereux

10/06/2016 15h02

(Bloomberg) -- A fábrica de vidro de Mariano Arruzzoli, nos arredores da capital argentina, está em um ponto de ruptura. As vendas caíram 25 por cento em maio, e os custos dispararam desde que o presidente Mauricio Macri assumiu o cargo em dezembro e começou a reformar a sofrida economia.

A conta mensal de gás de Arruzzoli deu um salto de 500 por cento em maio depois que Macri eliminou os subsídios para reduzir o déficit fiscal. E os consumidores estão gastando menos para evitar o custo dos empréstimos, que atingiram o pico de 38 por cento, disse Arruzzoli. Os custos de produção dispararam 40 por cento depois que o preço do combustível aumentou.

"Não podemos aumentar nossos preços porque não há nenhuma venda. O mercado doméstico está congelado", disse Arruzzoli em uma entrevista por telefone na terça-feira, do escritório da San Rafael Cristalería. "Eu entendo a necessidade de ajustar os preços, mas um aumento de 500 por cento em um mês é um impacto forte demais".

Com seis meses na presidência, Macri está descobrindo que seus sucessos iniciais, como o fim de uma batalha jurídica de 15 anos com credores, não significam muito para diversos investidores e consumidores locais que continuam enfrentando 40 por cento de inflação e uma recessão. Ele está encontrando tensões sociais e, com as eleições na metade de seu mandato no próximo ano, ele precisará diminuir o maior déficit orçamentário em duas décadas e, ao mesmo tempo, manter o povo feliz.

"Eles subestimaram os custos", disse Daniel Kerner, diretor e analista para a América Latina da Eurasia Group. "Agora eles estão lidando com o fato de que eles acharam que esse processo seria indolor e ele não é".

Iván Pavlovsky, porta-voz de Macri, não respondeu a mensagens enviadas por e-mail e por telefone em busca de comentários sobre se o governo subestimou o custo das reformas.

Macri tomou posse com promessas de que a inflação iria desacelerar para 25 por cento e que o crescimento se recuperaria no segundo semestre. Ele adiou e voltou atrás em algumas das medidas, o que gerou preocupação entre os investidores que gostariam de vê-lo fazendo incursões significativas para cortar o déficit de 5,4 por cento do PIB. Cresce também o temor de que o peso forte desestimule os investidores e contenha as exportações. A moeda subiu 15 por cento desde fevereiro.

Os sinais não apontam para uma recuperação nos próximos meses. A receita tributária aumentou 23 por cento em maio, muito abaixo da inflação, de acordo com o órgão administrador de impostos. A produção industrial caiu 6,7 por cento em abril em comparação com o ano anterior, e a atividade de construção recuou 24 por cento no mesmo período, informou o instituto nacional de estatística. O Banco Mundial modificou suas projeções para o país e agora estima que o PIB vai se contrair 0,5 por cento em 2016. Em janeiro, o banco tinha previsto um crescimento de 0,7 por cento.