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Investidores jogam a toalha e juros negativos infectam mercados

Sally Bakewell e Karl Lester M. Yap

21/07/2016 13h09

(Bloomberg) -- Está cada vez mais difícil para quem investe em dívidas corporativas escapar da enxurrada de títulos com rendimento negativo que invade os mercados de crédito.

Os investidores têm em mãos aproximadamente 465 bilhões de euros (US$ 512 bilhões) em títulos de empresas com grau de investimento e rendimento abaixo de zero.

A quantia é onze vezes maior do que no início do ano, segundo dados do Bank of America Merrill Lynch. Isso significa que estão pagando pelo luxo de manter esses papéis em carteira, mas ainda é melhor do que comprar títulos soberanos mais seguros e com rendimentos ainda menores.

O dilema dos investidores se deve ao programa de estímulos do Banco Central Europeu, que deixou os rendimentos tão baixos que a compra de alguns títulos públicos é garantia de perda. O BCE vem empurrando as taxas de depósito para território ainda mais negativo e estacionar o dinheiro nessas vagas agora é uma alternativa menos viável.

Embora alguns índices de curto prazo mostrem que os rendimentos das dívidas corporativas estão se aproximando de zero ou já ultrapassaram essa barreira, esses instrumentos permanecem relativamente atraentes.

"Os investidores estão entrando nesses ativos mais por desistência", disse Geraud Charpin, gestor de carteiras da BlueBay Asset Management LLP, em Londres, que supervisiona cerca de US$ 58 bilhões. Eles estão comprando "porque sai muito caro ter dinheiro em caixa na maioria das jurisdições europeias e não porque genuinamente gostam do ativo e genuinamente estão aumentando o apetite por risco."

Dívidas sênior e com garantias, denominadas em euros, emitidas por empresas não financeiras com as melhores classificações de risco e prazo entre um e três anos rendem, na média, menos 0,08%, segundo os dados do Bank of America.

Dívidas denominadas em euros e com rendimento negativo representam 24% do mercado de papéis com grau de investimento. Além disso, cerca de 4,27 trilhões de euros em títulos governamentais emitidos por integrantes da zona do euro têm rendimento negativo, segundo os dados.

O BCE acelerou a queda dos rendimentos quando começou a comprar títulos corporativos de alta qualidade no começo de junho.

De acordo com dados da Bloomberg, a autoridade comprou 10,4 bilhões de euros em papéis desse tipo -- incluindo títulos com rendimento negativo emitidos por Siemens AG e Robert Bosch GmbH --, que podem ser comprados contanto que o rendimento seja superior à taxa de depósito no momento da transação. Os compradores de títulos da Europa então brigam pelas migalhas.

"Os investidores são forçados a ir atrás de um conjunto disponível de ativos que está encolhendo", disse Richard Casey, gestor sênior de carteiras de crédito da Pioneer Investments, que tem 221 bilhões de euros em ativos sob gestão. "Temos investidores com excesso de dinheiro em caixa, pouca oferta primária e um grande comprador no mercado empurrando rendimentos e spreads para níveis nunca vistos."

Mercado secundário

Alguns títulos estão cotados com rendimento negativo no mercado secundário há meses, mas, na semana passada, a Deutsche Bahn AG tornou-se a primeira empresa não-financeira a vender títulos em euros com rendimento abaixo de zero.

A operadora ferroviária alemã emitiu 350 milhões de euros em papéis com prazo de cinco anos a uma taxa de menos 0,006 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. Já os títulos do governo alemão de prazo similar rendem menos 0,48%, após terem atingido a mínima histórica de menos 0,64 por cento no mês passado.

Este é o diferencial que torna atraentes os títulos corporativos com rendimento negativo, na opinião de Sylvain de Ruijter, responsável global por renda fixa na NN Investment Partners, que supervisiona cerca de 190 bilhões de euros e investe nesses instrumentos.