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Laboratórios miram novos medicamentos para combater endometriose

Johannes Koch

04/08/2016 09h36

(Bloomberg) -- As fabricantes de medicamentos Bayer e AbbVie, líderes em saúde da mulher, estão se concentrando em uma doença feminina pouco conhecida que é difícil de diagnosticar e ainda mais de curar.

A endometriose ocorre quando o tecido que normalmente cresce dentro do útero se espalha para fora dele. A dor pode ser tão insuportável que as mulheres não conseguem trabalhar, custando US$ 78 bilhões ao ano em produtividade perdida e despesas médicas apenas nos EUA, segundo a Fundação Mundial de Pesquisa em Endometriose. A doença também é associada a metade dos casos de infertilidade.

A Bayer, maior fabricante de contraceptivos do mundo, e a rival AbbVie enxergam uma oportunidade em um momento em que pacientes e médicos exigem alternativas a medicamentos lançados há décadas, como o Lupron, da AbbVie, e pílulas anticoncepcionais que não foram pensadas para a endometriose e em muitos casos são apenas um paliativo antes da cirurgia.

"Não tem havido muita inovação porque não entendemos suficientemente a doença", disse Hugh Taylor, chefe de ginecologia e obstetrícia do Yale-New Haven Hospital e editor-chefe da revista científica Reproductive Sciences. "É frustrante".

O chefe de inovação da Bayer, Kemal Malik, diz que o vácuo é acidental, não intencional.

"Metade da população mundial são mulheres, mas não são muitas as empresas farmacêuticas que realizam pesquisa e desenvolvimento de doenças femininas", disse Malik. "Não acredito que o setor seja loucamente misógino e não queira desenvolver medicamentos para mulheres. A questão é mais que a ciência, talvez em comparação com outras áreas terapêuticas, não é tão boa".

Como os contraceptivos da Bayer oferecem uma receita sólida, embora baixa, a empresa está se expandindo para novas áreas da ginecologia, mirando antigos inimigos com novos tratamentos para ampliar sua divisão de saúde da mulher. A fabricante de medicamentos alemã está se distanciando de hormônios sintéticos como o Visanne, usado na Europa para diminuir a dor associada à endometriose.

"A pesquisa pré-clínica se concentra em abordagens não hormonais", disse Joachim Marr, chefe de assuntos médicos para a saúde da mulher na Bayer. "É nisso que estão todas as esperanças".

Duas dessas terapias, que utilizam hormônios como alvo, mas não como ingrediente, avançaram para os testes humanos. Uma delas é uma pílula que dificulta a produção de estradiol, reduzindo a inflamação. O outro medicamento experimental se concentra no processo de produção de prolactina, um hormônio encontrado em concentrações maiores nas mulheres com endometriose.

Outras abordagens estão surgindo para oferecer alívio à dor a algumas das 176 milhões de mulheres afetadas pela doença globalmente. O elagolix, um medicamento experimental da AbbVie, está em estágio avançado de testes e poderá ser apresentado para aprovação no ano que vem.

O elagolix pode ser a primeira pílula de uma classe de medicamentos que suprime os hormônios femininos estrógeno e progesterona, de forma similar ao Lupron, uma injeção que gerou US$ 826 milhões em vendas no ano passado. O elagolix seria também o primeiro medicamento aprovado para endometriose nos EUA em mais de 25 anos, disse a AbbVie.

A ObsEva, uma empresa suíça de capital fechado, está usando uma abordagem similar. Seu medicamento, licenciado da japonesa Kissei Pharmaceutical, ajudaria a prevenir ou adiar cirurgias, disse Ernest Loumaye, CEO da ObsEva e ex-ginecologista.