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Está com calor? Claro, somos atingidos por um trilhão de sóis

Eric Roston

12/08/2016 11h57

(Bloomberg) -- Um astrofísico australiano e nove colegas responderam a uma pergunta de importância galáctica para quem gosta de ir à praia: quanto do meu bronzeado pode ser razoavelmente atribuído a estrelas de fora da nossa galáxia?

A boa notícia: quem vai à praia sem proteção recebe 10 bilhões de vezes por segundo fótons originados fora da Via Láctea.

A má notícia: isso representa apenas 10 trilionésimos do que o Sol nos oferece.

As medições, publicadas no Astrophysical Journal, fazem parte de um esforço mais amplo para entender como a matéria e a energia viajam pelo universo e por que o cosmos é estruturado dessa forma. O estudo foi liderado por Simon Driver, do Centro Internacional para Pesquisa em Radioastronomia da Universidade da Austrália Ocidental.

Traduzir uma pesquisa astrofísica séria em algo palatável -- 10 bilhões de fótons! -- é de uma inteligência do outro mundo. O esforço por trás do estudo não foi nada trivial.

O trabalho é uma estimativa de quanta luz originada fora da nossa galáxia, em estrelas ativas há bilhões de anos, nós recebemos. A tarefa é difícil porque a única forma de estimar a "luz de fundo extragalática" é a partir de um lugar profundo na Via Láctea. É mais ou menos como estar embaixo de um poste de luz e tentar medir quanta luz todos os outros postes estão projetando.

Esse sinal de luz é nada menos que "um produto dos processos astrofísicos dominantes que ocorreram nos últimos 13 bilhões de anos em termos de distribuição de energia". Ou seja, um produto da forma como a matéria em combustão nas estrelas emite luz.

A pesquisa se baseou em uma série fenomenal de conjuntos de dados, da luz de alta energia no espectro ultravioleta à infravermelha de baixa energia. Os dados vieram de um elenco estelar de pesos-pesados astronômicos: dos observatórios espaciais Hubble, Spitzer e Herschel e de diversos telescópios importantes em terra.

Boa parte da luz muda em sua jornada, protegendo-nos, pelo menos um pouco, da luz UV que queima a pele. As partículas de poeira das galáxias distantes reduzem os fótons ultravioletas a luz visível ou a energia infravermelha.

"As galáxias em si nos proporcionam um bronzeador natural com um fator de proteção solar perto de dois", disse Rogier Windhorst, da Universidade do Estado do Arizona, nos EUA, em um comunicado.

São poucos os sortudos que vivem perto de praias. A viagem até elas pode parecer mais curta se considerarmos que os menores viajantes -- os fótons extragaláticos -- precisaram de três vezes a idade da Terra para chegar até lá.