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Integrantes do Fed questionam décadas de teoria inflacionária

Matthew Boesler

15/08/2016 12h43

(Bloomberg) -- Ao longo do último ano, integrantes do banco central americano (Federal Reserve) reduziram drasticamente as previsões de alta das taxas de juros, apesar do avanço da inflação e da queda do desemprego.

E então?

Talvez tão importante quanto a maior atenção dada aos problemas externos é a mudança de atitude de integrantes do Fed em relação à inflação. Essa postura sugere maior confiança na sustentação de juros baixos por mais tempo porque há menos preocupação com o descontrole das variações de preços.

O pensamento convencional prega que as tendências inflacionárias dependem muito das expectativas inflacionárias e, em menor extensão, do grau de ociosidade na economia. A importância deste último fator tem sido questionada à medida que a ociosidade diminui na economia dos EUA.

A presidente do Fed, Janet Yellen, afirmou durante discurso em 6 de junho que um mercado de trabalho mais forte geralmente pressionaria a inflação para cima. "Mas tais estimativas são inerentemente imprecisas e o efeito sobre a inflação pode acabar sendo significativamente diferente, para cima ou para baixo, do que eu espero", ela disse.

Expectativas de inflação

As autoridades tentam lidar com a ideia de que tampouco compreendem de fato o que, acreditam, é o fator mais importante na definição da inflação: as expectativas.

Um exemplo é um estudo recente do economista do Fed Jeremy Nalewaik, concluindo que, embora as expectativas de inflação e a inflação de fato fossem profundamente relacionadas antes de meados de 1990, essa correlação se deteriorou notavelmente desde então.

"Os movimentos nas expectativas de inflação agora parecem inconsequentes, pois não têm mais qualquer conteúdo preditivo para realização subsequente de inflação", escreveu Nalewaik. Ele cita como explicação potencial para isso uma hipótese apresentada em um estudo de 2000 que teve como coautor o marido de Janet Yellen, o ganhador do Prêmio Nobel George Akerlof, afirmando que, "quando baixa, a inflação pode ser, no máximo, um fator marginal nas decisões sobre salários e preços e os tomadores de decisão podem ignorá-la totalmente".

As pesquisas de Akerlof e Nalewaik correspondem a sugestões injetadas neste ano no debate sobre juros dentro do Comitê de Mercado Aberto do Fed (FOMC) por James Bullard, responsável pelo escritório regional do Fed em St. Louis.

'Não previsível'

Bullard deixou de apresentar para compilação pelo Fed suas projeções econômicas de prazo mais longo em meados de junho, afirmando em discurso no dia 30 daquele mês que "o momento de uma troca para um regime alternativo é considerado não previsível, então simplesmente prevemos que o atual regime vai persistir".

Para Nalewaik, talvez não seja viável a volta a um mundo em que expectativas de inflação e inflação de fato são proximamente relacionadas, como ocorria antes de meados da década de 1990.

"Estimativas de modelos mostram que seria necessário avanço da inflação segundo a métrica de gastos pessoais acima de 3,3 por cento ou índice de preços ao consumidor acima de 4,0 por cento durante vários anos para produzir uma transição de volta a um regime de inflação de alta variância e alta persistência", afirmou.